ANAIS DO XV ENCONTRO DA ANPOLL 
(NITERÓI, 2000) 


GT A Mulher na literatura
GT Análise do Discurso
GT Crítica Genética
GT Descrição do Português
GT Dramaturgia e Teatro
GT Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa
GT Fonética e Fonologia
GT História da Literatura
GT Historiografia da Lingüística Brasileira
GT Latim e Grego na Universidade Brasileira
GT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia
GT Línguas Indígenas
GT Linguagem e Surdez
GT Lingüística Aplicada
GT Lingüística do Texto e Análise da  Conversação
GT Literatura Comparada
GT Literatura Infantil e Leitura
GT Literatura Oral e Popular
GT Literaturas Estrangeiras
GT Práticas Identitárias na Lingüística Aplicada
GT Psicolingüística
GT Semiótica
GT Sociolingüística
GT Teoria da Gramática
GT Teoria da Narrativa
GT Teoria do Texto Poético
GT Tradução
GT Relações Literárias Interamericanas

 
 
 

 

FUNCIONAMENTO DOS GTS
Cristina Altman*

INTRODUÇÃO

Minha função nesta mesa é trazer para discussão, da forma mais objetiva possível, certos aspectos polêmicos, e ainda controversos, relacionados à dinâmica de funcionamento dos GTs, de modo a avançarmos em conjunto a reflexão sobre a natureza  dos nossos grupos de pesquisa, no âmbito da Associação. Neste sentido, antecipo, já na introdução, aquela que será a grande questão que depreendi das discussões que previamente os coordenadores dos GTs, a meu pedido, entabularam pelo correio eletrônico nessas últimas semanas: qual é, afinal, a função dos GTs na ANPOLL? 

Para isso, as informações obtidas junto aos coordenadores seguem organizadas nos seguintes itens: atual definição estatutária de GT; resoluções 01/1996-1999 sobre o funcionamento dos GTs, do ponto de vista da sua natureza acadêmica, não política; as recomendações que, anteriormente, outros grupos de trabalho fizeram sobre o funcionamento dos GTs. A seguir, no item ‘funcionamento no biênio’, resumo os aspectos que, na perspectiva dos coordenadores atuais dos GTs, funcionaram ou não em relação às expectativas iniciais. 

DEFINIÇÃO ESTATUTÁRIA DE GT

Estatutariamente, os GTs devem se constituir de no mínimo dez pesquisadores de programas de Pós-Graduação devidamente credenciados, ligados a instituições diferentes, pelo menos três. Definidos principalmente a partir de sua vocação acadêmica, espera-se que os GTs tenham como principal função na dinâmica da Associação, além de dar conta do seu funcionamento burocrático: a) selecionar e definir linhas temáticas para o desenvolvimento de pesquisas e 
b) promover o debate e a avaliação dos projetos de pesquisa em andamento. 

RESOLUÇÃO DE 1996-1999

A Resolução 1996-1999, que regulamenta o funcionamento dos GTs, define um GT como uma rede de pesquisadores com interesses e atuação intelectual afins, e recomenda:
a) planos bienais de trabalho;
b) fidelidade a um único GT;
c) apoio financeiro das PGs para o funcionamento da ‘máquina’ dos GTs; apoio das agências de fomento, apoio formal da Associação para realização dos encontros intermediários;
d) utilização dos meios atualmente disponíveis, através da informática, para a interlocução e intercâmbio continuados: criação da homepage da ANPOLL, a ser alimentada, regularmente, com informações fornecidas pelas coordenações dos GTs; criação de listas de pesquisadores intra-GTs, na Internet; criação de revistas eletrônicas dos GTs, para agilizar a divulgação das pesquisas em andamento; 
e) reiteração contínua dos objetivos e prioridades da área pelos membros de cada GT, e exposição de suas conclusões em debates mais amplos nos Encontros Nacionais da ANPOLL; 
f) elaboração, no âmbito dos GTs, de projetos integrados e interinstitucionais. Nesses projetos deverão estar previstas formas de disseminação dos resultados entre os diversos níveis de ensino, bem como a repercussão social do conhecimento produzido.

COMPROMISSOS ASSUMIDOS PELA  ‘CARTA DE NITERÓI’

A Diretoria para o biênio 1998-2000 propôs-se a iniciar consultas a fim de explicitar os critérios de organização/funcionamento que têm informalmente orientado os GTs, para: 
a) evitar a atual indefinição na configuração dos GTs, uma vez que é possível identificar grupos organizados a partir de subáreas, disciplinas, e temas muito amplos, que descaracterizam suas linhas de pesquisa; 
b) fortalecer as políticas de funcionamento e de movimentação interna e externa dos GTs, como forma de divulgação dos avanços na produção e circulação do conhecimento das diversas áreas de Letras e Lingüística, enfatizando a necessidade de os GTs darem conta do ‘estado da arte’ das linhas de pesquisa em torno das quais se organizam; 
c) evitar que os encontros bianuais da ANPOLL acabem por se tornar um conjunto de pequenos congressos simultâneos em que pesquisadores apresentem relatos de trabalhos isolados, ou participem de mesas-redondas de comunicações que não resultem na produção coletiva de ‘arte nova’ (ou pelo menos renovada). 

SONDAGEM: O QUE TERIA SE PASSADO NESSES 2 ANOS?

