O ENSINO DE PONTUAÇÃO EM UMA PERSPECTIVA TEXTUAL-DISCURSIVA

 

Maria Luci de Mesquita Prestes

(FAPA)

 

Resumo

Considerando a importância da pontuação na expressão do pensamento do escritor e como orientadora do leitor, este artigo traz algumas questões teóricas sobre a pontuação, um breve comentário sobre seu ensino e algumas propostas de atividades a serem desenvolvidas, numa perspectiva textual-discursiva, nos níveis fundamental e médio.

 

1 Introdução

A pontuação tem um papel muito importante no sentido de expressar o pensamento do escritor e, por conseguinte, orientar o leitor durante o processo de leitura. Levando isso em consideração, neste artigo, pretendemos, num primeiro momento, trazer algumas questões teóricas relativas à pontuação, tecer um breve comentário acerca de seu ensino e propor algumas atividades práticas para esse ensino, em uma perspectiva textual-discursiva, nos níveis fundamental e médio.

2 Algumas considerações teóricas

Neste trabalho, até em função de espaço, não nos deteremos em fazer um levantamento dos usos recomendados de sinais de pontuação em gramáticas ou em manuais de escrita. Tal aspecto pode ser facilmente pesquisado nesses materiais. Consideramos que, neste momento, seja mais interessante trazermos algumas questões relacionadas à função dos sinais de pontuação.

Situando historicamente a pontuação, Costa (1994, p. 13), citando Catach, estabelece seu início com o cuidado de Zenódoto de Éfeso (320-240 a.C.), responsável pela biblioteca de Alexandria, em separar por espaços as cópias de textos de autores diferentes. Naquela época a escrita era contínua. Só posteriormente, para tornar os textos mais legíveis, os escribas passaram a separar as palavras por espaços e a adicionar aos textos notas auxiliares indicativas de como recitar um determinado verso, como pronunciar certa palavra, qual a quantidade de determinada vogal, etc., chamados pontos. A pontuação então designava todos os sinais auxiliares na compreensão do texto, incluindo o que hoje denominamos acentuação.

Ressaltando a mudança constante com relação à pontuação, Costa (1994, p. 14), citando Little, considera que sua sistematização só começa a demonstrar um certo grau de estabilidade a partir do século XVII. Para ilustrar isso, a autora traz como exemplos o parágrafo e o hífen. O parágrafo, desde a sua origem, passou por várias formas, como sinal na margem do texto até a forma atual, que, em geral, tem o fim de linha em branco e o início de linha com um espaço adentrado à margem do texto. O hífen começou a ser utilizado apenas na translineação, aparecendo em muitos manuscritos sob a forma de dois traços, e atualmente também é utilizado na sinalização de palavras compostas e na união entre pronomes átonos e verbos.

Quanto ao parágrafo, mais especificamente, comenta Garcia (1992, p. 203):

Nos códices não aparece esse espaço livre (“branco paragráfico” ou “alínea”), assinalando-se, entretanto, à margem a separação do trecho anterior por um signo tipográfico constituído por dos “SS” (abreviatura de signum sectionis, i.e., sinal de separação ou de seção, que, dispostos, mais tarde, verticalmente, deram o sinal de parágrafo (§), tal como é conhecido hoje e empregado ainda nos códigos e leis principalmente.

 

Aspectos relacionados à história da pontuação também são encontrados em Arnoux, Stefano e Pereira (2002) e em Mosterín (1993), sendo que as primeiras atentam para o caráter funcional da escrita contínua até o século X d.C., tendo em vista que os textos eram ditados por seus autores e escritos por escravos, ajudantes ou secretários, que escreviam o que ouviam, sem empregar sinais de pontuação. Era o leitor – não o escritor – que, ao preparar as leituras que declamaria, tratava de divisões entre palavras ou frases e da pontuação, de acordo com o que considerava útil à leitura em voz alta. Os sinais de pontuação eram, então, colocados diretamente nos manuscritos, salientando-se que não eram estáveis nem se transcreviam quando se copiava novamente o texto.

De acordo com Costa (1994), dois avanços tecnológicos trouxeram grande contribuição à estabilidade e à universalidade do sistema de pontuação, seja em sua forma, seja em suas regras de utilização: a imprensa e o tratamento informatizado de textos. Esses avanços contribuíram para a uniformização dos sinais de pontuação: “nas várias línguas do globo há poucas variações quanto ao sistema de pontuação, apesar das barreiras lingüísticas e dos diferentes alfabetos utilizados” (COSTA, 1994, p.15).

