O
léxico em leituras graduadas para estudantes de espanhol como língua
estrangeira[1]
Prof. Otávio Goes de Andrade
Depto. de Letras Estrangeiras Modernas[2]
Universidade Estadual de Londrina
Este trabalho nasceu das primeiras reflexões que foram feitas por nós por ocasião da criação do projeto de pesquisa que está em tramitação com o título “Caracterização do ensino de vocabulário da língua espanhola para brasileiros no contexto dos livros didáticos e dos dicionários”, protocolado junto à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Estadual de Londrina sob o nº 23981/05. Nossa proposta de reflexão, para o trabalho do qual ora nos ocupamos, parte do princípio de que a habilidade expressiva da fala, no concernente à ampliação e ao domínio do léxico estrangeiro, pode ser fomentada pelo exercício consistente da habilidade interpretativa da leitura. Nesta perspectiva, as leituras graduadas destinadas aos níveis iniciais de aprendizagem do idioma podem oferecer um espaço importante para o desenvolvimento de um trabalho com o léxico do espanhol. Em nossa exposição, nos apoiaremos em alguns dos pressupostos das Ciências do Léxico[3], mais especificamente na Lexicologia e na Lexicografia, estabelecendo conexões com outros pressupostos propugnados pela Lingüística Contrastiva.
O léxico como expressão de uma
cultura: o ponto de vista da Lingüística Contrastiva
Adotamos a definição de cultura
proposta por Lado (1973, p. 117) que entende tal conceito como “a conduta, os
costumes de um povo”, pressuposto baseado nas idéias cultivadas por Fries. De
acordo com Rivers (1974, p. 14), este último autor, que não apenas foi um
eminente cientista lingüístico, mas também foi, durante muitos anos, um líder
nos métodos de ensino do inglês como língua estrangeira, afirmava que “o
significado lingüístico sem significado sócio-cultural constitui mero
verbalismo”. Nesta perspectiva, não podemos dissociar língua e cultura, já que
tais fenômenos se interpenetram e se constituem em conjunto. Sendo assim, a
linguagem de um povo também reflete a cultura deste povo; as expressões
lingüísticas de um povo refletem marcas culturais deste povo. Portanto, ao
ensinar uma língua estrangeira, estamos ensinando também uma cultura
estrangeira, visto que as condutas e os costumes de um povo revestem-se de
expressões lingüísticas forjadas no seio de tal povo para expressar sua forma
peculiar de ver o mundo. Por isso, é de fundamental importância o ensino do
léxico ancorado nesta perspectiva[4],
visto que ao aprender uma nova língua-cultura, o estudante brasileiro de
espanhol filtrará e organizará o novo acervo lexical com o qual está travando
conhecimento a partir daquele já existente por ocasião da aquisição de sua
língua materna, no caso o português brasileiro.
Segundo Rivers (1974, p. 147), “o significado de qualquer palavra, numa língua estrangeira, está intimamente relacionado com o comportamento, na cultura estrangeira, em relação ao objeto ou aos processos que representa e às experiências de um membro nativo da cultura, com respeito a este objeto”. Vejamos como esta idéia poderia ser plasmada em um exemplo. O trecho a seguir foi tirado do romance Paula[5], no qual a autora Isabel Allende transforma em palavras a dor da perda prematura da filha. Em sua narrativa, a autora entrelaça o processo de morte da filha com várias outras histórias familiares, assim como do momento no qual vivia no Chile. Em virtude da ditadura que se instaurara em seu país natal, ela e seus familiares foram exilados na Venezuela, passando a viver em Caracas. Em sua experiência no território venezuelano, Isabel conheceu Marilena, dona da escola na qual passou a trabalhar, com quem compartilhou além da relação trabalhista, uma relação de amizade. Marilena teve fundamental importância para que Isabel Allende entendesse o novo contexto no qual se inseria, como podemos ver a seguir:
“[Marilena] me enseñó los códigos y las sutiles claves de la sociedad caraqueña, que hasta entonces no había logrado entender porque aplicaba mi criterio chileno para analizarla, y un par de años más tarde me había adaptado tan bien, que sólo me faltaba hablar con un acento caribeño. Un día encontré en fondo de una maleta una pequeña bolsa de plástico con un puñado de tierra y recordé que había traído de Chile con la idea de plantar en ella las mejores semillas de la memoria, pero no lo había hecho porque no tenía intención de establecerme, vivía pendiente de noticias del sur, esperando que cayera la dictadura para regresar. Decidí que ya había aguardado bastante y en una discreta ceremonia íntima mezclé la tierra de mi antiguo jardín con otra venezolana, la puse en un macetero y planté un nomeolvides. Brotó una planta raquítica, inadecuada para este clima, y pronto murió chamuscada; con el tiempo la reemplacé por una exuberante mata tropical que creció con voracidad de pulpo.”
