Introdução
 
A paixão de aprender uma língua estrangeira

Este livro foi escrito por alguém que sempre se sentiu seduzido pelo mistério da língua estrangeira (LE doravante). Não se trata de uma segunda língua, falada pelo vizinho que mora do outro lado da rua ou por colegas da sala de aula; e nem se trata de uma língua adicional, dada por acréscimo e sem mistério. No meu caso, eram línguas estrangeiras mesmo, estranhas no som e na combinação das palavras, prometendo mundos distantes que eu estava ansioso por conhecer.


Um dos prazeres de minha juventude era economizar uns trocados para poder passar numa boa banca de revistas e escolher um jornal em espanhol, uma revista em francês ou um livro de bolso em inglês.   Muitas noites passei com o ouvido colado no rádio de ondas curtas, buscando estações do mundo inteiro e ouvindo noticiários em línguas diferentes.  Quando ia ao cinema, buscava não só aqueles que apresentavam o filme que eu queria ver, mas também aqueles que tinham o melhor equipamento de som, para que eu pudesse entender o que as pessoas falavam.  Não tinha preferência por uma ou outra língua; gostava de todas – sem a mínima preocupação de saber se minha mente estava ou não sendo colonizada.  Tinha não só os olhos e ouvidos abertos, mas também a mente e o coração.
Com essa abertura total, sem qualquer tipo de filtro ou proteção, é inevitável que eu tenha sido contaminado por algum vírus, provavelmente um “Cavalo de Tróia” – daquele tipo que entra disfarçado no organismo, carregando dentro de si o inimigo.  Vou me esforçar para mostrar os conflitos e os perigos que enfrentamos ao aprender uma língua estrangeira, mas, como acabei ficando totalmente seduzido pelo que vou abordar neste livro –  o ensino e a aprendizagem da língua estrangeira –,  sinto que a visão, lá no fim, será pacificadora. 

Do estranhamento ao entranhamento

Ao me deixar levar pela paixão das línguas estrangeiras, descobri também que sua aprendizagem não é fácil. Trata-se de uma façanha tão extraordinária que muitos não conseguem realizá-la por mais que se empenhem. Dominar uma língua com proficiência pode levar muitos anos ou mesmo uma    vida inteira.  Não conheço alguém que tenha se arrependido de ter aprendido uma língua estrangeira, mas conheço alguns que teriam desistido se soubessem que seria tão difícil.


Essa dificuldade surge, em primeiro lugar, da necessidade de modificar os automatismos básicos que construímos ao longo dos anos de uso da língua materna e, em segundo lugar, da própria complexidade do que é aprender uma LE.  Em relação direta com a mudança dos automatismos, há os estranhamentos iniciais que devem ser vencidos, incluindo sons que precisam ser percebidos, mas que escapam ao nosso ouvido ou que precisam ser articulados, mas que nos parecem impronunciáveis.

A tarefa de aprender uma LE envolve também uma reestruturação múltipla, que repercute em diferentes domínios da nossa mente.  No domínio cognitivo, as relações que tranquilamente acreditávamos existir entre as frases e o mundo, deixam de existir.   Se em português dizemos “bom dia” antes do almoço e “boa tarde” depois, temos que aprender que em francês se diz “bom dia” de manhã e de tarde.  No domínio afetivo, aquilo que amávamos pode tornar-se execrável e vice-versa.  Nossa própria ideologia entra em rota de colisão com o mundo da LE em áreas que julgávamos insuspeitas, incluindo diferentes relações de poder, novas questões éticas, distanciamentos maiores e menores entre os corpos etc.

Descobrimos que o domínio de uma LE não é um conhecimento a mais que se adquire e que se soma ao que já temos, como se fosse uma mercadoria acrescentada ao patrimônio.  O que é estrangeiro e, portanto, estranho a nós, precisa penetrar na nossa intimidade, provocando um entranhamento que mexe na nossa estrutura psicomotora, afetiva, cognitiva e social.

Essa passagem do estranhamento para o entranhamento é muito mais difícil do que faz acreditar a publicidade de alguns cursinhos e livros didáticos, às vezes prometendo o domínio da LE em menos de um ano, com uma hora de estudo por dia.  Não há uma fórmula mágica que produza um resultado tão rápido, a não ser, talvez, a paixão.
 