Quanto ao papel da imprensa, de acordo com Arnoux, Stefano e Pereira (2002, p. 141), ela trouxe consigo uma produção mais estandartizada. Os impressores passaram a regularizar a ortografia dos velhos manuscritos, adotando e unificando sinais de pontuação, clareando a divisão em parágrafos e trazendo outros modos de apor títulos. Aos gramáticos, que eram vinculados aos impressores, coube a função de controle da interpretação. Assim, a pontuação e o uso de diferentes marcas gráficas deixaram de atender às necessidades de declamação oral dos textos e passaram a fundamentar-se em novos princípios lógicos e gramaticais, dos quais vêm a derivar-se os usos atuais. E como também aumentou consideravelmente o número de leitores com o advento da imprensa, tais esforços tornaram os textos mais acessíveis e facilitaram a atividade de ler, pois as divisões entre unidades distintas do texto permitem que se retorne a qualquer passagem.

Para Chacon (1998, p. 138), essas mudanças na forma de pontuar são reveladoras do “caráter semiótico da escrita”. Segundo o autor, ao abandonar-se a concepção oral da pontuação e adotar-se uma concepção gramatical e sintática, não se abandonou, entretanto, o vínculo dialógico entre escrita e oralidade, mas se reforçou a natureza semiótica do código escrito, pois se destacou a importância da sintaxe nesse código, e se apelou para a sua forma mais imediata de percepção, que é seu aspecto visual.

Adverte Costa (1994, p. 20) que alterações das regras de pontuação não se constituem em um fenômeno unilateral. Tais alterações vêm constituindo-se em um processo paralelo a modificações na estrutura frasal. Assim, o estudo da sintaxe a partir da década de 1950 contribuiu para uma maior formalização da estrutura da frase. A década de 1970, com os estudos do texto, gerou a possibilidade de sistematizar o estudo da pontuação de acordo com regras de texto, de parágrafo, de frase e de palavra. Diz Allen (2002, p. 8, tradução nossa): “A pontuação tem um único e prático propósito: tornar a escrita clara e fácil de entender.” Essa clareza está relacionada tanto à estrutura quanto ao significado das sentenças (MERRIAM-WEBSTER’S, 2001, p.1).

Costa (1994, p. 20), citando novamente Little, vê na pontuação atual um produto de três tradições distintas: a retórica, a gramatical e a tipográfica:

A tradição retórica, influenciada pela utilização da linguagem na oratória, preocupa-se primeiramente com o som e a ênfase. Por isso, é difícil nesta corrente a enunciação de regras simples para pontuar. A tradição gramatical toma como ponto de referência a estrutura frásica. Partindo de algo mais definido que a tradição anterior, esta tradição contribui para a elaboração de regras gerais. A tradição tipográfica resulta de um esforço conjunto entre o autor e o editor e tem em conta o produto final na página escrita.

 

Ressaltando a importância da pontuação, Passos (1967, p. 15) lembra o seguinte:

Um dos fatos mais interessantes da linguagem é a pontuação. Há alguns séculos, considerada de menor valia, os escritores e gramáticos, no decorrer do século XIX, vieram, entretanto, à custa de esforços, enaltecê-la, procurando colocá-la no lugar a que tem direito, como um dos recursos mais necessários para o domínio da respiração e mesmo do descanso, na exteriorização do discurso escrito ou falado, seja ele longo ou breve.

 

Conforme o autor (PASSOS 1967, p.15), o objetivo da pontuação é dar ao leitor, imediatamente, a ordem lógica do pensamento. Essa relação da pontuação com a expressão do pensamento também é encontrada em Carter e Nash (1995), Jones (1993), Monteiro (1991) e Shaw (s.d.).

Sem a pontuação, o leitor teria que ler e reler mais uma vez a frase para compreender seu sentido (PASSOS, 1967). Nesse aspecto, há uma aproximação com o que comprova Smith (1993, p. 81): os sinais de pontuação têm a tarefa de orientar o leitor, e “essa função de indicadora de leituras é compatível com um princípio de cooperação, pelo qual escritor e leitor compartilham ativamente a tarefa de construir significados.” Reforça Costa (1994, p. 8) que “a pontuação é um dos elementos que contribui para a coesão das idéias, para a garantia de uma intencionalidade do autor e para a orientação do leitor”.