Mesmo pertencendo ao mesmo grupo lingüístico, hispano-falante, torna-se patente no trecho em epígrafe que a forma de ver as coisas de Isabel Allende tinha a ver com o mundo chileno. O ritual de plantar um vaso no qual misturara terra chilena com a venezuelana demonstra, por um lado, que a planta chilena fora de seu habitat natural não tem a mesma vitalidade que a planta venezuelana, que se desenvolve plenamente em seu contexto. Por outro lado, também demonstra sua conscientização de que estar em contexto estrangeiro requer uma adaptação, nem sempre conseguida sem reflexão e ajuda.
Cremos que, ao ensinar uma língua estrangeira, devemos sensibilizar nossos alunos no tocante a esta evidente relação língua-cultura e, conseqüentemente, situa-los como falantes de uma língua com determinada realidade frente à sua identidade de estudante de outra língua, com outra realidade. Um posicionamento assim estabelecido talvez possa construir uma postura diferenciada no que se refere à importância que a língua estrangeira tem como um todo para o aluno e, em particular, como o aluno e o professor envolvem-se com a aprendizagem do léxico da nova língua.
A contribuição da Lexicologia
e da Lexicografia para o ensino de línguas
Como anteriormente demonstrado, a importância das palavras para o ser humano é algo sob certo aspecto transcendental, nós somos as palavras e as palavras nos refletem. Desta forma, o trabalho teórico sobre as palavras desenvolvido pela Lexicologia e pela Lexicografia constitui importante subsídio para o ensino de língua em geral, como vemos a seguir:
“Ao lexicógrafo, pois,
compete, mais especificamente, a tarefa de classificar as lexias de um grupo
sócio-lingüístico-cultural, segundo critérios e normas lexicográficas propriamente
ditas. Desse modo, o produto do trabalho lexicográfico manifesta-se em vários
tipos de obras, como sejam: a) dicionários monolíngües; b) dicionários bilíngües ou plurilíngües; c)
dicionários de sinônimos e de antônimos; d) dicionários inversos; e) dicionários
analógicos; f) dicionários enciclopédicos; g) vocabulários; h) glossários; i)
vocabulários de freqüência; j) thesaurus; l) vocabulários fundamentais;
m) vocabulários específicos, como por exemplo, os vocabulários
técnico-científicos (BARBOSA, 1980, p. 264)”.
A citação acima nos permite afirmar que a tarefa de selecionar as palavras para formar um vocabulário ou um glossário em um livro de leitura graduada é, em última instância, um trabalho de Lexicografia. Desta forma, tornam-se imprescindíveis os pressupostos das ciências do léxico na produção de materiais didáticos voltados para o ensino de uma língua estrangeira. Podemos ir um pouco mais além, afirmando que as figuras do Lexicólogo e do Lexicógrafo são fundamentais em uma equipe que tem o papel de criar materiais didáticos.