Delimitando o território

A complexidade da LE abrange diferentes domínios do conhecimento, não só do ponto de vista individual, mas também do ponto de vista coletivo, como ciência interdisciplinar.  São dois universos que se desdobram e que precisam ser estudados em dois planos diferentes: um que está dentro de nós, entranhado em nossa mente – envolvendo, como já vimos, os domínios cognitivo, afetivo e psicomotor –, e um outro, externo a nós, envolvendo áreas de conhecimento como a Linguística, Linguística Aplicada, Psicologia, Pedagogia, Antropologia etc.


Escrever um livro sobre o ensino e aprendizagem da LE é mapear esses dois universos: o interno, com endereço impreciso, mas residente em algum lugar do nosso cérebro; e o externo, disseminado por diferentes disciplinas, o que dá o caráter essencialmente transdisciplinar da área.  Um mapeamento adequado exige, portanto, o estabelecimento de fronteiras para que se possa definir com alguma precisão o que pertence ou não pertence à LE.

Identificar as fronteiras de cada um desses universos já é, em si, uma tarefa desafiadora, mas é apenas o primeiro passo.  O outro, mais importante e necessário pela extensão da área, é selecionar os tópicos que não podem faltar num livro sobre o ensino da LE, escrito numa determinada época e num determinado lugar.  O desafio aqui é determinar a nacionalidade dos tópicos, principalmente quando fronteiriços, trazendo-os para a LE quando relevantes para a área, ou deixando-os do outro lado da fronteira quando não forem essenciais.  Parto aqui do princípio de que é melhor abranger menos e aprofundar mais, saindo da superfície e perfurando o terreno, do que abranger mais e aprofundar menos, ficando na superfície e não construindo uma base sólida.

Pretende-se fazer essa demarcação usando dois pontos de referência: o ensino e a aprendizagem.  Mostra-se de um lado a perspectiva do professor, com ênfase no ensino, visto como a oferta de condições para que a aprendizagem ocorra; do outro, está a perspectiva do aluno e de como ele percebe essa aprendizagem que lhe é oferecida.  Enquanto o professor tem um ponto de referência mais ou menos fixo, o aluno se caracteriza pela mobilidade, marcada pela sua evolução no processo de aprendizagem.  O aluno da escola fundamental, por exemplo, não pode ser visto da mesma maneira que o aluno universitário.
 
A questão do ensino

Na primeira parte do livro, enfoco alguns problemas do ensino da LE, partindo da perspectiva do professor.  A ideia, nestes sete capítulos iniciais, é situar o professor de línguas estrangeiras nos diferentes espaços que ele pode ocupar: do histórico ao geográfico e do metodológico ao político.  Tento refletir sobre algumas questões essenciais, incluindo as opções metodológicas disponíveis ao professor, o que é um professor ideal, a formação política do professor, a produção de materiais de ensino e a evolução do ensino de línguas, procurando mostrar, essencialmente, de onde viemos, onde estamos e para onde vamos.


O Capítulo 1, Do método ao pós-método: a evolução no ensino de línguas, trata da questão do método.  Tento resgatar aí o essencial do que já foi feito e o que está sendo proposto sobre a ciência e a arte de se ensinar uma LE, mostrando o caminho percorrido pelos diferentes métodos.  A meu ver, evoluímos da ideia do método único para uma convivência mais saudável de diferentes maneiras de ensinar e aprender.  A verdade não está mais contida numa capela fechada, inacessível aos que não aderirem a uma determinada cartilha, mas transborda e se espalha por diferentes teorias.  Considero este capítulo um texto de fundamentação teórica, abordando o que é básico para qualquer reflexão sobre a área.