Chacon (1998), embora acreditando que a atuação da pontuação aconteça de modo simultâneo em várias dimensões da linguagem, trata, em sua obra, para facilitar sua exposição, da pontuação nas seguintes dimensões: fônica, sintática, textual e enunciativa. Considerando a dimensão fônica, salienta-se o papel da pontuação de assinalar pausas e de delimitar contornos entonacionais. Na dimensão sintática, a pontuação é vista como o conjunto dos sinais gráficos – chamados por alguns autores de notações sintáticas ou lógicas, pois, sobretudo na tradição gramatical, a sintaxe está na base da própria caracterização da pontuação – que têm como finalidade discriminar os diversos elementos sintáticos da frase. Na dimensão textual, remete-se a aspectos gerais da organização textual e de sua pontuação, mas o autor destaca entre esses aspectos a topicalização e a coesão. Levando em conta a dimensão enunciativa, os sinais de pontuação são considerados marcas enunciativas do processo de escrita e da atividade do escritor de organizar seu texto e, ao mesmo tempo, mostrar-se como sujeito do que escreveu.

Seguindo a tradição gramatical, vamos encontrar, em outros autores, uma ênfase na questão sintática. Passos (1967) salienta a excelente colaboração das análises léxica e sintática para a pontuação. De acordo com Bas et al. (2001, p. 103), a sintaxe é o nível da gramática em que combinações de palavras formam, ou não, orações inteligíveis em uma língua. E é a pontuação que sustenta essa ordem e essa relação entre construções. Assim, a pontuação constitui-se em uma marca que colabora com o leitor na discriminação das relações e das hierarquias estabelecidas pelo escritor entre os elementos das orações e entre elas.

Conforme Beltrão e Beltrão (1989, p. 9),

Hoje a pontuação é orientada:

a) por razões sintáticas tradicionais, fundamentais;

b) por impulsos subjetivos, sendo difícil estabelecer regras para esses motivos [...];

c) por recomendação ou exigência da redação técnica, até certo ponto apenas sofisticação da redação profissional, mas responsável pelo maior número de inovações ou alterações.

 

Adverte Passos (1967, p.19) que muitas vezes o sentido de uma frase pode ser alterado por uma pontuação diferente e que constantemente a ausência de pontuação traz obscuridades e equívocos – aspectos também observados por Mandryk e Faraco (1988, p.323-325), Moisés (1988, p. 75) e Nogueira (1989, p. 71-73).

Conforme Costa (1994, p. 9), o uso irregular da pontuação pode mostrar as duas faces de uma moeda: a não-observância das regras de pontuação pode expor a mal-entendidos e arriscar a integridade do texto, mas também pode produzir efeitos que demonstram criatividade de valor artístico. Essa criatividade e o experimentalismo deliberado é que, segundo a autora (COSTA, 1994, p. 33), distinguem, por exemplo, um texto literário de um não-literário.

Costa (1994, p. 34) reforça que a pontuação vai depender do tipo de texto. Em se tratando dos textos por ela denominados “funcionais”, a autora observa o seguinte:

O texto jornalístico apresenta parágrafos curtos, recorre a títulos e subtítulos e pontuação exuberante para atrair um leitor mais ou menos distraído. O texto publicitário acentua ainda mais essas características e não hesita mesmo em chocar o leitor se isso convém à imagem do produto anunciado. Um texto informativo deve informar. Textos comerciais têm de ser rapidamente produzidos e rapidamente entendidos; o estilo é preciso. Um texto didático ensina. Para tal, não poupa meios. Utiliza para isso pausa no esforço mental do leitor em momentos determinados. Adequa a esse objetivo o tamanho dos parágrafos e das frases. Os pontos e as vírgulas acompanham e clarificam a estrutura da frase e do parágrafo.

 

Além dos sinais de pontuação que normalmente encontramos em qualquer material que trate sobre o assunto (ponto final, ponto de interrogação, ponto de exclamação, dois-pontos, ponto-e-vírgula, reticências, travessão, barra, parênteses, colchetes, aspas, hífen), Allen (2002) traz o uso de maiúscula inicial. Shaw (s.d.) e Costa (1994) trazem ainda o parágrafo, o itálico ou o sublinhado. Nogueira (1989, p. 68) também o faz, acrescentando ao itálico e ao sublinhado o negrito como sinal de pontuação.

