A LEITURA NA CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DE MULHERES EM RELAÇÃO À ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS¹[1]

 

 

MOURA, Marciele Melo de²

OLIVEIRA, Sandra Maria do Nascimento de³

COLAÇO, Silvania Faccin4

 

 

RESUMO: Sabe-se que a leitura não deve ser vista somente como a decodificação do código lingüístico, mas principalmente como um meio de elaboração de sistemas de referências e valores, imprescindíveis para a formação e o desenvolvimento intelectual do ser humano. Desse modo, tem-se discutido o papel do letramento na alfabetização e na leitura, tendo em vista as pesquisas sobre o ato de ler. O presente trabalho busca conhecer e avaliar o nível de leitura da mulher santiaguense como forma de construção de sua identidade no contexto de alfabetização de adultos. Segundo Moita Lopes (2003), identidade é um conjunto de características e mudanças culturais, sociais, econômicas, políticas e tecnológicas que estão atravessando o mundo e que são experienciadas, em maior ou menor escala, em comunidades locais, contribuindo, dessa forma, para que se estabeleça a individualização de cada cidadão. No município de Santiago, buscou-se verificar a realidade de leitura das mulheres, acima de 18 anos de idade, moradoras dos 31 bairros de Santiago. Foram entrevistadas mulheres alfabetizadas, aspirando conhecer seus hábitos e preferências na leitura e mulheres analfabetas na tentativa de divulgar as causas que contribuíram para o fato de não saberem ler e escrever. Constatou-se que as entrevistadas alfabetizadas, na sua maioria, consideram a leitura um meio de aquisição de conhecimentos, porém, reconhecem que não têm o hábito da leitura, justificando, principalmente, pela falta de poder aquisitivo para obter livros e pela falta de tempo. Quanto às mulheres analfabetas, justificaram o fato de não saberem ler e escrever, devido à idade avançada e a doenças, motivos que impossibilitam a locomoção das entrevistadas analfabetas até as escolas. Dessa forma, considera-se esta pesquisa de muita importância para acadêmicos do Curso de Letras e estudantes de áreas relacionadas, pois ela investiga sobre os traços lingüísticos que contribuem na construção da identidade de mulheres santiaguenses, em relação à leitura e à alfabetização. 

Palavras-chave: leitura – mulher/identidade – alfabetização

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

 

Inúmeros trabalhos têm sido realizados, atualmente, ressaltando e confirmando a importância do ato de ler, dentro e fora da escola, como forma de conhecimento do mundo e do homem. Ezequiel Silva (1981, p. 42) enfatiza que a “leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento e mais essencial ainda à própria vida do ser humano”. Assim, considera-se a leitura como geradora de descobertas lingüísticas e de realidades situadas em tempos e espaços diferentes, possibilitando o crescimento intelectual, psicológico e social do homem.

Considerando o já mencionado, a presente pesquisa busca analisar a realidade de leitura e alfabetização das mulheres adultas (acima de 18 anos de idade), moradoras em Santiago, RS e estudar os traços lingüístico-textuais que contribuem para construir sua identidade no contexto de alfabetização de adultos. Para isso, através de uma pesquisa de campo, foram visitados 0,5% dos domicílios de cada bairro, somando 731 domicílios e 374 entrevistadas. As entrevistas foram realizadas de forma aleatória, ou seja, de cinco em cinco domicílios totalizando quatro quarteirões de cada bairro do município de Santiago.

A partir da tabulação e análise dos dados, espera-se dar sustentação à prática comunitária da URI Santiago, principalmente em relação  a uma proposta pedagógica de alfabetização de adultos. Com isso, acredita-se estar contribuindo com o processo de inclusão social da mulher adulta nesta comunidade.

 

2 REVISÃO DA LITERATURA E FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1 O ato de ler

            Para Silva (1981), ler é um movimento ativo e consciente do leitor, exigindo entrega e escuta, suor e esforço, paciência e instrumentação. Enquanto expressão da linguagem, enquanto estimulação do desejo, a leitura não apenas expressa a vida, mas sinaliza implicitamente como a vida pode ser de outra maneira. Pela leitura, o leitor “sai de si”, aventura-se, alarga seu campo de experiências e, neste percurso, aguça a sua compreensão de fenômenos culturais. Enfim, é pela leitura que o leitor conhece tudo que é possível conhecer, vai além das palavras, lê o mundo e obtém conhecimento.