Aprendizagem do léxico de uma
língua: um processo multifacetado
Biderman (1998, p. 164) afirma que “o léxico constitui um sistema aberto de demarcação praticamente impossível” completando que “o crescimento do léxico faz-se numa progressão geométrica, em vista da criação contínua de palavras novas”. Para discorrer sobre a aprendizagem do léxico de uma língua estrangeira, não podemos excluir uma breve reflexão sobre o mesmo processo na língua materna. No tocante à língua materna, Garcia (1988, p. 155 / 156), numa exemplificação sobre a importância do vocabulário no sucesso profissional, afirma que:
”para vencer na vida, além de ter um bom
vocabulário; outras coisas se fazem, evidentemente, necessárias. Mas parece não
restar dúvida de que, dispondo de palavras suficientes e adequadas à expressão
do pensamento de maneira clara, fiel e precisa, estamos em melhores condições
de assimilar conceitos, de refletir, de escolher, de julgar, do que outros cujo
acervo léxico seja insuficiente ou medíocre para a tarefa vital da comunicação
[...] De forma que um vocabulário escasso e inadequado, incapaz de veicular
impressões e concepções, mina o próprio desenvolvimento mental, tolhe a
imaginação e o poder criador, limitando a capacidade de observar, compreender e
até mesmo de sentir [...] Portanto, quanto mais variado e ativo é o vocabulário
disponível, tanto mais claro, tanto mais profundo e acurado é o processo mental
da reflexão”.
Nos pautamos na hipótese de que o ensino do léxico de um idioma estrangeiro não é a simples transposição do conhecimento léxico materno numa busca de equivalências palavra a palavra. Nossa perspectiva é a de que o processo de aprendizagem do léxico estrangeiro, assim como na língua materna, a partir do primeiro contato com uma nova palavra, se dá em várias direções interdependentes, envolvendo processos e níveis de diferentes naturezas, englobando aspectos cognitivos e sensoriais além do elemento cultural que, como vimos, também perpassa dito processo. Sobre tal visão, Baralo Otonello (2005, p 1) afirma que:
“o conhecimento de um item léxico é um processo
complexo e gradual no qual se aprende não só a forma e o significado, mas
também uma intrincada rede de relações formais e semânticas entre esse item e
outras palavras e morfemas que constituem subsistemas de diferentes níveis. O
conhecimento de uma palavra é uma representação mental de grande complexidade,
que integra diferentes aspectos e componentes cognitivos, alguns mais
automáticos e inconscientes e outros mais conscientes, reflexivos e empíricos”
(tradução nossa).
A mesma autora complementa que “podemos esquematizar o conhecimento léxico prestando atenção à forma, ao significado e ao uso da palavra, tanto na língua oral como na escrita, tanto na posição de emissor como na de interprete” (BARALO OTONELLO, 2005, p. 148-149). Ainda, de acordo com a autora, as seguintes perguntas podem manifestar tal conhecimento:
a)
Forma |
Como
soa? Como
se pronuncia? Como
se escreve? |
b)
Estrutura interna |
Que
partes se reconhecem nela? Que
partes são necessárias para expressar seu significado? |
c)Forma
e significado |
Que
significados assinala a forma da palavra? Que
forma de palavra pode ser usada para expressar o significado? |
d)
Conceito e referente |
O
que está incluído no conceito? Que
itens podem referir este conceito? |
e)Associações |
Que
outras palavras nos faz lembrar? Que
outras palavras poderiam ser usadas em seu lugar? |
f)
Uso (função) |
Em
que estruturas poderiam aparecer? Em
que estruturas se deve usar? |
g)
Colocações |
Que
outras palavras ou tipos de palavras aparecem com ela? Que
outras palavras podem / devem ser usadas com ela? |
h)
Restrições de uso (registros, freqüência...) |
Onde,
quando, com qual freqüência pode-se
encontrar esta palavra? Onde,
quando, com que freqüência pode-se usar? |
(tradução nossa)
