UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS

 

O PAPEL DA MOTIVAÇÃO NO APRENDIZADO DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA NA ESCOLA PÚBLICA

 

MARCUS FERREIRA DA SILVA

 

RESUMO

PALAVRAS-CHAVE: MOTIVAÇÃO –INTERAÇÃO –AUTONOMIA

 

            Por ser tão amplamente usado como língua internacional, cada vez mais os pais desejam que seus filhos aprendam inglês.  E os alunos, por sua vez, vêem esse idioma como a língua dos computadores, dos negócios, da  tecnologia e da ciência em geral.

            Como o domínio dessa língua está se tornando cada vez mais necessário na vida adulta, é fundamental que os alunos tenham êxito nessa habilidade. Há uma maior probabilidade de os jovens se dedicarem ao aprendizado de inglês hoje em dia, pois estão cientes da importância desse idioma no mundo atual, embora na prática, o ensino da língua inglesa, como língua estrangeira, dependa diretamente da manutenção da motivação.

            Não há mais aquela falsa idéia de que só utilizaríamos a língua inglesa se fôssemos ao exterior. Essa idéia errônea tornava o aprendizado de inglês uma coisa hipotética e que poucos conseguiam atingir. Hoje, é possível vivenciar a língua inglesa diariamente através dos meios de comunicação, onde quer que estejamos, o que torna o processo de ensino-aprendizagem, muito mais real e significativo.

            Não é fácil ensinar disciplina alguma na escola, principalmente quando essa disciplina é a língua inglesa, que apresenta algumas especificidades: não é o nosso idioma nativo e não o necessitamos para vivenciarmos situações reais do nosso cotidiano, embora ela venha tornando-se cada vez mais importante e útil como língua internacional. 

            A aula comunicativa de inglês exige motivação e interesse verdadeiros, que tratem de informações reais e autênticas. Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas na área da motivação como fator fundamental no aprendizado de línguas estrangeiras. Gardner (1985 apud Gass e Selinker,1997) afirmam que atitudes positivas e motivação estão relacionadas diretamente com o sucesso. Não sabemos se é a motivação que produz um aprendizado bem sucedido, ou, se pelo contrário, é um aprendizado bem sucedido que produz motivação.

            Certamente quando atingimos objetivos, sentimo-nos altamente motivados. Resta-nos saber, como motivar nossos alunos e mantê-los motivados para que alcancem suas metas.

            Há vários tipos de aprendizes de línguas. Alguns vêem seus erros como desafios a serem enfrentados e, através da dedicação e empenho em aprender, vencem obstáculos facilmente. Outros, contudo, sentem-se ameaçados e enfraquecidos ao se depararem com  barreiras. Esse segundo perfil de aprendiz exige mais dedicação e preparo do professor, pois ele deverá estar sempre alerta para motivar e facilitar o aprendizado. Daí meu interesse em investigar a importância da motivação como fator preponderante na aprendizagem de uma língua estrangeira, para que sirva de suporte para atender os diferentes estilos de aprendizagem. 

            A motivação pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso.  Se estivermos motivados, tendemos a aprender mais facilmente. A motivação pode ser adquirida? Pode ser ensinada?  De onde vem?  Existem diferentes tipos de motivação?  Qual a diferença entre  motivação intrínseca e extrínseca ? 

            Uma boa definição para motivação parece ser a seguinte: motivação é o grau de esforço despendido para atingir um objetivo.  Behavioristas como Skinner e Watson defendiam o papel da recompensa e punições.  O Behaviorismo foi a teoria da aprendizagem dos anos 50 e 60.  Segundo essa teoria, o aprendizado de línguas é como qualquer outro tipo de aprendizagem, o qual envolve formação de hábito.  Hábitos são formados quando os aprendizes respondem a um estímulo no meio ambiente e conseqüentemente recebem reforço, resposta, por isso são lembrados.  Dessa forma, um hábito é a conexão entre o estímulo e a resposta.  Acreditava-se que todo o comportamento, incluindo o complexo comportamento encontrado na aprendizagem de línguas, poderia ser explicado pelo hábito.

            Segundo Brown (1968) um behaviorista definiria motivação como sendo a antecipação do reforço, do feedback positivo.  Não há dúvida de que a maioria das coisas que fizemos é motivada visando uma recompensa. 

            Em um modelo condicionado, para Skinner, os seres humanos, como qualquer outro ser vivo, perseguem objetivos com vista na recompensa que poderá ser atingida.  Para Skinner (1968), recompensar respostas corretas melhora a aprendizagem.  É mais eficaz que o controle aversivo – punição.  Uma vez que recompensas dirigem comportamentos para um objetivo.  O uso de recompensas é um modo bastante seletivo e eficiente de controlar o comportamento.  Punições informam somente sobre o que não fazer, ao invés de informar sobre o que fazer.  Não capacitam uma pessoa a aprender qual é o melhor comportamento para uma dada situação.  É o maior impedimento para uma real aprendizagem.  Comportamentos punidos não desaparecem.  Quase sempre voltam, disfarçadas ou ligadas a novos comportamentos. 

     Alguns psicólogos, tais como Hunt (1971), enfatizam a importância de as pessoas poderem decidir, por conta própria, o que pensar, sentir ou fazer. Nós nos definimos tomando nossas próprias decisões, ao invés de simplesmente reagir aos outros. A motivação é bem maior quando podemos fazer nossas próprias escolhas, sendo estas a longo ou curto prazo.