Leffa define leitura como:

Basicamente um processo de representação. Como esse processo envolve o sentido da visão, ler é na sua essência, olhar para uma coisa e ver outra. A leitura não se dá por acesso direto à realidade, mas por intermediação de outros elementos da realidade... Ler é, portanto, reconhecer o mundo através de espelhos. Como esses espelhos oferecem imagens fragmentadas do mundo, a verdadeira leitura só é possível quando se tem um conhecimento prévio desse mundo. (1996, p. 10)

  

 Deve-se destacar que a leitura não pode ser considerada apenas como a decodificação de sinais e a reprodução mecânica de informações ou como estímulos pré-elaborados com respostas convergentes. A leitura vai muito além disso, pois é através dela que se dá vida a algo inanimado. A leitura é uma experiência individual, sem demarcações de limites, não depende somente da decifração de sinais gráficos, mas sim de todo o contexto ligado à experiência de vida de cada ser, para que este possa relacionar seus conceitos prévios com o conteúdo do texto e, assim, construir o seu sentido.

Nesse sentido, Bamberger (1991, p. 10) evidencia que “a leitura é uma forma exemplar de aprendizagem”, pois é um passaporte para o desenvolvimento da linguagem e da personalidade, de onde se abstrai conhecimento e cultura. 

 

2.2 Alfabetização de adultos

            Elias Galvêas (2005), em uma pesquisa sobre a história da alfabetização no Brasil, considera que ao se falar em alfabetização é necessário, primeiramente, observar os fatores históricos que influenciaram para a situação atual, neste contexto. A educação de adultos no Brasil ganhou maior importância a partir de 1932, com a Cruzada Nacional de Educação, seguido da Cruzada ABC, em 1952, de inspiração evangélica. Todavia, o programa mais importante foi o “Movimento Brasileiro de Alfabetização” – MOBRAL, criado em 1967. Em 1981, o MOBRAL foi substituído pela Fundação EDUCAR, que passou a dar prioridade ao ensino pré-escolar. Em 1990, o Governo lançou O PROGRAMA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO, praticamente sem resultados.

A preocupação com a alfabetização para todos, independentemente das classes sociais a que o indivíduo pertença, tem sido preconizada em diversos países, na forma de educação pública, universal e gratuita. Mas, afinal, quando uma pessoa pode ser considerada alfabetizada, quais os critérios para essa avaliação?

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), basta que o indivíduo responda “SIM” à pergunta “VOCÊ SABER LER E ESCREVER?” para ser considerado alfabetizado. Segundo Rosemeire Monteiro (2003) “já em alguns países da Europa, é necessário ler um pequeno texto instrucional e seguir as instruções nele presentes, sem a intervenção do entrevistador, e/ou compor um texto de aproximadamente quinze linhas sobre seu cotidiano ou dados de sua vida (local de nascimento, estado civil, grau de instrução, ocupação, dados sobre seu bairro, etc.)”.

Adota-se aqui a idéia de que alfabetizado é aquele capaz de realizar habilidades inerentes à alfabetização: a decodificação e codificação dos sistemas escritos, de maneira compreensível. Sob uma perspectiva psicológica, a alfabetização constitui um conjunto de habilidades instrumentais que envolvem processos cognitivos que operam na produção e compreensão do texto. A alfabetização passa, portanto, pelo contato com o código escrito, o que pode ocorrer dentro ou fora do ambiente escolar, mas que deve necessariamente fazer parte de um processo de aprendizagem. 

 

2.3 Identidade e mulher

Tendo como idéia básica a leitura, pretende-se, neste estudo, reconhecer sua influência na identidade da mulher. As diferentes construções identitárias nascem em contextos sociais específicos e devem ser pensadas em uma perspectiva relacional, ou seja, como resultantes das relações sociais que ocorrem no cotidiano dos atores sociais, e não como propriedades intrínsecas compostas por uma essência imutável. Assim, considera-se identidade como as características sociais que contribuem para a formação da individualidade de cada ser humano.

            Compreende-se que a construção da identidade social de um indivíduo ocorre dentro de um contexto cultural, marcado, também, por relações de poder, sobre o qual a sociedade historicamente se estabelece. Percebe-se, então, uma busca pela definição identitária das mulheres, procurando construir uma identidade capaz de redefinir sua posição dentro da sociedade. Acerca dessa identidade, observa-se a grande influência da leitura, da alfabetização e do letramento na nova consciência que vem sendo construída pela mulher.

