O PROCESSO DISCURSIVO ANAFÓRICO EM REDAÇÕES DE VESTIBULAR

 

Marcia Bratkwski Kossmann

(UCPel)

 

Introdução

 

O objetivo do presente estudo foi observar, através dos processos anafóricos por nominalização em redações do concurso de vestibular de  um centro universitário da grande Porto Alegre, posições-sujeito vinculadas  a saberes que constituem  diferentes formações discursivas (FD),  procurando  verificar como ocorrem os movimentos dos sentidos nesse espaço institucional. 

            Em razão da perspectiva teórica  assumida _ a da Análise do Discurso na tradição de Michel Pêcheux _ foram formuladas as seguintes  questões que  nortearam o  estudo:  que posições-sujeito estão envolvidas no emprego dos  anafóricos, especificamente as retomadas por  nominalização? A que formações discursivas encontram-se vinculadas? Que tipo de relação é estabelecida ¾  de confronto ou aliança ¾   com o discurso pedagógico?

 

Perspectiva Teórica

A fim de  responder a tais questões, inicialmente traçou-se um percurso teórico contemplando as circunstâncias que fundaram  um novo objeto de estudo no âmbito lingüístico, o discurso. Após discorreu-se   sobre os conceitos básicos da disciplina que amparam  a relação linguagem e ideologia,  tecendo  considerações  acerca  daquilo que se denomina  “as três fases da Análise  de Discurso_  AD”.

 Na AAD69, Pêcheux formula o conceito de “discurso” a partir da reflexão crítica sobre o corte saussureano, opondo-se ao objeto da ciência lingüística,  definindo  língua enquanto sistema.  O resíduo não-científico da análise, a fala, relegada a segundo plano na teoria de Saussure, passa a ser o conceito que vai propiciar a concepção do termo “discurso” por Pêcheux. Para o autor, o discurso é concebido como uma reformulação da fala, desembaraçada das implicações de ordem subjetiva, o que significa dizer que o sujeito, em sua perspectiva, não é intencional, não é a fonte de um sentido que lhe é transparente. Surge,  também, nesse período, a noção de “condições de produção”, uma reformulação operada por Pêcheux da noção de “circunstância”. Os lugares ocupados pelos sujeitos são lugares sociais são  representados no discurso pelas “formações imaginárias”.

Tendo em vista o caráter sobredeterminante da ideologia, foi introduzida,  já na segunda fase, AD75 a noção de “interdiscurso” e “pré-construído”, conceitos relacionados à historicidade dos sentidos, contribuindo para que Pêcheux instaurasse definitivamente a exterioridade  na constituição  dos sujeitos e dos sentidos.

 Além da importância do imaginário na determinação dos sentidos como efeitos ideológicos, a questão do simbólico  se apresenta cada vez mais significativa, no decorrer do desenvolvimento da teoria, especificamente daquilo que designam  como a terceira fase dos estudos da AD. Os  deslizamentos de sentidos para  outras FD(s) refletem a resistência dos sujeitos  à sobredeterminação ideológica. Há necessidade, portanto, de o analista observar  com atenção  os aspectos enunciativos, contando com os efeitos da  polissemia em  sua investigação e não somente com os de paráfrase, procedimento que dominou a chamada segunda fase da  AD.     

A partir  desse percurso teórico sobre a  AD,  fez-se uma reflexão  sobre o discurso pedagógico, pois o corpus a ser analisado constituiu-se  de seqüências discursivas de referências, recortadas de textos produzidos por alunos, candidatos ao ingresso na universidade. Partiu-se do pressuposto  de que há  um efeito de circularidade  nessas produções, oriundo do fato  de que somente  a voz do professor  tem legitimidade  institucional  e cabe ao aluno(com) formar-se e submeter-se  a esse discurso  autoritário.