      Na sala de aula, quando os alunos têm a oportunidade de fazer suas próprias escolhas sobre o que pesquisar, estudar, bem como em um contexto de cooperação, eles estão satisfazendo a necessidade de autonomia.  Segundo vários autores, a autonomia visa tornar cada pessoa responsável por seu próprio aprendizado.  Holec (1981) afirma que a filosofia do aprendizado autônomo fortaleceu-se com a nova visão do papel da educação na sociedade.  A partir dos anos 60, o indivíduo deixa de ser visto como um produto da sociedade passando a ser visto como produtor da sociedade. 

      Segundo Brindley (1989) o aprendizado autônomo tem o propósito de fazer com que os aprendizes:

* passem a ter maior responsabilidade em seu desempenho e progresso;

* possam diagnosticar seus pontos fortes e fracos;

* possam comparar seu nível atual com aquele que querem atingir;

 * sintam-se mais motivados;

* desenvolvam critérios para controlar seu próprio progresso.

      A partir de uma perspectiva autonomista, o professor deixa de ser a única fonte de informação para os alunos que, idealmente passam a ter consciência de sua própria maneira de aprender, seu estilo cognitivo, as atitudes e comportamentos que lhes possibilitarão controlar seu processo de aprendizagem.  Aprender na verdade é definir objetivos, conteúdos, técnicas, saber gerenciar o aprendizado, avaliar sua evolução.

      A maioria dos professores preocupa-se em motivar seus alunos, porém esquece que antes de motivá-los, deveria ter o cuidado de não desmotivá-los com tarefas descontextualizadas e fora de suas realidades.  Como diz Billows (1961), o professor tem que ser ele mesmo, falar com pessoas reais sobre assuntos reais e treinar seus alunos para que utilizem a língua alvo para atingir objetivos reais.

      Por muitos anos a pesquisa sobre motivação foi fortemente influenciada por Gardener (1972) e seus associados. Em seus estudos, eles traçaram distinções entre orientação integrativa e instrumental.

      A orientação integrativa é o desejo de aprender como reflexo positivo à comunidade de falantes.  A orientação instrumental é um desejo de aprender para que possam ser atingidos certos objetivos. Ambas as orientações podem estar associadas com o sucesso.

      A pesquisa de Gardner e seus colegas centrou-se na dicotomia da orientação, não na motivação. A orientação significa um contexto ou propósito para aprender, a motivação refere-se à intensidade de esforço em aprender.

      Na orientação integrativa, simplesmente  o aprendiz está perseguindo o aprendizado de uma segunda língua por questões sociais ou culturais. A orientação instrumental não pode ser confundida com a motivação intrínseca ou extrínseca.  Elas são questões separadas.  As orientações integrativa e instrumental referem-se à dicotomia e apenas ao contexto de aprendizagem. 

      Uma das teorias mais citadas sobre a motivação vem de Abraham Maslow (1970), que construiu a teoria da hierarquia, representada através de uma pirâmide de necessidades, partindo progressivamente da satisfação de necessidades puramente físicas. Desta forma, uma pessoa que não tenha dormido, certamente terá pouca motivação para perseguir algum objetivo.  A necessidade de conforto, proteção, sentimento de pertencer a um grupo social deve ser suprida para que o indivíduo possa alcançar sucesso acadêmico e demonstrar o máximo de sua capacidade.

      A motivação extrínseca designa um contínuo de possibilidades oportunizadas pelo professor, já a motivação intrínseca, refere-se aos planos individuais e pessoais de cada aluno.  Essa capacidade de criar e perseguir objetivos pessoais, pode ser encarada também como uma auto-regulação. É preciso não confundir autocontrole com auto-regulação.                    Segundo Kopp (1982), entendemos o auto-controle como a capacidade para obedecer aos comandos e diretivas dos adultos, na ausência desses. O comportamento desse tipo pode ser visto como organizado de uma forma estímulo-resposta – rígida, na qual o comando interiorizado é o estímulo e a obediência a tal comando é a resposta. A capacidade de auto-regulação, por outro lado, é definida como a capacidade da criança para, interiormente, planejar e monitorar seu próprio comportamento, adaptando-o, conforme circunstâncias mutáveis. Na auto-regulação, diferentemente do auto-controle, o comportamento da criança segue um plano ou objetivo formulado pelo “self”. Segundo Skinner (1953), o termo self significa uma ficção explanatória.  “Se não podemos mostrar o que é responsável pelo comportamento do homem, dizemos que ele mesmo é responsável pelo comportamento”.  Um ponto central na distinção entre o autocontrole e a auto-regulação é que nessa a criança não apenas interiorizou os comandos do adulto e suas diretivas, mas tomou efetivamente para si o papel regulador do adulto.

      Cabe aos professores a função de motivar seus alunos para que se tornem auto-regulados e não autocontrolados, para que possam assim, desenvolver sua autonomia.

      Segundo Deci (1975:23), atividades intrinsecamente motivadas são aquelas que não dependem de recompensas externas para serem bem-sucedidas. Elas promovem sensação de competência e autonomia. Por outro lado, atividades extrinsecamente motivadas dependem totalmente de recompensas, tais como prêmios, dinheiro, notas, bem como feedback positivo.

       Qual é a forma de motivação mais efetiva? Segundo Maslow (1970), a motivação intrínseca é claramente superior à extrínseca. Não importa qual a recompensa que poderá ser alcançada, se não satisfizermos nossas necessidades de segurança, auto-estima e realização pessoal, acabaremos desmotivados.

      A teoria de Maslow afirma que o que parece ser inapropriado em certas aulas, de fato pode ser importante precursor de motivação. Para uma tarefa ser considerada motivadora, ela não precisa ser necessariamente extraordinária. O simples fato de conversar informalmente com os alunos no começo da aula pode ser uma excelente tarefa.

