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FUNCIONAMENTO DOS GTS
Cristina Altman*
INTRODUÇÃO
Minha função nesta
mesa é trazer para discussão, da forma mais objetiva possível,
certos aspectos polêmicos, e ainda controversos, relacionados à
dinâmica de funcionamento dos GTs, de modo a avançarmos em
conjunto a reflexão sobre a natureza dos nossos grupos de
pesquisa, no âmbito da Associação. Neste sentido, antecipo,
já na introdução, aquela que será a grande
questão que depreendi das discussões que previamente os coordenadores
dos GTs, a meu pedido, entabularam pelo correio eletrônico nessas
últimas semanas: qual é, afinal, a função dos
GTs na ANPOLL?
Para isso, as informações
obtidas junto aos coordenadores seguem organizadas nos seguintes itens:
atual definição estatutária de GT; resoluções
01/1996-1999 sobre o funcionamento dos GTs, do ponto de vista da sua natureza
acadêmica, não política; as recomendações
que, anteriormente, outros grupos de trabalho fizeram sobre o funcionamento
dos GTs. A seguir, no item ‘funcionamento no biênio’, resumo os aspectos
que, na perspectiva dos coordenadores atuais dos GTs, funcionaram ou não
em relação às expectativas iniciais.
DEFINIÇÃO ESTATUTÁRIA
DE GT
Estatutariamente, os GTs devem
se constituir de no mínimo dez pesquisadores de programas de Pós-Graduação
devidamente credenciados, ligados a instituições diferentes,
pelo menos três. Definidos principalmente a partir de sua vocação
acadêmica, espera-se que os GTs tenham como principal função
na dinâmica da Associação, além de dar conta
do seu funcionamento burocrático: a) selecionar e definir linhas
temáticas para o desenvolvimento de pesquisas e
b) promover o debate e a avaliação
dos projetos de pesquisa em andamento.
RESOLUÇÃO DE 1996-1999
A Resolução 1996-1999,
que regulamenta o funcionamento dos GTs, define um GT como uma rede de
pesquisadores com interesses e atuação intelectual afins,
e recomenda:
a) planos bienais de trabalho;
b) fidelidade a um único
GT;
c) apoio financeiro das PGs
para o funcionamento da ‘máquina’ dos GTs; apoio das agências
de fomento, apoio formal da Associação para realização
dos encontros intermediários;
d) utilização
dos meios atualmente disponíveis, através da informática,
para a interlocução e intercâmbio continuados: criação
da homepage da ANPOLL, a ser alimentada, regularmente, com informações
fornecidas pelas coordenações dos GTs; criação
de listas de pesquisadores intra-GTs, na Internet; criação
de revistas eletrônicas dos GTs, para agilizar a divulgação
das pesquisas em andamento;
e) reiteração
contínua dos objetivos e prioridades da área pelos membros
de cada GT, e exposição de suas conclusões em debates
mais amplos nos Encontros Nacionais da ANPOLL;
f) elaboração,
no âmbito dos GTs, de projetos integrados e interinstitucionais.
Nesses projetos deverão estar previstas formas de disseminação
dos resultados entre os diversos níveis de ensino, bem como a repercussão
social do conhecimento produzido.
COMPROMISSOS ASSUMIDOS PELA
‘CARTA DE NITERÓI’
A Diretoria para o biênio
1998-2000 propôs-se a iniciar consultas a fim de explicitar os critérios
de organização/funcionamento que têm informalmente
orientado os GTs, para:
a) evitar a atual indefinição
na configuração dos GTs, uma vez que é possível
identificar grupos organizados a partir de subáreas, disciplinas,
e temas muito amplos, que descaracterizam suas linhas de pesquisa;
b) fortalecer as políticas
de funcionamento e de movimentação interna e externa dos
GTs, como forma de divulgação dos avanços na produção
e circulação do conhecimento das diversas áreas de
Letras e Lingüística, enfatizando a necessidade de os GTs darem
conta do ‘estado da arte’ das linhas de pesquisa em torno das quais se
organizam;
c) evitar que os encontros
bianuais da ANPOLL acabem por se tornar um conjunto de pequenos congressos
simultâneos em que pesquisadores apresentem relatos de trabalhos
isolados, ou participem de mesas-redondas de comunicações
que não resultem na produção coletiva de ‘arte nova’
(ou pelo menos renovada).
SONDAGEM: O QUE TERIA SE PASSADO
NESSES 2 ANOS?
A média de participantes
ativos de cada GT, ou seja, daqueles que efetivamente entram em contato
com a coordenação, emitem sugestões, organizam e/ou
participam de subgrupos, reuniões regionais é de 20 a 25
pessoas, embora o número de inscritos, ou de cadastrados possa ser
maior. Por exemplo, o GT de Estudos Comparados de Literaturas de Língua
Portuguesa conta com 60 interessados; Literatura Comparada, 88; Fonética
e Fonologia, 69; Descrição Português, 50, mas isso
não significa que possam contar sempre com esses números
de pesquisadores, tanto nos encontros intermediários, quanto nos
encontros nacionais.