Tendo em vista que a finalidade desse estudo foi o de   verificar os movimentos dos sentidos no espaço institucional através do processo anafórico apresentou-se diferentes conceitos de anáfora. Partiu-se da perspectiva  tradicional, vinculada  às figuras de linguagem, passando  pelos estudos  da Lingüística Textual a ela relacionados, principalmente  os desenvolvidos por Koch (1992) e Apothéloz (1995), cujas abordagens utilizam critérios  de ordem sociocognitiva.  Também  focalizou-se a área da enunciação, com Guimarães (1995), para, finalmente, abordar  o trabalho de Indursky (1997) que, na perspectiva da Análise  de Discurso de Linha francesa, questiona o estatuto dado  à anáfora pela Lingüística Textual em termos de correferencialidade semântica.

Essa concepção discursiva do processo de anaforização coloca em relevo o fato de que a anáfora não é uma simples retomada de um elemento do co-texto nem uma retomada de um elemento da memória compartilhada, mas diz respeito a posições-sujeito. O sujeito, quando utiliza uma expressão referencial, cujo núcleo é um nome, está também designando algo e,  nessa designação, manifesta sua posição.

Nesse estudo destacou-se também as  diferentes concepções de ironia em razão de sua presença no texto apresentado no concurso vestibular que serviu de mote para a elaboração das redações analisadas. Os estudos de Brait (1996) e Orlandi (1986) fundamentam esta pesquisa. Brait, na perspectiva enunciativa, contesta a concepção tradicional de ironia baseada na contradição entre o sentido literal e  figurado e propõe  uma interpretação com base na noção  bakhtineana de polifonia: a ironia seria explicada como a contradição  de diferentes vozes que nela se fazem presentes. Orlandi, por sua vez,  descreve  a ambigüidade resultante do processo discursivo que rompe  com o saber  de um formação discursiva ao mesmo tempo em que o confirma, instaurando a dúvida, a incerteza  do discurso. A ironia, como todo discurso ambíguo, constitui-se em função da possibilidade de múltiplos saberes que estão em jogo no momento enunciativo do dizer. A origem desses saberes está na memória histórica, determinando a literalidade dos sentidos da linguagem que são questionados na ironia,  constituindo-se  num discurso crítico, pois ao mesmo tempo em que há a identidade em relação ao que é  institucionalizado, há, também,  a ruptura  com o que está  instituído.

 

Metodologia

 

Os procedimentos analíticos mobilizados pretenderam alcançar dois objetivos: identificação  das formações  discursivas em jogo e o reconhecimento  da dominante na proposta dissertativa da prova do vestibular e nas produções  formuladas pelos alunos a fim de verificar  até que ponto as retomadas anafóricas presentes nessas produções  acompanharam o movimento de sentido engendrado pelo funcionamento da ironia no texto da  proposta dissertativa. Esses procedimentos e objetivos respaldaram as análises apresentadas  sobre a anáfora por nominalização que se constituiu   a finalidade deste estudo.

Para se obter as conclusões foi realizada, preliminarmente, a análise do texto proposto na prova do vestibular cujos procedimentos  foram organizados da seguinte maneira:

Procedimentos Analíticos da Ironia

-         Determinação das seqüências discursivas de referência, identificando o processo discursivo irônico;

-         Reconhecimento das posições-sujeito estabelecendo relações com as FD(s);

-         Identificação das diferentes FD(s) que fazem parte do discurso pedagógico, determinando a produção textual. 

 

A partir desses procedimentos, verificou-se a importância da ironia como fator fundamental de reconhecimento de posições-sujeito antagônicas que  conduziram à identificação de formações discursivas distintas: a FD1, relativa a uma educação não- permissiva e a FD2, relativa a uma educação permissiva. A ironia possibilitou colocar em jogo essas duas formações discursivas. Há, através de seu emprego,  uma crítica à FD2, assinalando o domínio da FD1 e, conseqüentemente,  determinando a posição-sujeito preponderante da universidade conforme se constata, por exemplo,  através dessa SDR 01:  

 “Indignação, repulsa, choque (...) . Mas por que  tudo isso? Por que tanta revolta com os cinco jovens  de classe média que queimaram vivo um ser humano? “