 

A MOTIVAÇÃO NA PRÁTICA

            Muitos estudos têm sido desenvolvidos sobre a motivação tanto em psicologia quanto na lingüística aplicada. Contudo, a maioria da literatura trata da parte teórica, negligenciando a parte prática, que facilita o processo de ensino-aprendizagem de uma segunda língua.  Um dos motivos desta lacuna existente entre teoria e prática é a diferença de crenças e conceitos pré-estabelecidos.

            O tipo de conhecimento mais valorizado hoje em dia é o conhecimento prático, em que é preciso ver para crer. Muitos alunos estão rejeitando a escola. Eles começam a gazear as aulas e então as abandonam na primeira oportunidade.  Além de reagirem contra colegas e professores, não desempenham as tarefas de maneira adequada e se tornam apáticos.

            Durante a última década, as coisas começaram a mudar. Mais e mais artigos e livros têm sido lançados com a palavra “motivação” como título.  Os pesquisadores estão dando maior ênfase à motivação em termos práticos, para elevar o nível de aprendizagem dos alunos.

·        Mas o que significa realmente motivar alguém?

·        Qual é a relação entre um ensino motivado e um bom ensino?

 

Motivar alguém a fazer algo pode envolver muitos fatores diferentes, desde tentar persuadir uma pessoa diretamente até proporcionar boas oportunidades. Seja qual for a forma, o processo de motivação leva muito tempo.  Especialmente em sala de aula, é raro fazer com que os alunos de uma hora para outra fiquem motivados.

Não existe um botão mágico que possamos pressionar e fazer com que as pessoas queiram aprender,  trabalhar mais e agir com responsabilidade.  Da mesma forma, ninguém pode ser forçado a gostar de algo.  Devemos facilitar o processo e não forçar as pessoas a se tornarem motivadas.  Apesar de existirem várias estratégias de aprendizagem, a maioria dos professores apenas baseia suas metodologias na punição e na recompensa – motivação extrínseca.

              De acordo com McCombs e Pope (1994)  todos os alunos são motivados a aprender, desde que sejam expostos a um contexto apropriado e a métodos adequados.  Infelizmente, esta afirmação não é totalmente verdadeira, pois várias são as preferências, os estilos, as personalidades dos alunos.  Acredito, sim, que é possível aumentar e melhorar o nível de motivação intrínseca dos alunos.

            Muitos professores preocupam-se apenas em proporcionar um ensino de ótima qualidade baseados em motivação extrínseca e esquecem de investir seu tempo e energia em técnicas de motivação intrínseca, as quais estão ligadas diretamente às necessidades de seus alunos.  Também devemos levar em consideração que não importa o quão competente e qualificado seja o professor, se lhe faltar habilidade em dar instruções e conduzir suas aulas, certamente não haverá motivação.

            Há várias técnicas de motivação que podem ser facilmente aplicadas em sala de aula. Explicações claras e objetivas, além de economizar tempo, evitam desperdício de energia e frustrações com resultados.  Insistir em tópicos até que os mesmos tenham sido aprendidos, sem intercalá-los com outras atividades, pode desmotivar os alunos.  Porém, se os mesmos tópicos forem trazidos à tona, como revisões, trabalhos extra-classe, jogos, serão certamente absorvidos pelos alunos.

            Fatores como ritmo, variedade, preparação e ligação de tarefas, bem como monitoramento e feedback, são essenciais para o bom andamento de uma aula. 

 

COMO CRIAR CONDIÇÕES BÁSICAS DE MOTIVAÇÃO?

Para que exista motivação na sala de aula é preciso utilizar algumas estratégias de motivação , as quais são técnicas que promovem mudanças no comportamento dos indivíduos em relação à seus objetivos, facilitando o processo de aprendizagem.  Essas estratégias não podem ser empregadas sem um planejamento, sem condições prévias para gerar resultados de aprendizagem.  Existem vários pré-requisitos para que exista motivação, dentre eles estão:

 

·        um comportamento apropriado do professor, bem como um bom relacionamento entre professor e alunos;       

·        uma atmosfera agradável e encorajadora em sala de aula;

·        um grupo coeso e com normas bem claras a serem seguidas;

·        estabelecer um senso de comunidade em sala de aula;

·        criar condições reais de aprendizagem;

·        fazer com que os materiais utilizados pelos alunos sejam autênticos;

·        estabelecer metas possíveis de serem atingidas;

·        tornar o processo de aprendizagem algo prazeroso e interessante;

·        ajudar os alunos a construir sua auto-estima e confiança;

·        proporcionar uma avaliação justa que valorize todo o processo de aprendizagem e não simplesmente aplicar provas.

 

 Sem dúvida,  comportamento do professor é uma das ferramentas mais importantes para gerar e manter a  motivação na sala de aula.

 

O PAPEL DO PROFESSOR NA SALA DE AULA DE LÍNGUAS NA ESCOLA PÚBLICA

            O professor desempenha um papel fundamental no aprendizado dos alunos. Na maioria das vezes este aprendizado acontece dentro de um contexto escolar.  O papel-chave do professor é de certificar-se de que as metas de aprendizado e os métodos de ensino estejam adequados ao contexto. 

            Devido à falta de incentivos ao ensino de idiomas na escola pública, essa tarefa tornou-se um desafio muito grande, o qual deve ser enfrentado não só pelo professor, mas por toda a comunidade escolar, bem como pela família.  

            Devemos ser profissionais conscientes das necessidades de nossos alunos e otimizar os recursos disponíveis na escola para que possamos proporcionar um ensino de boa qualidade. Ser realista sobre o que é possível realizar, não significa que não devamos buscar melhorias para nossos alunos.