Encontramos em Prestes (2003) menção ao uso de outro sinal de pontuação em algumas revistas de histórias em quadrinhos: breaks (optamos por preservar a expressão na língua original). Esse sinal, representado por dois hífens seguidos (- -),  não foi encontrado na grande maioria do material que pesquisamos sobre o assunto, a não ser em uma citação de margem de página atribuída a Jonathan Swift (1723): “No bom senso moderno, toda coisa sem valor impressa é iniciada com numerosos breaks – e travessões –” (ALLEN, 2001, p. 69, tradução nossa, grifo nosso.) Tal sinal de pontuação tem um uso equivalente ao das reticências.

3 Breves constatações quanto ao ensino de pontuação que se vem empreendendo

Ainda encontramos como prática, em muitas escolas, o ensino de pontuação como um conteúdo, poderíamos dizer, isolado. Esse conteúdo costuma, na maioria das vezes, já estar preestabelecido no programa e no cronograma da disciplina de Língua Portuguesa. É como se a pontuação tivesse uma certa autonomia, sem depender, por exemplo, da sintaxe (dificilmente o emprego – ou não – de um sinal como a vírgula, para exemplificar, é ensinado paulatinamente, conforme forem sendo trabalhadas as funções sintáticas) ou de outras questões relacionadas à textualidade e à discursividade.

A unidade de trabalho com a pontuação que continua prevalecendo é a frase-solta, isolada. Quando aparecem textos, não raro, apenas se omitem os sinais de pontuação de um texto original, deixando-se as maiúsculas iniciais das frases e os espaços em que os pontos deveriam aparecer, o que gera um exercício bastante automático, em que o aluno não precisa refletir muito para preencher as lacunas.

4 Algumas sugestões para trabalhar a pontuação através de textos

Para ilustrarmos possibilidades de trabalhar a pontuação em uma perspectiva textual-discursiva, trazemos a seguir três atividades, dentre que podem ser empreendidas em sala de aula.

4.1 Sugestão para alunos das séries iniciais do ensino fundamental

Esta atividade pode ser aproveitada como um mote introdutório para alunos de séries iniciais do ensino fundamental sentirem o caráter entonacional da pontuação, bem como os brancos de fronteiras de palavras como fenômenos também de pontuação.

A mosca

A mosca saiu do açucareiro.

Zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz.

Pousou numa xícara. O homem espantou-a com a mão.

Zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz.

Parou perto de outra mosca. Conversaram!

– Zzzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz!

– Zzzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz?

– Zzzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz...

– Zzzzzzzzzz zzzzzzzzz!

– Zzzzzzzzz zzzz!

– Z.

E voltaram as duas.

Zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz.

O homem tornou a afastá-las.

Zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz.

Elas tornaram a voltar. Agora eram três.

Zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz.

O homem se levantou e foi embora.

Moral: é mais fácil uma mosca espantar um homem do que um homem espantar uma mosca.

(ELIACHAR, Leon. O homem ao quadrado. São Paulo: Círculo do Livro, 1960.)

1- Leia o texto em silêncio.

2- Leia-o em voz alta.

3- Você leu todas as seqüências de z do mesmo modo, ou seja, deu alguma pausa entre elas? Por quê?

4- Você leu todas as frases no mesmo tom ou não? Por quê?

5- Qual é a função do uso de z no texto?

6- Comente sobre a moral da história.

7- Imagine que palavras estariam sendo ditas no lugar dos zz e reescreva a história.

4.2 Outra sugestão para alunos das séries iniciais do ensino fundamental

Leia a anedota a seguir:

 

O menino jornaleiro passa gritando:

– Vinte e cinco adultos enganados por um menino! Uma única criança engana vinte e cinco adultos!

– Ei, me dá um jornal! – grita um homem que vai passando.

Ele pega o jornal, abre e descobre que é um jornal velho. Vai reclamar, furioso, quando ouve o menino gritar lá de longe:

– Vinte e seis adultos enganados por um menino!...

 

(TUFANO, Douglas. Curso moderno de Língua Portuguesa. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1997, p. 64.)