O Capítulo 2, O ensino das línguas estrangeiras no Brasil, aborda a questão do ensino da LE em nosso país em sua evolução histórica, mostrando o contorno de ascensão e queda da LE na escola.  A história da LE no Brasil parece ser marcada por diferentes movimentos pendulares, indo de um extremo a outro.  Tento resgatar aí algumas dessas dicotomias, mostrando os momentos de centralização e descentralização, os períodos de construção e destruição – e as difíceis reconstruções para recuperar os prejuízos causados por determinadas legislações.  Inicio neste capítulo algumas questões que serão retomadas mais tarde, como a questão política do ensino de línguas e o uso das novas tecnologias.

O Capítulo 3, O professor ideal, enfoca a questão das qualidades desejáveis do professor de línguas estrangeiras.  Inicialmente teço algumas considerações sobre teorias que aparentemente conspiram contra a ação do professor, diminuindo sua importância, como a ideia, por exemplo, de que o professor não sabe o que ensina ou de que a verdadeira aprendizagem não pode ser implementada pelo professor, na medida em que ocorre abaixo do nível da consciência.  Tento mostrar que ao lado de uma ênfase no papel do inconsciente, existe um movimento contrário, de valorização da consciência, incluindo a ideia de que o professor deva ser um profissional reflexivo.  Faço uma revisão da literatura sobre as competências desejáveis do professor, em termos do conteúdo, da metodologia e dos traços de personalidade que ele deve possuir para facilitar a aprendizagem.  Finalmente, destaco e amplio dessa literatura algumas competências essências, com ênfase no domínio afetivo.

A que interesses deve servir o professor de línguas estrangeiras? Esta é a pergunta que tento responder no Capítulo 4, Aspectos políticos da formação do professor de línguas estrangeiras, destacando a importância da formação política do professor. Parto do pressuposto de que o ensino da língua estrangeira envolve um conflito de interesses que o professor precisa saber resolver – e proponho um novo paradigma de prioridades, usando como exemplo o ensino da língua inglesa para alunos brasileiros. Tento argumentar que o inglês na atualidade – como é também, até certo ponto, o espanhol e como foi o francês no passado – não são línguas nacionais, mas multinacionais; e por isso requerem uma abordagem diferente.  Essa abordagem diferente deve permitir, por exemplo, que se escolha uma determinada variedade da língua, até mesmo uma variedade local, quando disponível;  como a opção pelo “inglês brasileiro”, por exemplo.

O professor não precisa estar sempre presente para atuar; ele pode também atuar na ausência, através de algum artefato, como um texto ou uma folha de exercícios.  Este é o tópico do Capítulo 5, Como produzir materiais para o ensino de línguas, em que trato da produção de materiais de ensino pelo professor.  A ideia é mostrar que, ao produzir seu próprio material, o professor tem mais condições de atender aos interesses e necessidade de seus alunos.  Tenta-se oferecer ao professor um roteiro básico do que ele precisa fazer para ampliar sua ação didática, retomando alguns conceitos clássicos do ensino, como a taxionomia dos objetivos de Bloom, os eventos instrucionais de Gagné e o modelo clássico da motivação, envolvendo atenção, relevância, confiança e satisfação.   Consideram-se também alguns aspectos básicos da produção de materiais como o ensino mediado pelo instrumento e o uso de materiais autênticos.

O Capítulo 6, O ensino da LE na era da cibercultura, é uma tentativa de descrever o ensino da língua estrangeira na era da globalização e da internet, retomando algumas questões que considero fundamentais, como a dicotomia entre realidade e virtualidade, a criação das comunidades virtuais, não mais baseadas em fronteiras geográficas, mas em fronteiras ocupacionais, e o impacto que tudo isso traz para o ensino da LE, na medida em que cria e aumenta a necessidade de aprender outras línguas.  A virtualidade é apresentada aqui, não como oposição à realidade, mas como uma forma de materialização do virtual. Argumenta-se que, ao lado de uma “realidade virtual”, temos também uma “virtualidade real”.  Todo esse contexto lança para o professor um desafio maior, que é preparar o aluno, não para o mundo em que vivemos hoje mas para o mundo em que o aluno vai viver amanhã.