            Devemos nos manter motivados para buscar novas possibilidades e recursos.  E quais são os recursos disponíveis ao professor de línguas? Basicamente, o professor dispõe do quadro-negro, giz, um aparelho de som, que muitas vezes não funciona direito, e às vezes uma televisão e um vídeo-cassete. Estou sendo positivo nesta afirmação, pois várias escolas não possuem tais aparelhos.

A ausência de recursos materiais para desenvolver um trabalho de boa qualidade torna o professor seu próprio recurso-chave. Muitas vezes, devido à falta de tempo e de condições de proporcionar um ensino de melhor qualidade, o ensino de línguas passa a ser uma tarefa pesada e desinteressante para os professores.  Porém, quando comprometidos com sua profissão, com o aprendizado de seus alunos, os professores  jamais se acomodam, mesmo recebendo baixos salários. Eles partem para a luta, participam de seminários e cursos de atualização, muitas vezes sem condições financeiras para tal.

Os professores são os facilitadores e monitores do processo de aprendizagem de seus alunos.  Mais uma vez, saliento o papel da motivação como fator preponderante para o bom andamento das tarefas na escola. 

Devemos dividir com nossos alunos a responsabilidade sobre a sua própria aprendizagem.  Através de atividades neles centradas, os professores aos poucos começam a despertar a necessidade de se tornarem pessoas independentes e autônomas, responsáveis pela construção de seu próprio conhecimento. 

O professor é visto como aquela figura autoritária, chata, que cobra constantemente.  Esta percepção não se forma ao acaso. Somos responsáveis por nossa imagem, por nosso relacionamento com os alunos.  Devemos ter o cuidado de não nos tornarmos distantes e frios.  Não estou querendo dizer que não temos que ter autoridade em sala de aula, mas sim, que não precisamos ser autoritários. Taylor (1987) afirma que há uma grande diferença em termos autoridade e sermos autoritários.

 Os alunos devem encontrar no professor uma pessoa que também, como eles, passou pelas mesmas dificuldades para aprender, e que, devido a seu esforço, atingiu seus objetivos, provando, assim, que é possível alcançar as metas.  

            Os alunos devem ser respeitados em seus pontos fracos.  Os professores devem estar atentos às diferenças existentes em sala de aula, para que não permitam que alunos mais bem preparados inibam os mais fracos.  Esta convivência deve ser harmônica, os que sabem mais ajudam os que sabem menos. Devemos avaliar constantemente nossas atitudes como professores para verificar se não estamos supervalorizando alguns alunos e esquecendo de outros, tendo especial atenção com a correção dos erros. Nada é mais desmotivador do que ser corrigido a cada vez que tentamos interagir em sala de aula.

 

COMO DEVO LIDAR COM OS ERROS?

O maior objetivo ao ensinar uma língua estrangeira é fazer com que os alunos falem fluentemente e corretamente este idioma.  Contudo, não é possível esperar que os alunos o façam no começo da aprendizagem.  As crianças e os adolescentes terão vários anos para desenvolver e aprimorar o idioma. No começo de um programa devemos estabelecer metas, tais como: 

 

·        construir confiança;

·        encorajar os alunos a se comunicar na língua estrangeira;

·        mostrar que a aprendizagem pode ser divertida;

·        proporcionar um ambiente agradável e não de cobranças e medos;

·        desenvolver um senso de responsabilidade e autonomia desde o começo.

 

Os próprios alunos sabem quando não estão falando certo, não precisamos chamar-lhes a atenção a todo instante. A correção e o feedback devem servir de instrumentos positivos para superar os problemas, mas sempre de uma maneira agradável e cuidadosa.

            Outro instrumento importantíssimo, que deve servir como agente de motivação é a avaliação, que está deixando aos poucos de ser simplesmente um instrumento de mensuração, para servir de feedback orientador não só para o professor mas para o aluno, o qual deixa de ser um objeto testado para ser o agente na construção de seu próprio conhecimento.

            O processo de avaliação deve servir de motivação para a aprendizagem. Muitas vezes um trabalho inovador e criativo acaba sendo frustrante devido à falta de critérios na avaliação.  É necessário considerar a avaliação um processo integrado ao processo de aprendizagem e não como um conjunto de provas, com datas estipuladas.

            Deve haver uma mudança na cultura dos alunos e professores, no sentido de não reconhecer a avaliação somente com um sistema de notas para passar ou rodar. O importante é que se veja a avaliação como um processo de feedback, o qual traga ao aprendiz informações necessárias e oportunas para o desenvolvimento de sua aprendizagem. A tecnologia mostra-se muito eficiente para agilizar o feedback do professor para os alunos.  Através de e-mails, o professor pode corrigir redações, exercícios e outras tarefas, de uma maneira muito mais prática e rápida.

Em um mundo globalizado, que derruba barreiras de tempo e espaço, o acesso à tecnologia exige atitudes críticas e inovadoras. O desafio é criar e permitir uma nova ação docente na qual professores e alunos participam de um processo conjunto para aprender de forma criativa, dinâmica, encorajadora  e que tenha como essência o diálogo e a descoberta.

Mesmo não estando totalmente preparados para acompanhar os avanços tecnológicos, os professores de línguas estrangeiras devem inserir-se rapidamente nesse novo contexto, para que possam integrar sua prática pedagógica a essas maravilhosas ferramentas, o que resultará na elevação do nível de aprendizagem dos alunos.

 

A IMPORTÂNCIA DE UM BOM PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DAS AULAS

            É preciso dar atenção especial ao planejamento de nossas aulas, pois sem ele todas as tarefas e técnicas a serem desenvolvidas, não funcionarão adequadamente.