 

2.4 Mulher e alfabetização

Mesmo com seu crescente papel na sociedade e sua posição crítica perante o mundo, a mulher ainda precisa conquistar muitos espaços. Fernanda Sciascio (2005, p. 5) observa que “dois terços dos 876 milhões de analfabetos do mundo são mulheres e não há perspectiva de que esse número diminua significativamente nos próximos 20 anos”. Por isso, a alfabetização de mulheres torna-se uma tarefa muito importante na causa de combater o analfabetismo em escala mundial.

Realizando um estudo histórico a respeito da alfabetização da mulher no Brasil, observa-se que, apenas em 1800 foi reconhecido que a população feminina merecia ser educada, devido a sua importância para a constituição de um novo país. A primeira legislação relativa à educação feminina surgiu em 1827 e permitia a criação de escolas elementares, somente de meninas. Porém, tais escolas deixavam a desejar, tanto pelo número insuficiente de estabelecimentos, como pela qualidade de ensino ministrado: os mestres só poderiam ser do sexo feminino e como, em geral, as mulheres não tinham uma boa educação, conclui-se que professoras não tinham a instrução necessária.

Aos poucos, surgiram os periódicos contra-revolucionários e feministas, como “O Sexo Feminino”, fundado em 1873 pela professora mineira Francisca Senhorinha da Motta Diniz, levantando a bandeira da educação feminina e alertando as mulheres que o inimigo com quem lutavam era a ignorância sobre os seus direitos e sobre a importância de sua participação na sociedade e do “Jornal das Senhoras”, o primeiro jornal editado por mulheres no Brasil. Apesar de elitistas e seletivas quanto ao poder aquisitivo, essas ações propiciaram um avanço na condição da mulher na sociedade.

No entanto, “o cotidiano das jovens no interior das escolas era planejado e controlado. Elas deviam estar sempre ocupadas e envolvidas em atividades produtivas. Seus movimentos eram distribuídos em espaços e tempos regulados e reguladores” (Guacira Louro 1997, p. 459). Assim, entende-se que o histórico da mulher, quanto à alfabetização, vem carregado de limitações e obstáculos, pois, após um longo atraso quanto aos direitos de freqüentar escolas, o nível de ensino e de expressão de pensamento vem desde o princípio com grandes barreiras em relação ao desenvolvimento educacional e social da mulher brasileira.

 

2.5 A mulher em relação à leitura no contexto de alfabetização de adultos

Sabe-se que a leitura é um procedimento indispensável à aprendizagem em todas as disciplinas e níveis de escolaridade e, além disso, é através da leitura que o leitor executa o ato de compreender o mundo e, assim, melhora seu convívio e sua atuação social, política, econômica e cultural, apreende significados e estabelece uma relação com a cultura, com a história, com o social e com a linguagem.

Reconhecendo o papel da leitura e, logo da alfabetização, na vida de um indivíduo, torna-se difícil imaginar que uma pessoa passe sua existência sem usufruir da leitura e da escrita. Nesse sentido, quase sempre, as mulheres ficam em desvantagem em comparação aos homens porque as famílias não acham relevante que a mulher estude. Por diversos motivos, às vezes, as pressões econômicas são fatores determinantes para que apenas os filhos tenham o privilégio de freqüentar a escola. Ou, devido aos papéis tradicionais desempenhados pelas mulheres adultas, como tomar conta da família (muitas vezes, independente de classe social). Assim, pouco tempo e disposição lhes restam para alcançarem um alto grau de escolaridade.

Nesse sentido, aspira-se saber como o processo de alfabetização e o hábito da leitura influenciam na vida das mulheres santiaguenses, como forma de crescimento intelectual, social e cultural, repercutindo, assim, na identidade dessas mulheres.

 

3 RESULTADOS

 


No Curso de Letras, tem-se discutido o papel do letramento na alfabetização e na leitura, tendo em vista a formação da identidade do cidadão. Outra questão bastante discutida na sociedade atual é a participação da mulher no contexto sócio-cultural. Em vista disso, realizou-se essa pesquisa com as mulheres moradoras dos 31 bairros de Santiago.

Abaixo, vê-se a relação dos principais gráficos tabulados, a partir dos dados coletados nas entrevistas feitas nos bairros de Santiago.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3.1 Gráficos feitos a partir das entrevistas com mulheres alfabetizadas e analfabetas

 

Gráfico 1.  Grau de escolaridade:

 

 

Gráfico 2. Renda Mensal:


 

 

3.2 Gráficos feitos através das entrevistas com mulheres alfabetizadas

 

Gráfico 3. Você gosta de ler?