Essa SDR01 pode ser interpretada de duas formas: através de uma leitura aqui chamada de “literal”, centrada apenas nos elementos lingüísticos presentes na materialidade lingüística, ou através de uma leitura aqui denominada de “crítica” porque ultrapassa o nível do significante. No caso da leitura literal, haveria uma posição-sujeito confirmando o saber de uma educação permissiva sem limites. As perguntas indicariam uma posição-sujeito que não se deixa afetar por esse acontecimento: o da queima do índio.  Por outro lado, a outra leitura apresentaria posições-sujeito que apontariam para saberes que se contrapõem, porque também é possível, a propósito dessas mesmas perguntas, constatar outros sentidos, além daqueles  que estariam  restritos  à solicitação de informações e que marcariam, por sua vez,  outro tipo de funcionamento discursivo.

Verificaram-se, em razão da análise da ironia, funcionamentos discursivos cujos saberes se antagonizam, constituindo o interdiscurso em questão. Esses funcionamentos operaram a partir de duas FDs:

1. FD não-permissiva (FD1): posição ideológica de crítica aos jovens de Brasília que cometeram o crime contra o índio Pataxó. É a dominante, a que determina a unidade do texto da proposta dissertativa.

2.FD permissiva (FD2): posição ideológica de não-crítica aos jovens  de Brasília que cometeram o crime contra o índio Pataxó. É a posição não-dominante, conforme se constatará também nas análises dos processos anafóricos por nominalização identificadas nas SDR (s), escolhidas para a análise.

Pôde-se comprovar, a partir da análise da SDR irônica, a crítica da instituição universitária à educação liberal, determinando a dominância da FD1 sobre a FD2. Pretendeu-se  saber  se a dominância de um saber sobre o outro se confirma no emprego das expressões anafóricas a serem analisadas valendo-se, para  isso,  dos seguintes procedimentos analíticos:

 

Procedimentos Analíticos: ANÁFORA

 

-         Determinação das seqüências discursivas de referência, identificando os processos por nominalização anafórica;

-         Identificação das posições-sujeito investidas nesses processos anafóricos confirmando-se saberes das FD(s) que fazem parte do interdiscurso;

-         Reflexão sobre as posições-sujeito, identificando se as relações são de confronto ou de aliança com o discurso institucionalizado.

     

O corpus discursivo do presente estudo constituiu-se de nove seqüências  discursivas de  referência (SDR) sobre as quais se desenvolverá a análise  dos processos por nominalização anafórica, procurando observar  a que saberes essas pistas lingüísticas remetem: à FD1, de educação não-permissiva ou à FD2 da educação permissiva. Conforme  pôde-se comprovar, a  partir  da análise  da SDR irônica, há crítica da instituição universitária à educação  liberal, determinando a dominância da FD1 sobre a   FD2. Pretendeu-se, assim,  saber se a dominância  de um saber sobre o outro se confirma no emprego das expressões anafóricas a serem analisadas a seguir.

 

 

SDR02

Como  isso é possível? Onde vamos parar? Essas e muitas outras  perguntas ficam no ar, cada vez  que nos deparamos com acontecimentos  como a queima  de um índio Pataxó vivo por adolescentes. A maioria  das pessoas colocam a culpa na “sociedade”, por ser  muito mais cômodo fazer isso, mas esquecem  que elas  são a própria sociedade, e que erros como esses acontecem por permissão dessas mesmas pessoas. (...) Penso que só nos envolvendo mais, nos acontecimentos em nosso país, conseguiremos fazer com que  barbaridades como essas sejam banidas  de nossa  rotina, de nosso dia a dia e de nossa sociedade”( AAB) 

 

As posições-sujeito, manifestadas através do uso dos anafóricos nominais em destaque, pertencem à FD1 não-permissiva, que é a posição ideológica sobredeterminante do discurso institucional universitário. Nessa SDR02, as nominalizações anafóricas – “erros como esses” e “barbaridades como essas” – a respeito  da passagem “acontecimentos como a queima de um índio Pataxó vivo por adolescentes” provocam um efeito de sentido similar, porque ambas poderiam ser substituídas, por exemplo,  pela  expressão “crimes  como esses”, relacionando-se, assim, aos saberes da FD não-permissiva.