            Os professores que não escrevem o seu próprio plano de aula correm o risco de seguir cegamente o livro didático, o que de certa forma, os torna dependentes e limitados.          Por melhor que tenha sido planejado um livro, nunca estará totalmente adequado à nossa realidade. Precisamos sempre estar prontos para adaptar, inovar, acrescentar ou excluir tarefas.  O livro didático oferece uma estrutura geral para o ensino, mas cada lição exige o seu próprio planejamento, que pode garantir que a aula tenha uma estrutura clara, com um começo, meio e fim.

            Escrever um plano de aula é a garantia de que cada estágio ou passo da aula tenha sido pensado de maneira certa e de que a transição de um estágio para outro tenha sido analisado cuidadosamente. Isso também pode garantir que exista um equilíbrio perfeito entre a prática das habilidades e uma boa variedade de atividades, fundamentais para a motivação.  Isso tem uma importância especial quando lecionamos para crianças.  Devemos ter uma seqüência balanceada de atividades que envolvam a classe toda, e de trabalhos individuais, em pares, em grupos.

            Da mesma forma que é importante elaborar um plano de aula em relação ao livro didático, é igualmente importante sentir que podemos deixá-lo de lado, ou variar as atividades durante as aulas. O plano, como o livro didático, tem a intenção de servir de guia, não de camisa de força. Devemos também escrever o tempo aproximado para a execução de cada tarefa. Isso ajuda a organizar melhor a aula, reservando sempre um tempo para as instruções e para checagem das respostas quando as atividades envolverem exercícios. É também fundamental fazer uma lista do material que será utilizado na aula, para evitarmos surpresas e aborrecimentos.

 

 

 

O QUE SIGNIFICA GERENCIAMENTO DE AULA?

 

            Gerenciar é planejar, analisar, pensar à frente, dar instruções e avaliar. Tomando-se como exemplo a escola pública, na qual o planejamento nem sempre é levado em consideração, o que se verifica na prática é a falta de coesão e unidade na execução dos conteúdos, fator que resulta em desmotivação.

            Pensar na organização física da aula é também um fator fundamental para estabelecer um ambiente motivador. Como será a posição das cadeiras, mesas, como melhor distribuir os grupos, pares.  Dentro de uma abordagem comunicativa de ensino de línguas, a posição que melhor promove interação é a do formato de uma ferradura, na qual os indivíduos têm a oportunidade de manter um contato mais pessoal, tornando a interação mais real. 

            A dinâmica da organização da aprendizagem interativa deve ser cuidadosamente estabelecida pelo professor. De acordo com West (1960), o bom professor deve ser  capaz de promover quatro formas distintas de interação dentro da sala de aula:

·        Professor – alunos → Nesta modalidade, o professor dirige-se a todo o grupo;

·        Professor – aluno → O professor interage com apenas um aluno;

·        Trabalho em duplas → Os alunos são organizados em duplas para desenvolverem as atividades;

·        Trabalho em grupo → Tarefas que exigem a colaboração de mais de dois alunos. 

                        Segundo Nation (1989), o trabalho de grupo proporciona mais oportunidades para a prática de novos itens, do que aulas conduzidas unicamente pelo professor. O trabalho em grupo também potencializa a qualidade dessas oportunidades em termos de individualização, motivação, profundidade de processamento e clima afetivo.            

                        Long e Poter (1985) afirmam que o trabalho de grupo provou ser um dos recursos mais valiosos de insumo compreensível. 

                         Mas o que realmente torna o trabalho de grupo uma experiência bem-sucedida? É mais provável que o trabalho de grupo seja bem-sucedido se devidamente planejado.  Vários fatores influenciam o bom andamento do trabalho de grupo, no qual todos devem ser membros ativos, interessados e reflexivos.  Mas cinco são os de maior importância:

 

1.      objetivos de aprendizagem;

2.      novos conteúdos;

3.      a maneira com que a informação é distribuída;

4.      a organização das cadeiras e classes;

5.      relação social entre os membros do grupo.

 

            Através da conscientização da importância e relevância dos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula, pode-se chegar a um grau de motivação autêntica. Com o devido planejamento e levando-se em consideração os vários estágios de uma aula, temos como tornar a aula bem mais interessante.

            Segundo  Freeman (1999) “cada nova unidade, cada instrução, deve preceder uma justificativa. Os alunos devem ser informados sobre a importância, relevância das atividades, para que possam visualizar um sentido concreto em desempenhá-las.

            Ao apresentar uma nova tarefa o professor deve:

·        enfatizar que a tarefa é uma oportunidade de aprendizagem  a ser aproveitada e não uma imposição a ser resistida;

·         explicar onde a atividade se encaixa dentro de um contexto mais abrangente, ou seja, como esta tarefa irá auxiliar na obtenção do grande objetivo;

·        em qual área os alunos devem concentrar-se mais;

·        fazer uma conexão entre a tarefa e a vida do aluno, fazendo com que o aluno perceba a relevância em empenhar-se na tarefa;

·        estimular a curiosidade dos alunos, despertar o interesse pelo assunto de uma maneira interessante;

·        fazer com que os alunos tentem adivinhar, antecipar algo sobre a tarefa;

·        desafiar os alunos, para que se sintam motivados;

·        variar as aulas e tarefas  sempre que possível para evitar a rotina;

·        demonstrar, ao invés de apenas explicar.

 

 

 

 

 

QUAL A IMPORTÂNCIA EM CRIAR OBJETIVOS CLAROS NOS ALUNOS?

 

            Objetivos específicos e a curto prazo podem ajudar muito a estruturar o processo de aprendizagem.  Objetivos pessoais tais como ler uma página por dia de um livro em inglês serve para energizar a aprendizagem.  Os testes também servem para motivar os alunos a estudar, mas ao atingir a nota necessária, o empenho em estudar muitas vezes desaparece.            De acordo com Oxford e Shearins (1994) “Criar objetivos tem uma importância crucial para estimular a aprendizagem de uma segunda língua”, e é triste verificar que tão pouco tempo  tem sido despendido nesta área.