Lado (1973, p. 82), aludindo às idéias de Fries, define ‘palavra’ tendo em vista a perspectiva do uso da mesma pelos falantes nativos de uma língua natural e pelos aprendizes de uma língua na qualidade de estrangeira. Para o autor, “uma palavra é uma combinação de sons que serve como estímulo para trazer à atenção a experiência à qual se uniu pelo uso”, ressaltando que “enquanto que a experiência que é estimulada pela combinação de sons é um todo com variedade de contatos, geralmente só um aspecto desta experiência chama a atenção –um aspecto particular determinado por todo o contexto da situação lingüística”. Lado argumenta que “quando se usa cabeça em um contexto como cabeça de repolho, a forma é um aspecto dominante da experiência que entrou em contato com a entidade material, um repolho” e que “quando alguém usa cabeça em um contexto como a cabeça do departamento, é a cabeça como parte principal ou dominante do corpo”. Além dessas possibilidades, quando se usa a mesma lexia “em a cabeça do rio, nos chama a atenção sobre outro aspecto da relação da cabeça com o corpo”. O autor conclui ponderando que:
A partir de um ponto de vista prático, os vários e
diferentes significados de uma palavra que se encontram no dicionário são os
aspectos particulares da experiência, estimulados por uma palavra que se
destacou na atenção dos usuários desta palavra, tal como estes aspectos podem
ser inferidos no contexto de um número grande de citações nas quais aparece a
palavra. Para o falante nativo de um idioma, o símbolo, com a ampla gama de
experiência que estimula, está tão intimamente embebido na contextura de seu
pensamento que ele, com grande liberdade, lança mão de qualquer aspecto desta
experiência segundo as exigências de seu pensamento. Os “significados” das
palavras, portanto, são mais fluidos do que pensamos. Para o falante
estrangeiro de uma língua que aprende esta nova língua como adulto, é provável
que as palavras como estímulos nunca funcionem com a mesma liberdade e plenitude
que para o nativo.” (tradução nossa)
Tendo em vista tais referenciais, cremos que as leituras graduadas, assim como a leitura de textos de forma geral, possuem uma considerável importância no processo de aprendizagem do léxico, pois propiciam a apreensão da unidade léxica em contexto, constituindo-se como um passo adiante das tradicionais listas de palavras que comumente costumamos encontrar nos materiais didáticos.
Leituras graduadas: uma visão
do que se espera de um aprendiz iniciante
O quadro a seguir sintetiza o que se espera do aprendiz de espanhol no nível inicial de estudo do idioma, a partir das diretrizes do Plan Curricular del Instituto Cervantes (INSTITUTO CERVANTES, p. 33-43):
COMPREENSÃO ORAL
|
Em relação direta com um interlocutor que tenha em
conta que está dirigindo-se a um estrangeiro principiante, o aluno deverá
compreender enunciados que se refiram
a necessidades materiais e relações sociais da vida cotidiana; sensações
físicas e sentimentos que se tenham formulado explicitamente; opiniões
pessoais expressadas de forma explícita e simples. Através dos meios de comunicação, entender a
informação essencial de mensagens relacionadas com os temas do currículo e
recebidos em boas condições acústicas. Variedade de língua: espanhol geral com uma de sus
normas cultas. |
PRODUÇÃO ORAL
|
Em relação direta com um interlocutor, o aluno
deverá ser capaz de emitir enunciados relativos aa necessidades básicas e
fórmulas sociais da vida cotidiana; sensações físicas e estados de ânimo;
opiniões e sentimentos. |
COMPREENSÃO
ESCRITA
|
O aluno será capaz de entender o essencial de
textos autênticos curtos relacionados com necessidades básicas da vida
diária, como cartas e notas pessoais, etc. Compreenderá textos breves que ratem sobre temas
do currículo proporcionem informação de forma explícita. Selecionará informação específica em textos
autênticos da vida diária, como guias, programas, “carteleras”, etc. Se tratará sempre de textos que se refiram a temas
familiares ao aluno. Em caso de que os textos contenham alguns
elementos gramaticais ou léxicos desconhecidos para o aluno, este será capaz
de extrair a informação básica a partir do contexto e de uma compreensão
global. |
PRODUÇÃO ESCRITA
|
O aluno deverá ser capaz de escrever sobre as
necessidades básicas da vida cotidiana. Elaborar descrições e narrações breves mediante o
uso de enunciados simples enlaçados com os conectores essenciais. A mensagem será compreensível para o destinatário,
ainda que o texto possa conter alguns erros ortográficos, léxicos e gramaticais. |
(tradução nossa)
Tendo em vista os indicadores acima, buscaremos em nossa análise traçar o perfil de duas obras concebidas como leituras graduadas destinadas a estudantes de espanhol de nível inicial.
Frank é detetive particular.