 

Leia também este depoimento:

 

Planejando o futuro

 

            Nosso neto de sete anos, Kyle, fica conosco enquanto a mãe trabalha.

            - Quando eu crescer, quero ser igual a meu avô – disse Kyle uma noite durante o jantar.

            - O que você quer ser? Engenheiro? - perguntou minha mulher.

- Não.

- Músico, e tocar na banda do vovô? - insistiu ela.

- Não.

- O quê, então?

- Aposentado, para eu poder ficar em casa e brincar com meus brinquedos.

                                                                                    [ Wayne Hall, Canadá]

(Seleções, agosto 2004.)

 

Responda:

1-     Em que o depoimento e a anedota assemelham-se?

2-     Em que eles se diferenciam?

3-     Em que situações é adequado contar piadas ou anedotas?

4-     Agora preste atenção quanto ao uso de sinais de pontuação no texto.

a)      Quando começa ou termina cada nova parte dos textos, há um espaço em branco para marcar isso. A cada parte dessas chamamos de parágrafo. A cada um desses espaços em branco chamamos de branco parágrafo.

b)      Quando começa uma idéia completa, mas menor (frase), dentro dos parágrafos, a palavra é iniciada com letra maiúscula.

c)      Quando a frase traz uma declaração, é terminada por um sinal chamado ponto final (.).

d)      Quando começam as falas de personagens (pessoas que fazem parte da história contada) ou quando o narrador (quem conta a história) faz uma intervenção logo após uma fala de personagem, emprega-se um sinal de pontuação chamado travessão (-).

e)      Para indicar que o narrador vai mostrar que na linha seguinte vai aparecer a fala de um personagem, emprega-se o sinal chamado dois-pontos (:).

f)        Para mostrar que os personagens estão gritando, emprega-se um sinal chamado ponto de exclamação (!). Observe que esse sinal também pode ser usado para indicar a expressão de sentimentos como de dor, de alegria, de espanto, etc., bem como um pedido ou uma ordem.

g)      Para indicar algo em suspenso ou que ainda vai continuar, é empregado um sinal chamado reticências (...)

h)      Quando aparece alguma pergunta, usa-se, no final dela, um ponto de interrogação (?).

5-     Com base nas observações que fizemos no item anterior, procure pontuar o texto a seguir:

 

O escoteiro

Juquinha foi ser escoteiro No primeiro dia, chegou em casa todo feliz

A mãe perguntou

Fez sua boa ação hoje, filho

Fiz, mãe, mas deu um trabalhão

O que foi que você fez

Ajudei uma velhinha a atravessar a rua

Mas, meu anjo, isso não é trabalhão nenhum

Não é, hein A senhora precisava ver A velha não queria atravessar de jeito nenhum

(ZIRALDO. Anedotinhas do Bichinho da Maçã. São Paulo: Melhoramentos, 1988.)

 

6-     Faça o mesmo com o texto a seguir, agora marcando também onde precisa usar letra maiúscula e onde precisa trocar de linha para marcar novo parágrafo.

 

Pedro e Maria encontram um avestruz na rua a mãe lhes diz é melhor levá-lo ao zoológico é uma boa respondem os filhos à tarde a mãe vê de novo as crianças com o avestruz mas vocês não iam levá-lo ao zoológico e levamos agora vamos levá-lo ao cinema

(Alegria & Cia., n. 11. São Paulo: Abril, 1990.)

 

Obs.: Realizada a tarefa, o professor deve fornecer aos alunos os textos originais* para que confrontem com os seus. Ele deve atentar também para o fato de que os alunos podem pontuar um pouco diferente, em especial quando se trata do uso de pontos final e de exclamação, observando com eles quando é realmente possível fazê-lo e quando não é.

7-     Agora conte, por escrito, uma piadinha ou anedota que você conheça em que apareça a fala de personagens. Se você não se lembrar de alguma, procure criar uma pequena história engraçada. E, na sua escrita, não se esqueça de usar os sinais de pontuação adequados.

* Textos originais

O escoteiro

 

Juquinha foi ser escoteiro. No primeiro dia, chegou em casa todo feliz.

A mãe perguntou:

- Fez sua boa ação hoje, filho?

- Fiz, mãe, mas deu um trabalhão!

- O que foi que você fez?

- Ajudei uma velhinha a atravessar a rua.