 

COMO ESTABELECER OS  OBJETIVOS?

            Segundo McCombs e Pope (1994), sete passos devem ser seguidos:

·        defina seus objetivos claramente;

·        liste passos a serem dados em direção à obtenção de resultados;

·        pense em problemas que podem surgir durante o percurso;

·        vislumbre soluções para possíveis problemas;

·        estabeleça um período de execução dos planos;

·        avalie seu progresso;

·        recompense seu bom desempenho.

 

            Não há método que sempre funcione e que não precise de ajustes. Precisamos sempre adaptar o material e as técnicas utilizadas para melhor suprir as necessidades de nossos alunos. O que funciona um dia, pode não funcionar em outro. É necessário ser flexível para não admitir pensamentos de frustração. Hoje não funcionou, mas amanhã funcionará, assim é que os professores devem pensar.

            Inovar também é uma palavra-chave. Precisamos variar nosso modo de ensinar, para que os alunos se sintam motivados e desafiados. Em vez de instruir devemos perguntar, retirar deles o que já sabem, para que juntos possamos ampliar o conhecimento. 

            Todos os alunos vêm para a escola sabendo muitas coisas, mas a maioria dos professores ignoram todo esse conhecimento prévio e jogam neles montanhas de conteúdos, na maioria das vezes descontextualizados e irrelevantes para a vida dos alunos. 

Mas qual será a motivação dos alunos de escolas públicas, os quais na maioria das vezes não têm acesso à gama de oportunidades vivenciadas por alunos de escolas particulares e outras instituições privilegiadas economicamente? 

            Conforme a LDB (1996) – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a inclusão de uma língua estrangeira a partir das séries finais do ensino fundamental é obrigatória.

            Neste contexto, a Língua Inglesa é preponderante. Um dos motivos para esta preponderância do Inglês na escola básica refere-se ao prestígio social que a cerca.

            Apesar de o inglês ser uma língua largamente difundida e estudada, seu ensino no Brasil ainda é inadequado, principalmente na escola regular. O que poderia ser um meio de excelência, de novas oportunidades para os alunos, tornou-se um fracasso pedagógico.

            Segundo Moita Lopes (2001), a ausência de acesso às línguas estrangeiras na escola pública, reforça a idéia de falta de aptidão dos alunos da escola pública para o aprendizado de idiomas, considerando-os incapazes de serem fluentes, o que tornaria a disciplina dispensável (dentro do currículo, já que os alunos encerram o ciclo básico de ensino fundamental e médio sabendo muito pouco de inglês).

            Os fatores que influenciam a aprendizagem são vários: motivação, atitude, oportunidades, etc. Segundo Moita Lopes (2001), não há justificativa  para o conceito de inaptidão dos alunos da escola pública para aprender línguas estrangeiras senão a ideologia de privar os alunos desta oportunidade.

            Dentro deste contexto sócio-cultural em que o Inglês está inserido, o papel do professor que deseja propiciar ao aluno um ensino de verdade, e não uma farsa, precisa proporcionar experiências de aprendizado com conteúdos de significação e relevância, através da prática e uso da nova língua, explorando o papel de apoio da língua materna, apresentando temas e conflitos do universo do aluno, engajando o aluno em atividades comunicativas, respeitando os diferentes estilos de aprendizagem e motivação.

            A concepção de linguagem do professor estabelece não somente o tipo de aula, mas também o tipo de aluno que estará sendo formado. A postura do professor precisa ser a de formador do pensamento de que o aluno da escola pública é capaz tanto quanto o de qualquer outra escola.

            É possível desenvolver um bom trabalho na área de línguas estrangeiras na escola pública.  Deve-se acreditar na busca de novos caminhos para facilitar e motivar o processo de ensino-aprendizagem de inglês.

            Vários são os obstáculos, as barreiras enfrentadas na busca de melhores condições de trabalho, portanto, quando estamos motivados a lutar, nada faz com que abandonemos nossos ideais.

            Com o propósito de elevar o nível de motivação e interesse dos alunos pela língua inglesa, elaborei um projeto de um clube de línguas na escola em que trabalho.         

            O uso de projetos pode estimular os alunos a trabalhar por si próprios e aumentar o número de horas que ficam expostos ao inglês. O problema para a maior parte dos professores é tornar o conteúdo de uma lição aplicável e interessante para todos os alunos.  Outro problema é a falta de tempo, quando se dispõe de setenta a noventa horas aula no ano letivo.  O uso de projetos pode estimular os alunos a trabalhar por si sós, concentrando-se em seus próprios interesses, fora do horário das aulas.  Desta forma, os projetos propiciam: 

·        motivação do aluno;

·        progresso individual do aluno;

·        um tempo disponível para o inglês;

·        cultura geral.

              O objetivo de um projeto deve ser  estimular os alunos a fazer uma ligação entre a sala de aula e o mundo exterior, além de ajudá-los a fazer a relação entre o inglês e a sua própria língua. Essa ligação entre a escola e o mundo é totalmente motivador e viável  através da utilização da informática e da língua inglesa.

            O primeiro passo foi elaborar um questionário para saber quais atividades motivariam os alunos a aprender, bem como sua opinião sobre a importância em criarmos um centro de línguas na escola.

            A aceitação do projeto foi muito positiva e a maioria dos alunos demonstrou muito interesse em fazer parte de um clube de línguas. Constatei que os alunos têm uma visão muito positiva sobre a língua inglesa e que a consideram importantíssima para obter oportunidades profissionais no futuro. Também me chamou a atenção o fato de que os alunos têm um grande interesse em conhecer outras culturas.