Tem um escritório com duas divisões. A primeira é para a secretária, Alejandra,
e a segunda para ele. Alejandra é estudante e trabalha apenas algumas horas
pela tarde. Frank está sempre viajando. Jorge usa seu escritório para escrever
contos e romances. Em sua casa não pode escrever, há pouco espaço e muito
barulho. A oficina de Frank é escura, silenciosa, e está cheia de mistério. Há
livros, papéis e um computador. E silencio. Algumas pessoas acreditam que Jorge
é ajudante de Frank. Ele está sempre em seu escritório e sabe um pouco de tudo.
Um detetive deve saber de tudo um pouco. A mulher de Jorge é médica. Ele faz
perguntas para ela e lê seus livros, portanto ele sabe um pouco de medicina.
Têm conhecimentos de mecânica e eletricidade, e sabe programar computadores. As
linguagens de programação são simples, têm poucos verbos, poucos substantivos,
e uma gramática simples. Entretanto, ele gosta mais das linguagens que falam as
pessoas. Ele se interessa mais por seres humanos do que pelas máquinas. Quando
Frank passa pelo escritório, os dois vão tomar café em um bar, onde Frank conta
suas aventuras para Jorge. Tais aventuras lhe servem de argumento para seus
romances. Mas nem sempre é assim: em algumas ocasiões, ele mesmo resolve casos.
E quando ele não tem histórias reais, ele as inventa:
|
AUTOR
|
Mario Ferrari |
EDITORA
|
Arco / Libros |
ANO DA PUBLICAÇÃO
|
2000 |
CIDADE DE PUBLICAÇÃO
|
Madri |
NOME DA COLEÇÃO
|
Serie lecturas graduadas |
RESPONSÁVEL PELA COLEÇÃO
|
Francisco Moreno |
ISBN
|
84-7635-432-0 |
NÚMERO DE PÁGINAS
|
57 |
AS ATIVIDADES ESTÃO INSERIDAS NO LIVRO DO ALUNO?
|
Sim |
HÁ RESPOSTAS DAS ATIVIDADES NO LIVRO DO ALUNO?
|
Sim |
HÁ INFORMAÇÕES / BIOGRAFIA SOBRE O AUTOR DA OBRA?
|
Sim |
Óscar tem seis anos e morre
de medo durante as noites. Muitos fantasmas o assustam, entre eles: o feroz
leão dos Correios com o que tem que se enfrentar cada vez que coloca cartas na
caixa de correios. Mas um certo dia, com a ajuda de um empregado dos Correios,
os fantasmas desaparecem e Óscar vence seus medos:
|
AUTOR
|
Vicente
Muñoz Puelles |
EDITORA |
Ática / Anaya |
ANO DA PUBLICAÇÃO |
2003 |
CIDADE DE PUBLICAÇÃO |
São Paulo |
NOME DA COLEÇÃO |
Hola ¿qué tal?
|
RESPONSÁVEL PELA COLEÇÃO |
Maria Teodora Rodrigues
Monzú Freire |
ISBN |
85-08-08661-X |
NÚMERO DE PÁGINAS |
54 |
AS ATIVIDADES ESTÃO INSERIDAS NO LIVRO DO ALUNO? |
Não |
HÁ RESPOSTAS DAS ATIVIDADES NO LIVRO DO ALUNO? |
Não |
HÁ INFORMAÇÕES / BIOGRAFIA
SOBRE O AUTOR DA OBRA? |
Não |
CARACTERIZAÇÃO
DAS COLEÇÕES
|
|
Serie lecturas graduadas |
Hola ¿qué tal? |
As “Lecturas Graduadas” da Arco / Libros
são um material de apoio para o
ensino e a aprendizagem de espanhol. A coleção tenta conjugar a literatura e
o entretenimento com a didática da língua. Os textos foram concebidos com
quatro níveis de dificuldade, segundo o grau de riqueza léxica e o nível de
complexidade sintática e discursiva de cada um dos diferentes níveis,
pautados nas seguintes características: ·
Nível inicial ( 1 ): até 800 palavras; gramática básica. ·
Nível intermediário ( 2 ): Até 1200 palavras; complexidade gramatical
media. ·
Nível avançado ( 3 ): até 1600 palavras; complexidade gramatical
avançada. ·
Nível superior ( 4 ): até 2000 palavras; gramática superior. Os exercícios ao final das leituras são voltados
para: ·