O Capítulo 7, O ensino da LE no futuro, encerra a primeira parte do livro.  Analisando os dados que temos sobre o passado e do que sabemos sobre o presente, tento identificar alguns padrões recursivos para fazer uma projeção sobre o futuro do ensino da língua estrangeira.  Entendo que estamos encerrando um período de dicotomias, finalmente vencendo a síndrome do pêndulo, para iniciar uma era de convergências, numa posição assumidamente otimista. Vislumbro para o futuro um processo generalizado de convergências, fundindo tecnologias, métodos e teorias.  Entre as possíveis convergências destaco a união da pesquisa com o ensino, da inteligência com a emoção, do local com o global e do real com o virtual.  A ideia é de que vivemos num mundo interdependente onde tudo e todos se relacionam.
 
A questão da aprendizagem

A segunda parte do livro enfoca a aprendizagem da LE da perspectiva do aluno, tentando descrever como ele vê essa aprendizagem, as estratégias que usa para resolver os problemas que encontra, como lê, como escreve e como administra sua própria aprendizagem.   

O Capítulo 8, A perspectiva do aluno da escola fundamental, tenta descrever qual é a visão que o aluno tem da língua estrangeira antes de começar a estudá-la.  É uma pesquisa de campo em que se analisam quatro aspectos: que conceito o aluno tem da LE, o que é um falante da LE, como se aprende uma LE e, finalmente, para que serve aprender uma determinada LE.  A principal conclusão desse estudo é que os alunos veem a LE como uma disciplina do currículo, usada basicamente na sala de aula e não como um instrumento de comunicação usado na vida real por pessoas em situações autênticas de uso.

Enquanto o Capítulo 8 analisou a perspectiva do aluno antes de estudar a língua, o Capítulo 9, A perspectiva do aluno universitário, vai analisar a concepção de LE do aluno que passou por vários anos de estudo.  Selecionou-se um grupo de alunos que eram leitores proficientes da língua estrangeira e solicitou-se a esse grupo que individualmente ajudasse um colega menos proficiente a entender um texto em língua inglesa, escrevendo um diário sobre a experiência.  A análise dos diários mostrou que os leitores proficientes da LE, nunca expostos a aulas de inglês instrumental, têm uma concepção de leitura muito próxima do que dizem os teóricos da área, incluindo o uso dos processos de inferenciação para resolver as dificuldades do léxico.  Veem como fatores importantes da compreensão, no entanto, tanto a competência linguística como a competência estratégica, sem priorizar uma ou outra.

O Capítulo 10, A leitura da outra língua: uma crítica das estratégias, retoma essa questão da necessidade maior ou menor da competência estratégica em contraponto com a competência linguística.   Faço uma revisão de como as estratégias têm sido usadas pelos especialistas da área da leitura; desde o que chamo de abordagem quantitativa, em que o sucesso do leitor vai depender de sua proficiência no uso de diversas estratégias; passando por abordagens qualitativas, com ênfase na ideia de que há estratégias certas e erradas; até a hipótese da compensação de Stanovich (1980), segundo a qual o déficit que o leitor possa ter em alguma área de conhecimento (ex.: lexical) tem a possibilidade de ser compensado pelo domínio de uma outra área (ex.: conhecimento do tópico).

O Capítulo 11, Texto autêntico e interdisciplinaridade em língua instrumental: Utopia ou realidade? aborda a questão das línguas instrumentais, com os problemas que o seu ensino traz para o professor e para o aluno.  Embora eu não defenda o uso de textos simplificados – e até concordo com a ideia de que se deva simplificar a tarefa e não o texto – mesmo assim sinto a necessidade de chamar a atenção para as dificuldades do texto autêntico quando usado na sala de aula, tanto para o professor como para o aluno.  O professor porque precisa ler e entender um texto que normalmente não é de sua área de conhecimento; o aluno porque geralmente acaba lendo um texto que na realidade não foi escrito para ele – e que por isso deixa de ser um texto autêntico.  Algumas possíveis soluções são apresentadas, com suas respectivas vantagens e desvantagens.