            As atividades que mais os motivam a aprender são: músicas em inglês, filmes, jogos didáticos, projetos e dramatizações, bem como o uso de computadores. Parece-me desnecessário discorrer aqui sobre o uso de filmes, jogos didáticos, projetores e dramatizações, por serem essas ferramentas que há muito vêm sendo utilizadas.  Já o uso de computadores, mostrou-se um fator altamente motivador.

O PAPEL DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO APRENDIZADO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

 

                                   A utilização de computadores no processo de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras vem crescendo rapidamente, bem como os avanços da multimídia e da Internet.  Essas novas ferramentas desempenham um papel fundamental no estudo de idiomas.

                                    A tecnologia está sendo introduzida na sala de aula com dois objetivos principais: como uma ferramenta para instigar o aprendizado e como meio de desenvolver habilidades em computação e estratégias de aprendizado.

                                   Mas quais são os recursos tecnológicos utilizados na escola pública atualmente?  A maioria das escolas públicas dispõe apenas de CD player, fitas k7, retroprojetor, vídeo cassete e em algumas escolas existem computadores.

            O acesso a telefones celulares, antenas parabólicas, DVDs e sobretudo ao espaço cibernético permite a troca imediata de informações. Não existem mais distâncias nem barreiras a serem transpostas. Os recursos da informática não são o fim da aprendizagem, mas são meios que podem instigar novas metodologias que levem o aluno a “aprender a aprender” com interesse, com criatividade, com autonomia.

            Embora estejamos cientes dos avanços tecnológicos e de sua necessidade de aplicação no contexto educacional, na escola pública, a prática mostra-se bem diferente.  A escola deveria proporcionar oportunidades para o contato entre os alunos e as novas tecnologias, gerando, dessa forma, motivação e atualização.

            A falta de capacitação profissional em relação às novas tecnologias, resulta em mau uso dos poucos recursos disponíveis na escola, desperdiçando oportunidades reais de aprendizagem, as quais poderiam ser otimizadas através da utilização de projetos. 

              O próximo passo foi avaliar os recursos tecnológicos disponíveis na escola.  Constatei que os recursos disponíveis poderiam ser otimizados, gerando dessa forma motivação nos alunos em aprender inglês em um clube de línguas. Visitei outras escolas públicas, as quais possuem clubes de línguas, pois considero a troca de experiências fator fundamental para o sucesso de qualquer projeto.  

            A próxima etapa foi selecionar os alunos para fazer parte desse projeto.  Decidi criar alguns critérios para o preenchimento das quinze vagas iniciais. Os critérios foram: o desempenho escolar do aluno, bem como seu comportamento na escola. O próprio processo de seleção já foi um fator de motivação para os alunos. Todos demonstraram interesse em fazer parte do clube de inglês.  

            A criação do clube de línguas não motivou apenas os alunos, mas também uma grande parcela do corpo docente da escola, o qual demonstrou grande interesse em participar do projeto, mesmo que de forma indireta.  

            A partir de alguns encontros com colegas de outras disciplinas, percebi que o clube de línguas não serviria apenas para a aprendizagem da língua inglesa, mas também como um elo de ligação entre outras disciplinas e professores. Através de atividades que envolveram geografia, ciências e português, consegui elevar consideravelmente o nível de motivação dos alunos, constatando a importância da interdisciplinaridade como suporte para o clube de línguas. 

            Segundo Piaget (1981), só existe interdisciplinaridade quando as diferentes disciplinas saem de seus limites e reconstroem em um patamar superior, conceitos, métodos de investigação e instrumentos. Quando existe apenas o concurso de várias disciplinas, mas não há reconstrução, há apenas multi ou pluridisciplinaridade.

            A interdisciplinaridade visa a garantir um trabalho de construção do conhecimento que envolva uma atitude de busca de novas articulações das experiências de ensino-aprendizagem no sentido de problematização do que já se adquiriu para reconstruir essas experiências em novos patamares. A interdisciplinaridade, segundo Piaget (1981), exige que se discutam métodos e conceitos comuns, reconstruindo tais conceitos num nível mais elevado de generalização e compreensão.  Como afirmou Freire (1967), é preciso que os temas geradores partam da realidade do educando e que os professores trabalhem em conjunto, para desenvolver projetos que envolvam desde a experiência concreta, a colocação de problemas e a tentativa de resolvê-los.

            Ao longo de minha prática pedagógica como professor de Língua Inglesa, tenho obtido resultados significativos, frutos de um planejamento e comprometimento com a aprendizagem de meus alunos. A língua estrangeira é, sem dúvida, uma excelente ferramenta na construção do conhecimento de várias outras áreas, como ciências, geografia, história, etc.  O professor deve despertar o interesse e a curiosidade dos alunos à pesquisa.  As  atividades  devem exigir que os alunos  coletem informações (freqüentemente na sua própria língua) e as tragam para a sala de aula.  Ao pesquisar utilizando a língua estrangeira os alunos constroem seu próprio conhecimento, bem como percebem a real finalidade em aprender outras línguas.  Uma atividade simples para ajudar os alunos a aumentar seu vocabulário em inglês pode ser o de apresentar o assunto em um cartaz preparado pela classe.  Outra tarefa interessante é propor aos alunos que façam um painel com todas as palavras em inglês que os alunos encontram fora da sala de aula.  O objetivo desses projetos é fazer uma ligação entre a sala de aula e o mundo exterior, além de ajudá-los a fazer uma relação entre o inglês e a sua própria língua.  Os projetos são instrumentos maravilhosos para ampliar os horizontes dos alunos e oferecer-lhes oportunidades adicionais para o uso do inglês fora da sala de aula.   Através de experiências reais e autênticas os alunos percebem a importância em aprender uma língua estrangeira.  A escola é a principal responsável pela formação cultural e social dos indivíduos.  Pensando nessa responsabilidade de formar cidadãos foram criados os PCNs, Padrões Curriculares Nacionais, os quais estão divididos por temas transversais para melhor atender às necessidades das diferentes regiões do nosso país.