Pode-se dizer que essas expressões anafóricas formam  com “crimes como esses” uma família parafrástica, oposta a outra, que se constituiria a partir de  processo por nominalização, cujas formulações fossem, por exemplo, “brincadeiras como essas”, ou ainda “coisas da juventude”, o que colocaria em jogo o saber de outra formação discursiva, a FD2.A posição-sujeito, depreendida do uso desses anafóricos, garante o funcionamento do discurso institucional. Manifesta-se uma posição-sujeito de crítica aos  jovens, reproduzindo a interpretação do assassinato do índio apresentada no texto da proposta.

O uso de expressões como ‘coisas da juventude” poderia desfazer os efeitos de uma  ilusão de que  o que foi dito só poderia sê-lo daquela maneira” ( ORLANDI, 1999, p. 65), mas não é o que ocorre. Mesmo que  outras possibilidades para o dizer que estejam sempre  virtualmente presentes, pois há outras FD(s)  na constituição do interdiscurso, a força do discurso  institucional é preponderante. Os anafóricos empregados pelo aluno revelam uma posição-sujeito cujo saber remete à FD1,mantendo,portanto, uma posição-sujeito de aliança com o discurso institucional. Embora  a aliança  com o discurso  institucional seja preponderante, esse efeito nem sempre se confirma tão claramente como no exemplo da seqüência a seguir: 

                                  

SDR03

“Para a juventude de hoje, liberdade é tudo. Mas acabam confundindo liberdade com a falta de limites das suas ações. Ter liberdade não é  sair por aí fazendo coisas erradas, causando violência e prejudicando outras pessoas.

Temos um belo exemplo, o trote  na Faculdade de São Paulo que começou com brincadeiras e acabou com a morte de um dos calouros que estava na festa se divertindo  e brincando.

Um caso que até  agora ninguém sabe se foi um acidente ou conseqüência  de uma  brincadeira inocente. “( LTJ)

 

 

                Na  SDR03, é possível identificar, através do processo de nominalização anafórica em destaque, uma posição-sujeito cujos efeitos parecem não confirmar  o saber institucional. O processo anafórico “conseqüência  de uma brincadeira inocente” está relacionado à passagem do “trote na Faculdade de São Paulo  que começou com brincadeiras e acabou com a morte  de um dos calouros”, identificando-se determinada interpretação que não se aproxima daquela  referente à FD1. É interessante notar que  não foi usada a palavra “assassinato: ”um caso que até agora ninguém sabe se foi  apenas um acidente assassinato? ou conseqüência de uma brincadeira inocente. “

            Ao filiar-se à FD02, essa posição-sujeito, através de tal anafórico, deixa de produzir o efeito de indignação, presente no processo irônico do texto motivador, afastando-se do discurso institucional. Não se observa, portanto, nessa SDR, o efeito da repetição do saber da SDR02. No caso da nominalização  anafórica, “conseqüência de uma brincadeira inocente”, constata-se uma relação de confronto com a FD1. Considera-se, então, que a interpretação realizada através desse anafórico sobre acontecimento do crime, envolvendo o calouro universitário, “trote que (...)  acabou com a morte de um calouro”,  reflete  o outro efeito discursivo, decorrente de uma posição-sujeito de não-crítica aos jovens responsáveis pela morte do estudante, num  funcionamento semelhante ao que  aconteceu com pessoas que não se sentiram afetadas pelo crime contra o índio Pataxó e que empregaram enunciados como “tudo foi apenas uma brincadeira”, “é coisa da juventude”  ironizados no texto que serve  de mote para a  escritura da dissertação.

            Tais efeitos de sentido  são fundamentais para considerar o tipo de relação que o anafórico “conseqüência de uma brincadeira inocente” estabelece a respeito do fato ocorrido na universidade: por que  uma “brincadeira inocente” e não “uma brincadeira perigosa”?  Confirmaria uma aliança com a posição-crítica em relação à ação criminosa dos jovens. Haveria, dessa  maneira, o efeito da repetição de determinado discurso, da mesma  forma como ocorre nos processos anafóricos “erros esses” e “barbaridades essas”.