 

Gráfico 4. Qual a média de livros que você lê anualmente?

 

Gráfico 5. O que você prefere ler?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3.3 Gráficos feitos através das entrevistas feitas com mulheres analfabetas

 

Gráfico 6. Por que você ainda não se alfabetizou?

 

Gráfico 7. Você tem vontade de se alfabetizar?

 

Gráfico 8. Você sente falta da leitura em que situações?

 

 

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Número de entrevistadas

Foram visitados 731 domicílios. Pelo fato de que as entrevistas foram realizadas em horários de expediente de trabalho, em muitos domicílios não havia ninguém em casa para responder a entrevista. Em outros casos, havia somente homens, crianças ou jovens como responsáveis pelo domicílio, não podendo responder às perguntas, pois a proposta da pesquisa atinge apenas mulheres maiores de 18 anos. Devido a esses dois fatores, foram entrevistadas 374 mulheres, enquanto passou-se por 731 domicílios.

Dessas 374 mulheres, 92% são alfabetizadas, o que equivale a 344 mulheres. Enquanto 8%, (30 mulheres) são analfabetas. Quanto a esse resultado, pode-se afirmar que o nível de analfabetismo em Santiago, como em todo o Brasil, vem diminuindo gradativamente, como considera a socióloga Regina Faria ao pesquisar sobre o projeto Alfabetização Solidária. Ela mostra que, nos municípios pesquisados, além de apontarem uma série de melhorias na qualidade de vida da comunidade, há uma forte diminuição do analfabetismo e um aumento da escolaridade da população.

            Santiago, por ser também foco desses tipos de projetos (como EJA, Alfabetização Solidária, BB Educar, e outros de nível municipal), vem melhorando suas perspectivas quanto à alfabetização. Principalmente, em relação à alfabetização de mulheres adultas.

 

4.2 Relação: mulheres analfabetas e alfabetizadas

Ao observar os dois gráficos relacionados às mulheres entrevistadas, tanto analfabetas quanto alfabetizadas, pode-se observar que, quanto ao grau de escolaridade (gráfico 1), 59% das mulheres cursaram até a 8ª série. Percebeu-se, durante as entrevistas, que muitas mulheres, mesmo depois de terem atingido uma idade mais avançada, voltaram a estudar, porém o nível de graduação dessas mulheres ainda é baixo (Ensino Fundamental). Nesse sentido, pode-se considerar dois pontos relevantes, o primeiro, já mencionado, refere-se ao fato de muitas mulheres atualmente estarem buscando elevar seu nível de escolaridade, devido a tantos projetos e ações que possibilitam esse processo e também numa busca de independência, na tentativa de defender seu próprio saber, e não ficarem subordinadas a outro. O segundo ponto é o de que há muitas mulheres com apenas o nível mínimo de escolaridade (ou apenas alfabetizam-se) e param de estudar por diversas necessidades individuais, que incluem fatores domésticos, sociais e econômicos.

Passando ao gráfico 2, quanto à renda mensal percebe-se que a grande maioria das mulheres entrevistadas recebe, em média, um salário mínimo, o que revela que, pelo menos, 43% das entrevistadas possuem uma renda financeira baixa. Esse fato pode justificar o pequeno número de mulheres que assinam jornais ou revistas e compram livros. É importante ressaltar também que todas as mulheres que recebem mais de oito salários têm Ensino Superior. Disso, pode-se deduzir que quanto maior a renda mensal, maior também o grau de escolaridade.

 

4.3 Mulheres alfabetizadas

            Em relação às mulheres alfabetizadas, pode-se visualizar os gráficos 3, 4 e 5. Ao observar de um modo geral os gráficos citados, percebe-se que 78% das mulheres entrevistadas gostam de ler, enquanto 13% não gostam de ler, por motivos diversos como “sentir sono durante a leitura”, “ter problemas visuais”, entre outros.

Um fator que parece ser contraditório é que 58% das entrevistadas não leram nenhum livro no ano passado, sendo que a maioria delas dizem gostar de ler. Acredita-se que essas mulheres não leram nenhum livro, mas podem ter lido outros meios impressos, como revistas, jornais, ou qualquer outro. Isso é comprovado pelo gráfico 5, o qual mostra que, quanto ao gosto pela leitura, as mulheres entrevistadas demonstraram ser bastante ecléticas, pois evidenciaram simpatia com diversos tipos e gêneros textuais. Outro fato relevante em relação ao gráfico 5 é as mulheres citarem a Bíblia como preferência, sem considerarem-na como um livro “comum”, por isso não a classificavam como tal.