- Mas, meu anjo, isso não é trabalhão nenhum.

- Não é, hein? A senhora precisava ver! A velha não queria atravessar de jeito nenhum!

(ZIRALDO. Anedotinhas do Bichinho da Maçã. São Paulo: Melhoramentos, 1988.)

 

Pedro e Maria encontram um avestruz na rua. A mãe lhes diz:

- É melhor levá-lo ao zoológico!

- É uma boa! - respondem os filhos.

À tarde, a mãe vê de novo as crianças com o avestruz.

- Mas vocês não iam levá-lo ao zoológico?

- E levamos! Agora vamos levá-lo ao cinema!

(Alegria & Cia., n. 11. São Paulo: Abril, 1990.)

 

4.3 Sugestão de atividade para alunos do final do ensino fundamental ou do ensino médio

A atividade a seguir pode ser trabalhada com alunos que já tenham conhecimento sistematizado de questões relacionadas à gramática e à sua metalinguagem.

Este texto de aluno, transcrito na íntegra, apresenta problemas que vão além da pontuação, mas vamos ater-nos a ela. E na pontuação, não vamos tratar de todos os problemas existentes. Serão propostos exercícios com apenas algumas situações, apenas para ilustrar possibilidades de aproveitar também os textos dos alunos para o ensino de gramática -- no caso mais específico, da pontuação. Salientamos ainda que não nos detemos em atividades de interpretação, tendo em vista ser o texto já ser resultante de atividades nesse sentido.

O primeiro beijo de Marcos

Marcos era um adolescente que só pensava em jogar futebol e não ligava pra mais nada, até que um dia ele estava jogando e viu uma linda garota, que estava assistindo o jogo, foi amor a primeira vista, ele não tirava os olhos dela, até então a amiga da garota fazer um sinal para Beti que um menino estava à observá-la, quando ela percebeu achou que ele era um cara simpático e bonitinho.

Depois de ter comentado isso, ela pediu para Vanessa sua amiga para falar que ela queria ficar com ele. Vanessa chegou e marcou um encontro entre os dois, mas Marcos já estava a pensar para si mesmo; e agora o que eu vou fazer nunca beijei nenhuma garota, eu não sei beijar só falta eu passar um vexame.

Já estava na hora e Beti já o estava esperando a algum tempo, até que quando ela estava indo embora ele apareceu tímido e embaraçado, Beti que já tinha alguma experiência foi direta ao assunto pois percebeu que ela seria sua primeira namorada.

Ela perguntou a Marcos: – Você já beijou alguém em sua vida, ele não sabia o que falar, até que resolveu encarar a verdade eu nunca beijei uma garota. Beti chega e fala pra ele não existe segredo nisso.

E quando ele menos esperava ele já estava à beijá-la, demorou, mas depois do primeiro beijo percebeu que não se tem nada a se temer.

(Texto produzido em 1994 por um aluno do 1o ano do ensino médio de uma escola
pública estadual da Grande Porto Alegre
.)

 

1- O que foi contado neste texto foi inventado. Mas será que foge de situações vividas na realidade pelos adolescentes? Comente.

2- Se formos pesquisar um conceito para frase, encontraremos algo semelhante a um enunciado lingüístico de sentido completo que começa com letra maiúscula e termina com algum sinal de pontuação final. Considerando esse conceito, releia com atenção o primeiro parágrafo. Será que todo ele se constitui realmente de apenas uma frase? Se você acha que não, reescreva-o, demarcando as frases com a letra maiúscula inicial e o sinal de pontuação final que julgar adequado.

3- Vamos rever uma questão gramatical:

Aposto: é o termo da oração que sempre se liga a um nome que o antecede com a função de explicar, esclarecer, identificar, discriminar esse nome. Geralmente o aposto vem separado do nome a que se refere por sinais de pontuação.

nome aposto

Lúcia, aluna do terceiro colegial, foi bem na prova.

nome   aposto

Desejo-lhe uma coisa: felicidade.

                          nome  aposto

Roubaram tudo: discos, jóias, dinheiro, documentos.

OBS.: Existe um tipo de aposto que normalmente não vem separado por sinais de pontuação, como nos exemplos que seguem:

A cidade de São Paulo a rua Altinópolis o rio Amazonas

     nome   aposto         nome  aposto      nome   aposto

A esse tipo de aposto dá-se o nome de aposto de especificação.