Comprovar o nível de compreensão do texto; ·
Praticar aspectos diversos da língua, segundo o nível do leitor
(questões gramaticais, questões léxicas, questões discursivas); ·
Executar, principalmente, a compreensão e a expressão escrita. |
Hola ¿qué tal? é uma coleção pensada especialmente para
os estudantes brasileiros, fruto da vasta experiência editorial e educativa
das editoras Ática e Anaya. Desde o nível básico até o avançado, esta coleção
oferece livros com atividades dirigidas a alunos e professores, além de um
glossário de palavras com palavras e expressões idiomáticas. A coleção
divide-se em três níveis: ·
Nível básico: Para alunos que tenham um nível básico de conhecimento
da língua espanhola, já que aparecem estruturas verbais que exigem ter certas
noções do uso de pretéritos e tempos compostos, assim como do imperativo. ·
Nível intermediário: Para alunos que tenham um nível intermediário de
conhecimento da língua espanhola, pois requer o domínio das formas e usos do
subjuntivo, condicional e estilo indireto, ao mesmo tempo que inclui um
vocabulário mais elaborado. ·
Nível avançado: Para alunos que tenham um nível avançado de
conhecimento da língua espanhola, já que contém um vocabulário muito rico e o
uso de tempos compostos do subjuntivo e do indicativo, assim como perífrasis
verbales e frases feitas. |
OCORRÊNCIAS QUE
FORAM OBJETO DE TRABALHO LEXICOGRÁFICO
|
||
El escritor que resuelve misterios = 12 |
Óscar y el león de correos = 46 |
|
Em forma de notas de
rodapé, ao longo da obra |
Em forma de glossário, no
final da obra |
|
Calmo / a: calmado / a, tranqüilo / a. Intervalo:
intermedio, descanso entre actos. Extraviado
/ a: perdido / a. Caminata:
un paseo largo. Sien:
lateral de la frente, entre la oreja y el ojo. Atenderse
con: ser paciente de. Concurrir:
asistir, reunir. Palmear:
dar un golpe con la mano abierta. Pasarla
mal: pasar un mal momento, tener problemas. Saco:
chaqueta. Abalanzarse:
lanzarse violentamente. Tropezar:
chocar involuntariamente con algo o alguien. |
Acercarse:
aproximar-se Ahorros:
economias Aliento:
fôlego Asomar:
aparecer Aunque:
embora Aupar:
levantar / subir Baloncesto:
basquetebol Broma:
brincadeira / piada Burbuja:
bolha Burlar: burlar / enganar Buzón: caixa de correio Caramelo: bala / doce Carcajada: gargalhada Castañetear:
tremer Colgar:
pendurar Criatura: ser sobrenatural Empujar: empurrar Enfadao: aborrecido / furioso Ensortijado: crespo (cabelo) Estornudar: esperrar Hambre: fome Hocico: focinho Jadear: ofegar |
Jersey: pulôver Juguete: brinquedo Mayores: adultos / pessoas mais velhas Miédica: medroso Pelearse: brigar Pelota: bola Peluche: pelúcia Percha: cabide Pero: mas Puntillas (de): na ponta dos pés Quitar: tirar Relamer: lamber Rizo: cacho (cabelo) Rojo: vermelho Salpicadura: respingo Saltar: pular Sobre: envelope Tampoco: também não Techo: teto Temblorosa: trêmula Tiritar: tremer Tirón, de un tirón: sem interrupção Zócalo:
friso / coluna |
TIPOLOGIA DE
EXERCÍCIOS PARA TRABALHO COM O LÉXICO
|
|
El escritor que resuelve misterios (cuestiones léxicas) |
Óscar y el león de correos (léxico) |
·
¿Qué hacemos? Cambia las
palabras subrayadas por un verbo que sea adecuado exactamente al contexto. ·
¿Dónde vamos? El
transporte. Escribe las siguientes palabras en la columna correspondiente.