A média de participantes ativos de cada GT, ou seja, daqueles que efetivamente entram em contato com a coordenação, emitem sugestões, organizam e/ou participam de subgrupos, reuniões regionais é de 20 a 25 pessoas, embora o número de inscritos, ou de cadastrados possa ser maior. Por exemplo, o GT de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa conta com 60 interessados; Literatura Comparada, 88; Fonética e Fonologia, 69; Descrição Português, 50, mas isso não significa que possam contar sempre com esses números de pesquisadores, tanto nos encontros intermediários, quanto nos encontros nacionais. 

Na observação da maioria dos coordenadores que participaram da discussão eletrônica, as atividades mais bem sucedidas, dentre as várias promovidas pelos GTs, foram as que promoveram o interesse dos membros participantes pela reestruturação do funcionamento do seu próprio GT, as que possibilitaram encontros especializados regionais para apresentação de trabalhos com o envio prévio de textos, e os próprios Encontros Nacionais, que permitem a reunião de pesquisadores dispersos pelo país. Em menor escala, também obtiveram sucesso os GTs que promoveram minicursos, sessões de estudo teórico, publicações eletrônicas, homepages. 

Os maiores obstáculos para o bom funcionamento dos GTs, na visão dos mesmos coordenadores, dizem respeito à inconstância na comunicação entre os membros do grupo, ao isolamento institucional e ao que consideram uma cultura acadêmica que privilegia o trabalho individual. Observem-se alguns exemplos: 

“... É preciso dizer que é difícil convencer um colega de que GT é grupo que se organiza para desenvolver estudos e apresentar resultados que tenham saído de uma investigação coletiva em torno de um tema específico.”  (30/5/2000, por correio eletrônico)
“Em verdade, um bom número dos membros do GT não têm ainda uma idéia muito clara do que é pertencer a um GT e vêem a ANPOLL como uma associação aonde se vai, de dois em dois anos, apresentar o resultado de uma pesquisa mais ou menos vinculada ao tema central do GT.” (30/5/2000, por correio eletrônico)
É opinião freqüente entre os debatedores que o ‘modelo congresso’ dos Encontros da ANPOLL, que favorece as comunicações avulsas, e acentua as dificuldades, na medida em que não provê tempo para o aprofundamento das discussões, divide os pesquisadores por grandes linhas temáticas, indefinidas, e não permite o estabelecimento de verdadeiras parcerias inter-GTs.

Não parece clara a todos a proposta de que os GTs da ANPOLL não pretendem ser uma maratona da qual se participa de 2 em 2 anos, apresentando, ‘a toque de caixa’, um trabalho ‘temático’.

A impiedosa autocrítica de alguns coordenadores não impede, entretanto, que a maioria deles reconheça que o ideal a ser buscado pelos GTs deve ser a realização de pesquisas integradas inter-institucionais e inter-estaduais, que propiciem diálogos inter-áreas do conhecimento, ou, ao menos, trabalhos coletivos orientados para problemas mais específicos. 

SUGESTÕES

Para outros, essas questões estruturais só se resolveriam com a mudança da organização interna da própria ANPOLL, em que coordenadores regionais promoveriam encontros setoriais regulares, menores, que permitissem verdadeiramente a obtenção de tempo para discussão/articulação teórica, conceptual, metodológica.

Observe-se o seguinte comentário: 

“[se nos concentrássemos em torno de um tema específico] todo o esforço intelectual estaria concentrado em um problema com suas vastas ramificações e poderíamos melhor detectar e desenvolver novos campos de conhecimentos, implementar novas políticas científicas para cada subárea”. (30/5/2000, por correio eletrônico) 
Entendendo-se por ação política dos GTs a ação conduzida a partir de planos elaborados com antecedência, em que a relevância das linhas de pesquisa em atividade seja discutida também em termos de ‘indução’, ou ‘condução’, seria possível estabelecer, para cada temática, fronteiras e padrões compartilhados de qualidade e excelência.

CONSIDERAÇÕES (PROVISORIAMENTE) FINAIS

As discussões em plenária não foram conclusivas, e uma resposta minimamente consensual sobre ‘qual a função do GT na ANPOLL’ ainda está longe de ser elaborada.

Entretanto, o que a plenária pareceu reiterar resume-se aos seguintes pontos: 1) é nítida, embora indesejável, a defasagem entre a atuação política dos GTs e sua atuação acadêmica;  2) não está claro o que se espera de cada GT como ‘produto final’; 3) também não está clara a questão da representatividade temática das áreas envolvidas, nem dos processos de seletividade, seja de membros, seja de temas específicos, utilizados por cada GT; 4) não há participação efetiva dos membros dos GTs, como grupo, no campo político, na medida em que não têm direito a voto nas Assembléias e não interferem coletivamente no desenvolvimento das áreas, principalmente por falta suporte financeiro.

Em suma, é voz geral que os Encontros Nacionais devem ser preservados, desde que se pense em estratégias de reorganização que propiciem um espaço maior aos GTs e que se renovem, na medida do possível, seus representantes nas plenárias, bem como os membros das Diretorias. Permanece, ainda que de forma polêmica, a proposta de que os GTs (re)adquiram o direito de voto nas Assembléias. 



* Texto apresentado no XV Encontro Nacional da ANPOLL, Niterói/ 2000.