            Ao contrário disso, o que se vê, a partir do processo de dessintagmatização desse anafórico, “conseqüência de uma brincadeira inocente’, é uma posição-sujeito cujo saber aponta para a FD da educação liberal permissiva, determinando uma  interpretação diferente daquela investida na posição-sujeito crítica, presente no discurso institucional . O que se observa, a partir dessas duas possibilidades, "brincadeira perigosa" e "brincadeira inocente”, portanto, são duas interpretações diferentes. Uma ligada à FD1, outra à FD2.

            A nominalização anafórica “conseqüência de uma brincadeira inocente” apresenta  uma posição-sujeito  que se identifica com um saber que mantém com a ideologia dominante uma  relação de confronto. Entre o que é dito e o que não é dito procurou-se comprovar os efeitos de uma memória  que  aponta para  duas  diferentes FDs antagônicas.

 

Conclusão

 

                                   Embora a dissertação, gênero textual no qual se inserem as seqüências discursivas de referência que constituíram o corpus discursivo desse estudo, pareça permitir maiores possibilidades de aparecimento de conflitos _ que podem ou não caracterizar  rupturas com  os saberes sedimentados socialmente _ em  função de sua natureza argumentativa, as análises  relativas ao processo de anaforização aqui realizadas, de maneira geral, apontam para um movimento inverso. 

Isso ocorreu  provavelmente à situação e ao espaço institucional em que se produziram as redações dos alunos. Mas, apesar de esse movimento ser, via de regra, de ordem parafrástica, pode-se dizer que há indícios de posições-sujeito contraditórias que permitem reconhecer  saberes diferentes dos institucionalizados, pelo menos daqueles presentes no texto da proposta da dissertação do vestibular.

                                   A dominância é o do saber da FD1; todavia, há processos anafóricos que apontam novas possibilidades de sentidos. Embora fossem  em número reduzido _  apenas dois casos_   mostram a possibilidades de rupturas frente à sobredeterminação da FD1. Portanto,  mesmo que o poder coercitivo do discurso institucional  seja maior, determinando mais densamente o movimento parafrástico, a polissemia também se faz presente.

                                   Essa afirmação se tornou possível graças à identificação das  relações entre  os processos anafóricos analisados e as posições-sujeito neles investidas. No processo de retomada anafórica por nominalização, constatou-se que os termos envolvidos mantêm uma relação  de continuidade  de sentido, que pode apresentar conflitos entre posições- sujeito  diferenciadas ou manter  determinada posição-sujeito aparentemente evidente com o referente textual.

                                   Essa continuidade de sentidos caminha em direção à crítica ao acontecimento do crime do índio Pataxó. Retomada do tipo “erros como esse”, “barbaridades como essa”(SDR1) demonstraram esse fato. A posição sujeito mostra-se inequívoca em relação à ação criminosa dos jovens. Não há atenuação nem busca  de causas que possam justificar essa ação. Um conflito maior se estabelece na  SDR2, através da retomada “conseqüência de uma brincadeira inocente”. Descaracterizada a possibilidade de ser um enunciado irônico, resta  interpretá-la como uma só posição-sujeito, vinculada  à FD2. De forma  mais contundente, a predicação “inocente” atribuída à “brincadeira” aponta para uma adesão maior à educação permissiva, pois, como pode ser inocente uma brincadeira que provoca a morte?

                                   Os processos por nominalização anafórica  constatados nas redações dos alunos revelaram, portanto,  efeitos de uma memória discursiva constituída em função de duas  FD (s) antagônicas: FD01 _ da educação não-permissiva e FD 02_ da educação permissiva. O uso dos anafóricos nominais conservou a mesma posição-sujeito crítica em relação aos jovens envolvidos no  assassinato domínio, reproduzindo a mesma posição-sujeito da ironia identificada no texto da proposta dissertativa, conformando-se o  movimento parafrástico do sentido do discurso pedagógico.   

 

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