No Capítulo 12, O processo de autorrevisão na produção do texto em língua estrangeira, procuro analisar como o aluno universitário escreve na língua estrangeira.   O processo da revisão, importante na produção de texto em língua materna, é ainda mais importante na LE, pelas dificuldades maiores que apresenta, demandando mais esforço do aluno para superar os problemas encontrados, principalmente de ordem linguística.   Embora os alunos aparentemente não revisem seus textos de modo espontâneo, ficando apenas no “passar a limpo”, com algumas alterações que se resumem a aspectos de apresentação gráfica e correção gramatical do texto, o estudo realizado aqui mostrou, que quando obrigados a reescrever novamente todo o texto, esses mesmos alunos introduzem mudanças significativas, principalmente na expressão das ideias – quer corrigindo incoerências, quer melhorando o estilo.

O Capítulo 13, Escrevendo para a comunidade científica: o desafio de ser original de acordo com as normas, abordo a questão da escrita no nível do mestrado, quando o aluno passa pelo “batismo de fogo”, ao ser obrigado a produzir uma dissertação e entrar na comunidade discursiva dos especialistas de sua área.  Trata-se, portanto, de um processo de aculturação, que procuro descrever em 5 passos essenciais que o aluno precisa galgar: (1) adquirir competência na língua estrangeira, geralmente visto como um pré-requisito; (2) familiarizar-se com a terminologia privilegiada pela comunidade; (3) apropriar-se do conhecimento compartilhado pressuposto pelos especialistas da comunidade; (4) adquirir as convenções que determinam o discurso específico da comunidade em questão; (5) identificar os objetivos da comunidade, que podem ter uma orientação mais teórica ou mais prática.  Enfatizo no capítulo a importância da criação de comunidades solidárias de pesquisadores, em os alunos possam não só interagir com os mestres, mas também apoiar-se uns nos outros.

No Capítulo 14, Aspectos externos e internos da aquisição lexical, analiso a questão de como o aluno pode desenvolver o vocabulário, com ênfase na tensão que se estabelece entre a palavra, com seu significado pré-definido, e as forças do texto, ressignificando a própria palavra.  Entender até onde vai o sentido da palavra e até onde predominam as restrições do texto é uma das competências que o aluno precisa adquirir para usar a língua adequadamente.  Várias estratégias para o desenvolvimento do vocabulário são também apresentadas, ressaltando a importância da profundidade de processamento, o uso adequado do contexto, a necessidade de ser seletivo e as estratégias de fixação.  A ideia geral do capítulo é de que o vocabulário é um aspecto importante na aprendizagem de uma língua, mas que só faz sentido quando se leva em consideração as restrições do texto.

Finalmente, no Capítulo 15, A autonomia na aprendizagem de línguas, abordo a questão do aluno autônomo, capaz de gerenciar sua própria aprendizagem.   Parto do princípio de que o mundo atual conspira contra a autonomia.   Teoricamente, tanto na Psicologia, como na Linguística e principalmente na Análise do Discurso, há a ideia generalizada de aniquilamento do sujeito.  Além das restrições teóricas, há também as restrições práticas, tanto de parte do aluno, como do professor e da escola.  Em que pese todas essas restrições, tento mostrar a necessidade que o aluno tem de ir além do que é dado na escola, o que só é possível com o exercício da autonomia.
 
A sedução da LE

Há mais coisas sobre o ensino e aprendizagem de uma LE do que está exposto neste livro.  Como qualquer texto, há também aqui lacunas que o leitor precisa preencher para completar a obra.


O que se oferece na realidade é um balizamento, colocando plataformas sobre um território que considero vasto, movediço e até perigoso.  A aprendizagem de uma língua estrangeira mexe não apenas com nossa inteligência e sentimentos mais íntimos, mas também com relações de poder entre os países – envolvendo amores e ódios, autonomia e submissão, conquistas e frustrações.  A aprendizagem de uma língua estrangeira atravessa o indivíduo e a sociedade.  Tudo isso é abordado neste livro, mas não pode ser feito de modo exaustivo.  Por isso, optou-se pela construção de plataformas; a travessia entre uma plataforma e outra fica sob a responsabilidade do leitor.

Na imagem bíblica da Torre de Babel, as línguas estrangeiras foram criadas para castigar e confundir as pessoas.  O objetivo secreto, ingênuo e quase inconfessável deste livro é fazer o contrário; destruir a torre, aproximar as pessoas e mostrar o fascínio de aprender a língua do outro.