 

4.4 Mulheres analfabetas

            Quanto às mulheres analfabetas, pode-se observar os gráficos 6, 7 e 8. A partir do gráfico 6, conclui-se que 66% das entrevistadas não se alfabetizaram depois de adultas pela idade já avançada e por doenças que impossibilitam a locomoção até as escolas. Há, também, mulheres que justificaram o fato de não saberem ler e escrever pela falta de tempo para se dedicarem a esse processo. No entanto, ao responderem se ainda tinham vontade de se alfabetizar (gráfico 7), 63% das mulheres responderam “não”, pelos mesmos fatos acima mencionados. Pode-se observar, nesse gráfico, que há um pequeno grupo de entrevistadas em processo de alfabetização. É interessante observar que são mulheres com mais de 50 anos de idade e que mostraram muito interesse em continuar seus estudos, independente da idade ou das dificuldades que isso poderia trazer.

Ao examinar o gráfico 8, nota-se que metade das entrevistadas analfabetas sentem falta da leitura, justificando que gostariam de “ler algo”. Percebeu-se, nessa expressão, que as mulheres sentem falta da leitura, não “qualquer” leitura, mas as leituras da vida diária, principalmente aquelas feitas em casa, como ler uma bula, ler uma carta, um bilhete, etc. Enfim, essas mulheres sentem falta da leitura somente em momentos de necessidade, e não, por prazer, como ler um livro, uma revista ou um poema como forma de entretenimento.

 

5 CONCLUSÃO

Enfim, a partir do estudo que vem sendo realizado nesta pesquisa, é possível reconhecer que ler é um movimento ativo e consciente do leitor e exige entrega e sensibilidade, portanto contribui inevitavelmente para a construção da identidade de um indivíduo. Percebe-se, também, que a verdadeira identidade não está no documento do RG, mas sim, nas vivências e mudanças experienciadas por um cidadão, construindo, dessa forma, sua individualidade.

Além disso, após ser feita a tabulação dos dados coletados, passou-se a conhecer a realidade de leitura e alfabetização vivenciada pelas mulheres residentes no município de Santiago, percebendo alguns de seus traços ou costumes em relação à leitura e à alfabetização, tais como suas preferências e opiniões. Dessa forma, cumpriu-se dois dos objetivos propostos no projeto, o primeiro de fazer um levantamento da realidade de leitura e alfabetização das entrevistadas e o segundo de investigar a razão que leva as mulheres a se alfabetizarem.

Em razão do exposto, acredita-se estar rumo a uma nova proposta de alfabetização de adultos, tendo como principal objetivo a inserção da mulher adulta no processo educacional que a rodeia.

 

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. São Paulo: Ática, 1991.

FARIA, Regina Marta B. Impactos da Alfabetização Solidária. Seção Resultados. 2005. Disponível em: www.alfabetização.org.br. Acesso em: 25/08/2005.

GALVÊAS, Elias C. Paulo Freire e o Método de Alfabetização de Adultos. Seção Artigos. 2005. Disponível em: www.maxpages.com/elias/artigo. Acesso em: 25/08/2005.

LEFFA, V. J. Aspectos da leitura. Porto Alegre: sagra: DC Luzzato, 1996.

LOPES, Luiz Paulo Moitta (org.). Discursos de Identidade. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2003.

LOURO, Guacira L. Mulheres na Sala de Aula. In: PRIORE, Mary Del (org.). História das mulheres no Brasil. São Paulo. 2ª ed. Contexto, 1997.

MONTEIRO, Rosemeire S. Letramento na alfabetização de jovens e adultos. Seção Artigos. 2005. Disponível em: www.cereja.org.br . Acesso em: 25/08/2005.

SILVA, Ezequiel Theodoro. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. São Paulo: Cortez, 1981.

SCIASCIO, Fernanda. O que fizeram as mulheres que podem ser consideradas fundamentais à história. Revista Grandes líderes da história – 43 Grandes Mulheres. São Paulo, Ed. Arte Antiga, n. 14, p. 05, 2005.

 

             

 

 



1 Projeto de Iniciação Científica (1585) da URI Campus Santiago, Programa PIIC/URI

2Acadêmica do Curso de Letras do IV semestre – Bolsista de Iniciação Científica

3Professora Msc. Do Departamento de Lingüística Letras e Artes – Orientadora do Projeto

4 Professora Msc. Do Departamento de Lingüística Letras e Artes – Co-orientadora do Projeto