Na observação
da maioria dos coordenadores que participaram da discussão eletrônica,
as atividades mais bem sucedidas, dentre as várias promovidas pelos
GTs, foram as que promoveram o interesse dos membros participantes pela
reestruturação do funcionamento do seu próprio GT,
as que possibilitaram encontros especializados regionais para apresentação
de trabalhos com o envio prévio de textos, e os próprios
Encontros Nacionais, que permitem a reunião de pesquisadores dispersos
pelo país. Em menor escala, também obtiveram sucesso os GTs
que promoveram minicursos, sessões de estudo teórico, publicações
eletrônicas, homepages.
Os maiores obstáculos
para o bom funcionamento dos GTs, na visão dos mesmos coordenadores,
dizem respeito à inconstância na comunicação
entre os membros do grupo, ao isolamento institucional e ao que consideram
uma cultura acadêmica que privilegia o trabalho individual. Observem-se
alguns exemplos:
“... É preciso
dizer que é difícil convencer um colega de que GT é
grupo que se organiza para desenvolver estudos e apresentar resultados
que tenham saído de uma investigação coletiva em torno
de um tema específico.” (30/5/2000, por correio eletrônico)
“Em verdade, um bom
número dos membros do GT não têm ainda uma idéia
muito clara do que é pertencer a um GT e vêem a ANPOLL como
uma associação aonde se vai, de dois em dois anos, apresentar
o resultado de uma pesquisa mais ou menos vinculada ao tema central do
GT.” (30/5/2000, por correio eletrônico)
É opinião freqüente
entre os debatedores que o ‘modelo congresso’ dos Encontros da ANPOLL,
que favorece as comunicações avulsas, e acentua as dificuldades,
na medida em que não provê tempo para o aprofundamento das
discussões, divide os pesquisadores por grandes linhas temáticas,
indefinidas, e não permite o estabelecimento de verdadeiras parcerias
inter-GTs.
Não parece clara a todos
a proposta de que os GTs da ANPOLL não pretendem ser uma maratona
da qual se participa de 2 em 2 anos, apresentando, ‘a toque de caixa’,
um trabalho ‘temático’.
A impiedosa autocrítica
de alguns coordenadores não impede, entretanto, que a maioria deles
reconheça que o ideal a ser buscado pelos GTs deve ser a realização
de pesquisas integradas inter-institucionais e inter-estaduais, que propiciem
diálogos inter-áreas do conhecimento, ou, ao menos, trabalhos
coletivos orientados para problemas mais específicos.
SUGESTÕES
Para outros, essas questões
estruturais só se resolveriam com a mudança da organização
interna da própria ANPOLL, em que coordenadores regionais promoveriam
encontros setoriais regulares, menores, que permitissem verdadeiramente
a obtenção de tempo para discussão/articulação
teórica, conceptual, metodológica.
Observe-se o seguinte comentário:
“[se nos concentrássemos
em torno de um tema específico] todo o esforço intelectual
estaria concentrado em um problema com suas vastas ramificações
e poderíamos melhor detectar e desenvolver novos campos de conhecimentos,
implementar novas políticas científicas para cada subárea”.
(30/5/2000, por correio eletrônico)
Entendendo-se por ação
política dos GTs a ação conduzida a partir de planos
elaborados com antecedência, em que a relevância das linhas
de pesquisa em atividade seja discutida também em termos de ‘indução’,
ou ‘condução’, seria possível estabelecer, para cada
temática, fronteiras e padrões compartilhados de qualidade
e excelência.
CONSIDERAÇÕES
(PROVISORIAMENTE) FINAIS
As discussões em plenária
não foram conclusivas, e uma resposta minimamente consensual sobre
‘qual a função do GT na ANPOLL’ ainda está longe de
ser elaborada.
Entretanto, o que a plenária
pareceu reiterar resume-se aos seguintes pontos: 1) é nítida,
embora indesejável, a defasagem entre a atuação política
dos GTs e sua atuação acadêmica; 2) não
está claro o que se espera de cada GT como ‘produto final’; 3) também
não está clara a questão da representatividade temática
das áreas envolvidas, nem dos processos de seletividade, seja de
membros, seja de temas específicos, utilizados por cada GT; 4) não
há participação efetiva dos membros dos GTs, como
grupo, no campo político, na medida em que não têm
direito a voto nas Assembléias e não interferem coletivamente
no desenvolvimento das áreas, principalmente por falta suporte financeiro.
Em suma, é voz geral
que os Encontros Nacionais devem ser preservados, desde que se pense em
estratégias de reorganização que propiciem um espaço
maior aos GTs e que se renovem, na medida do possível, seus representantes
nas plenárias, bem como os membros das Diretorias. Permanece, ainda
que de forma polêmica, a proposta de que os GTs (re)adquiram o direito
de voto nas Assembléias.
* Texto apresentado no XV Encontro
Nacional da ANPOLL, Niterói/ 2000. |