(TERRA, Ernani. Curso prático de gramática. 6. ed. São Paulo: Scipione, 1993. p. 214-215.)

Revista essa questão, releia atentamente o segundo parágrafo e procure ver em que situação temos caso de aposto. Constatada tal situação, verifique se há necessidade ou não de pontuar o aposto. Havendo, reescreva a frase em que ele encontrar-se, empregando o sinal de pontuação adequado.

4- Vamos relembrar mais algumas coisas: em um texto, quando aparece a fala de um personagem na voz dele mesmo, temos discurso direto. Tal tipo de discurso pode ser marcado, na escrita, por dois sinais de pontuação:

Travessão:

O empregado entra na sala do patrão e diz:

– Sr. Rezende, desculpe-me, mas há três meses não recebo salário.

O patrão olha fixamente nos olhos do empregado e diz:

– Está desculpado.

(Seleções, jun. 2004. p. 45.)

 

Aspas:

ANS e seguradoras transferem reunião

Brasília - As negociações entre a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e as seguradoras de saúde emperram. Depois de afirmar que uma solução para o conflito causado pelos reajustes das mensalidades dos contratos antigos – anteriores a janeiro de 1999 – estava próxima, a diretora da ANS, Maria Stella Gregori, admitiu ontem que os entendimentos não avançaram.

Um novo encontro que estava marcado para hoje acabou sendo transferido para a próxima semana. “Não conseguimos avançar”, disse Maria Stella. Nem a agência nem as seguradoras de saúde informaram os motivos do retrocesso nas negociações. As seguradoras querem cobrar dos clientes antigos reajustes médios de 80%, valor considerado abusivo, na avaliação da ANS.

(Correio do Povo, 23 jul. 2004. p. 11.)

 

a) Com base nesses exemplos, responda: como se inserem nos parágrafos desses dois textos os discursos diretos marcados por travessão e os marcados por aspas?

b) Agora atente para o quarto parágrafo do texto de aluno que estamos analisando. Nele aparecem dois discursos diretos. Identifique-os e reescreva o parágrafo com a pontuação adequada.

c) Ainda atentando para esses dois discursos diretos, que tipo de frase temos no primeiro? Será que a pontuação dela está adequada? Se não está, cuide também desse detalhe na reescritura do parágrafo – se já não o fez.

5 Conclusão

O que trouxemos aqui foi uma pequena amostra de possibilidades para o professor empreender um ensino de pontuação com base em textos – nos quais se manifestam discursos. Ele pode – e deve – explorar não apenas as situações em que a pontuação se dá de acordo com o que preconizam as gramáticas ou os manuais a ela dedicados, mas também aquelas que “subvertem” as regras, como muitas que aparecem em textos literários e publicitários. Não quisemos, e não queremos, passar receitas prontas, mas estimular professores e futuros professores a procurarem, com os textos trabalhados no dia-a-dia de sala de aula, fazer desse ensino não algo que se aprende solto, em aulas determinadas num cronograma e presas a ele, mas algo que precisa ser visto num processo contínuo e recursivo, de acordo com as situações comunicativas vivenciadas na escola.

Assim procedendo, o professor estará colaborando para que esse aprendizado não se restrinja só ao espaço escolar, mas sirva para que o aluno possa constituir-se efetivamente como cidadão também pelo uso eficiente da língua escrita nas outras situações comunicativas que vivenciar nos demais setores da sociedade em que estiver inserido.

Referências

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CARTER, Ronald; NASH, Walter. Seeing through language: a guide to styles of English writing. 4. ed. Oxford: Blackewll, 1995.

 

CHACON, Lorenço. Ritmo da escrita: uma organização do heterogêneo da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

 

COSTA, Maria Rosa. A pontuação. Porto: Ed. Porto, 1994.

 

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 15. ed. Rio de Janeiro: Fund. Getúlio Vargas, 1992.

 

JONES, Leo. Progress to proficiency. 4. ed. New York: Cambridge, 1993.

 

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MONTEIRO, José Lemos. A estilística. São Paulo: Ática, 1991.

 

MOSTERÍN, Jesús. Teoria de la escritura. Barcelona: Içaria, 1993.

 

NOGUEIRA, Rodrigo de Sá. Guia alfabética da pontuação. 2. ed. Lisboa: Clássica, 1989.

 

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