Os Temas Transversais sugeridos envolvem um trabalho com a Ética, Saúde, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual, bem como Trabalho e Consumo. Não se trata de novas matérias, mas assuntos que devem perpassar todas as disciplinas ao longo do ano. Como a escola não é uma ilha de ensino e está inserida em determinada comunidade, com seus conflitos, aflições e alegrias, o professor deve criar espaços para que crianças e adolescentes discutam e opinem sobre tais fatos. É essa, justamente, a proposta dos Temas Transversais.

            Fazer parte de um grupo ou de uma comunidade exige do cidadão conhecer as normas que regem a conduta aceita nos mais variados âmbitos, como o social, o cultural e o político. Os PCN definem quatro blocos de conteúdos para o ensino da Ética. Eles foram organizados para que os alunos tenham informações sobre como atuar autônomos e criticamente em uma sociedade democrática. Portanto, para falar em Ética é preciso lembrar conceitos como respeito mútuo, justiça, solidariedade e diálogo. Na aula de Inglês, poderíamos encorajar esses valores, especialmente o diálogo, ao tratarmos de temas em formato deliberativo. Poderíamos nos utilizar de um modo de tratar temas desenvolvidos nos Estados Unidos e hoje empregados por muitas organizações ao redor do mundo. Ao organizar tais discussões, os alunos são levados a considerar prós e contras de diversas alternativas para os problemas, inclusive os temas sugeridos, como saúde, meio ambiente e orientação sexual.

            Para trabalhar os cuidados com a saúde, nem sempre o ciclo da esquistossomose é a maneira mais fácil de aproximar o estudante da real importância da prevenção. Nem encher o quadro negro com explicações sobre doenças sexualmente transmissíveis, auxilia de modo eficaz à orientação sexual. Em vez disso, é melhor mostrar os conteúdos com base na realidade dos alunos, tentando introduzir os temas a partir de problemas do cotidiano do jovem, como as drogas, a gravidez na adolescência, a AIDS. Como se vê, é tarefa simples encontrar um ponto de partida para motivar a turma. Os PCN sugerem que na aula de L.E. sejam exploradas as diferentes conotações atribuídas ao masculino e feminino em vários países e diferentes culturas, ao trabalhar a literatura, a leitura e a tradução de textos. Ao invés disto, seria mais interessante propormos um trabalho sistemático de como a língua está marcada pelo gênero.

            O tema da Educação Ambiental se tornou uma das coqueluches nas escolas brasileiras. Não é difícil introduzir a discussão com os alunos, pois boa parte deles demonstra interesse pelo assunto e carrega informações adquiridas fora da escola, por meio de conversas com outras pessoas ou absorvendo conteúdos dos meios de comunicação. Com isso, a visão deles sobre questões ambientais torna-se mais ampla e, portanto, mais segura diante da realidade em que vivem. Os conteúdos para abordar tal tema foram divididos em três blocos: a forma cíclica da natureza, sociedade e meio ambiente, manejo e conservação ambiental.  Embora não haja no documento sugestões de como usar a língua estrangeira para abordar este tema, acreditamos que ela poderia contribuir, refletindo sobre a possibilidade de criação da cidadania planetária na proteção do meio ambiente, analisando trabalhos de organizações mundiais ao usarmos uma língua comum.

            A Pluralidade Cultural deve tratar do respeito ao conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, bem como às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes. Deve, portanto, oferecer ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. Através do ensino de outras línguas, os alunos poderiam ampliar horizontes e compreender a complexidade do país. Poderíamos trazer para discussão a classificação do Inglês como língua internacional, com exemplos de como isto vem ocorrendo no Brasil e suas evidências. Não podemos deixar de discutir a forma como as manifestações culturais dessa língua internacional, acabam por influir em nossa própria cultura, a qual podemos tomar como exemplo a comemoração do Halloween.

            Trabalhar e consumir são direitos de todos. Mas a realidade se mostra bem diferente . Nem todos têm acesso a oportunidades de emprego ou podem usufruir os produtos e serviços oferecidos. Os blocos de conteúdos a serem trabalhados neste tema são: relações de trabalho/ consumo/ saúde e meio ambiente, consumo/meios de comunicação de massas/ publicidade e vendas, direitos humanos/ cidadania/trabalho e consumo. As sugestões de trabalho em L.E. se restringem à análise de textos publicitários, o papel do Inglês no mercado de trabalho e o Inglês como objeto de consumo.

 A aprendizagem da segunda língua é um desafio para o aluno. É fundamental que desde o início da aprendizagem da L. E. o professor desenvolva a autoconfiança em seus alunos, para que eles acreditem na capacidade de aprender. A limitação de recursos disponíveis na escola para a prática de ensino e a reduzida carga horária da disciplina não devem ser motivo para abrir mão dos objetivos. É importante também ressaltarmos que a ênfase nas relações humanas e na compreensão do mundo social, do qual a escola faz parte, requer um olhar reflexivo sobre a própria escola, sobre a disciplina que ensinamos e sobre a nossa prática pedagógica. Portanto, trabalharmos os Temas Transversais não pode ser uma atividade isolada apenas no ensino da língua inglesa, mas sim em conjunto com professores das demais disciplinas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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