Algunas puedes ponerlas en más de una columna. ·
Como en el diván. En los
tres episodios aparecen los nombres de distintas profesiones y campos.
Búscalos y asócialos con las siguientes palabras (escribe el nombre de las
profesiones en género masculino y en femenino). ·
Encuentra el adjetivo
correspondiente a la definición entre los dados. ¡Ojo! Algunos no son
necesarios. |
·
Buscar los sinónimos: a)
Creo que esto te
parecerá muy fácil; se trata de asociar una palabra de la columna A con su
respectivo sinónimo de la columna B. (Algunas palabras están el glosario). b)
Ahora, sustituye con
sinónimos las palabras subrayadas. ·
Encontrar nuevas
palabras: a)
Alguien borró las
vocales de estas palabras. Por favor; ayuda a colocarlas para devolverle a
las palabras su forma original (como está en la historia). b)
Alguien, muy despistado,
mezcló las letras de las palabras. No te enfades, pero se solicita tu ayuda y
comprensión. c)
Finalmente, intenta
formar palabras siguiendo la dirección y el sentido de las letras. |
As duas obras apresentam perfis muito semelhantes, não obstante, notam-se duas diferenças importantes: com relação à primeira dessas diferenças, a coleção da editora Arco / Libros segue a classificação utilizada pelo Instituto Cervantes, no total de quatro níveis (inicial, intermediário, avançado e superior) na divisão dos níveis das obras, enquanto a coleção da editora Ática / Anaya divide em três os níveis da coleção (básico, intermediário e avançado). A segunda diferença se refere ao público ao qual se destinam as coleções: enquanto a coleção Lecturas Graduadas destina-se a um público geral, visto que a explicação das palavras selecionadas a modo de glossário é feita em língua espanhola, a coleção Hola, ¿qué tal? se destina claramente a brasileiros, em virtude da mesma trazer nos verbetes que compõe o glossário a tradução das palavras em língua portuguesa.
Não há ilustrações no livro El escritor que resuelve misterios, enquanto que Óscar y el león de correos possui grande riqueza de ilustrações. Cremos que o uso de ilustrações pode ser um recurso que ajude o estudante a constituir uma idéia mais global do vocabulário utilizado. Entretanto, cabe ressaltar que o tipo de ilustração utilizada em Óscar y el león de correos dá um tom relativamente infantil ao livro, intenção talvez da própria editora que pensou a obra para uma faixa etária condizente com tais ilustrações.
No tocante à tipologia de exercícios utilizados para prática do léxico, nota-se uma predileção pelo trabalho com a forma gráfica das palavras na coleção Hola, ¿qué tal?, enquanto que na coleção Lecturas Graduadas há um trabalho mais consistente com palavras sinônimas, expressões sinônimas e campos léxicos.
Como em ambas obras analisadas há exercícios destinados exclusivamente ao trabalho com o léxico, está patente a falta de enunciados que remetam claramente ao uso do dicionário, seja ele monolíngüe ou bilíngüe, recurso que talvez poderia ajudar o aluno na ampliação de seu acervo vocabular e na conscientização do uso do dicionário como instrumento de aprendizagem.
A inclusão de expressões, como por exemplo “pasarla mal” e “de un tirón” são pontos positivos das obras, dada a importância que expressões idiomáticas e frases feitas possuem na língua.
O término de nosso texto não significa que tenhamos feito uma análise total, apenas foi um breve olhar, posto que o assunto sobre o qual discorremos possui uma amplitude considerável, impossível de ser esgotado em um único texto. Não obstante, quisemos demonstrar, de forma propedêutica, que o ensino profícuo do corpo léxico de uma língua estrangeira deve ser ancorado numa percepção que não dissocie o eixo língua-cultura, uma vez que o contexto de uso da palavra é o que vai dota-la de determinadas características que são peculiares do grupo que a usa. Neste sentido, as leituras graduadas nos parecem meios eficazes de ensino do léxico de forma contextualizada. Vale ressaltar que aos nossos alunos de espanhol devem ser solicitadas leituras graduadas vinculando o uso do dicionário como instrumento de consulta constante, visto que desta forma o trabalho com o léxico pode ser mais produtivo, pois a prática constante levará o aluno a um maior domínio e consolidação do léxico do espanhol.
Referências
BARALO OTTONELLO, Marta. El conocimiento gramatical
codificado en el léxico y su tratamiento en manuales del español como segunda
lengua. In: CONGRESO INTERNACIONAL DE ASELE, 15., 2004, Sevilla. Actas...
Sevilla: Secretariado de Publicaciones de la Universidad de Sevilla, 2005. p.
148-153).
BARBOSA, Maria Aparecida. Modelos em lexicologia. Língua e literatura, n. 9, 1980. p. 261-179.
BIDERMAN, Maria Teresa Camargo. A estrutura mental do léxico. In: Estudos de filologia e lingüística. Queiroz / EDUSP: São Paulo, 1981. p. 131-145.
______. A face quantitativa da linguagem: um dicionário de freqüência do português. Alfa, São Paulo, 42 (n. esp.): 161-181.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Editora Fundação Getúlio Vargas: Rio de Janeiro, 1988.
INSTITUTO
CERVANTES. Plan curricular del Instituto Cervantes.
LADO,
Robert. Cómo se comparan dos sistemas de vocabulario. Lingüística
contrastiva: lenguas y culturas. Ediciones Alcalá: Madrid, 1973. p. 82-98.
LADO,
Robert. Cómo se comparan dos culturas. Lingüística contrastiva: lenguas y
culturas. Ediciones Alcalá: Madrid, 1973. p.117-131.
RIVERS, Wilga M. Psicologia e ensino de línguas. Cultrix: São Paulo, 1974.
[1] Este projeto tem por finalidade compreender como se efetiva a aprendizagem do léxico da língua espanhola por falantes não nativos, no caso do qual nos ocupamos, brasileiros, a partir da reflexão e análise de materiais didáticos, especificamente livros-texto e dicionários. Dado que o processo de aprendizagem de línguas estrangeiras é um processo que não é passível de ser entendido em sua globalidade apenas por uma teoria, utilizamos neste projeto conhecimentos advindos de diferentes áreas, como a Lingüística Contrastiva e as Ciências do Léxico, além da Psicolingüística. Com os resultados do projeto espera-se fomentar a linha de pesquisa “Estudos Lexicológicos / Lexicográficos / Terminológicos e ensino do vocabulário em línguas estrangeiras”, que está sendo implementada no Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Estadual de Londrina. Colaboram na equipe do projeto a Profª Drª Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão e a Profª Drª Rejane Jacqueline de Queirós Fialho Taillefer.
[2] Agradeço ao Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras da Universidade Estadual de Londrina pelo fomento que propiciou a viagem ao IV SENALE.
[3] Sou imensamente agradecido à Profª Drª Aparecida Negri Isquerdo, por me aceitar como aluno especial em sua disciplina “Lexicologia e Lexicografia”, ministrada no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Londrina. Sua calorosa acolhida sul-mato-grossense me propiciou o vício delicioso das Ciências do Léxico, além da sua infinita generosidade que me facilitou muitos dos textos com os quais tenho tido contato.
[4]
“O estudo do léxico, ou a ciência da Lexicologia, tem uma longa tradição na
Lingüística Românica. No final do século XIX e primeira metade do século XX
algumas províncias desta ciência tiveram muitos cultores que produziram
trabalhos de grande prestígio, particularmente em três áreas: A) a semântica
evolutiva, ou história das palavras; b) o domínio conhecido como de “palavras e
coisas”; c) geografia lingüística. Embora privilegiando diversos tipos de
enfoques, essas três áreas sempre relacionaram o léxico à cultura. Em 1966
Manuel Alvar traduziu e publicou uma coletânea de trabalhos lexicológicos de
Gerhard Rohlfs, denominando-a Lengua y Cultura, com base no título de um
ensaio do mestre de 1928, Sprache und Kultur. Tal fato pretende ilustrar
os laços íntimos que ligam o léxico à cultura, seja qual for a perspectiva
teórica adotada pelo especialista.” (BIDERMAN, 1981, p.131)
[5] ALLENDE, Isabel. Paula. Plaza Janés: Barcelona, 1994.