ANALFABETISMO FUNCIONAL: NOVOS DADOS

SENALE 4

Leonor SCLIAR-CABRAL

UFSC/CNPq

 

Retrospecto

 

            Ao analisarmos a categoria analfabeto funcional (SCLIAR-CABRAL, 2005), verificamos que o conceito varia no tempo, de acordo com a ideologia subjacente e aplicando-se critérios de classificação dependentes do nível de desenvolvimento econômico, científico e tecnológico dos países. Historicamente, no início, existiu apenas a dicotomia analfabetismo/alfabetismo, conforme a recomendação de 1958 da Conferência Geral da Organização Cultural, Científica e
Educacional da ONU: “a) é alfabetizada a pessoa que pode tanto ler com compreensão quanto escrever uma pequena frase simples sobre sua vida cotidiana; b) é analfabeta a pessoa que não puder tanto ler, quanto escrever uma pequena frase simples sobre sua vida cotidiana.” Posteriormente, durante a 20ª sessão da mesma Organização, que se realizou de 24 de outubro a 28 de novembro de 1978, houve uma revisão da dicotomia, com o acréscimo de: “c) é funcionalmente alfabetizada a pessoa que puder engajar-se em todas as atividades nas quais o letramento for requerido para o efetivo funcionamento de seu grupo e sua comunidade e também para capacitá-lo a continuar usando a leitura, a escrita e o cálculo para seu próprio desenvolvimento e o de sua comunidade; d) é funcionalmente analfabeta a pessoa que não puder engajar-se em todas as atividades nas quais o letramento for requerido para o efetivo funcionamento de seu grupo e de sua comunidade e também o for para capacitá-lo a continuar usando a leitura, a escrita e o cálculo para seu próprio desenvolvimento e o de sua comunidade” (UNESCO, 1979,  p. 183, trad. da autora).

            Conforme se pode constatar, houve uma evolução considerável, mas o acréscimo do conceito de analfabetismo funcional levou os pesquisadores a refiná-lo, trazendo ao debate a necessidade de classificações que não incorressem de novo no erro de uma dicotomia analfabetismo funcional/alfabetismo funcional, uma vez que não se trata de categorias discretas.

            Sendo assim, mencionaremos algumas classificações atualmente adotadas nas pesquisas. Critério por anos de escolaridade

O critério por anos de escolaridade é o adotado por Bruening (1989): a) os de zero a quatro anos de escolaridade são chamados de analfabetos funcionais; b) os de cinco a oito anos são marginalmente alfabetizados; c) os alfabetizados funcionais são os que têm nove ou mais anos de escolaridade. Desde 1990, o IBGE considera analfabeto funcional quem tem menos de quatro anos de escolaridade (no Canadá, o teto é de nove anos; nos Estados Unidos, é de oito anos e, na Espanha, é de seis anos).

Critérios ditados pela atuação resultante do aprendizado do aluno

Tais critérios tiveram origem na necessidade de “estabelecer um sistema que contemple os programas de educação de adultos através da identificação de medidas para os relatórios nacionais e suas definições, estabelecendo metodologias para a coleta de dados, com o desenvolvimento de softwares estandardizados” (DIVISION OF ADULT EDUCATION AND LITERACY OFFICE OF VOCATIONAL AND ADULT EDUCATION U.S. DEPARTMENT OF EDUCATION (doravante DAEL), 2001, p. 8). É preciso salientar que o princípio fundamental que norteou o projeto foi basear-se na atuação resultante do aprendizado do aluno, com 12 anos de escolaridade, nas suas relações com uma sociedade altamente desenvolvida científica e tecnologicamente. Os tetos numéricos decorrentes da aplicação de testes estandardizados de linguagem verbal e matemática permitiram o levantamento de características que serão examinadas mais adiante, distribuindo as populações em 6 níveis: 1. letramento inicial (Beginning ABE Literacy); 2. educação básica inicial (Beginning Basic Education); 3. educação básica intermediária elementar (Low Intermediate Basic Education); 4. educação básica intermediária alta (High Intermediate Basic Education); 5. educação secundária elementar de adultos (Low Adult Secondary Education) e 6. educação secundária alta de adultos (High Adult Secondary Education).  Observe-se que o sistema contempla mais 6 níveis para avaliar a população que não adquiriu o inglês como primeira língua, levando em consideração o alto contingente de falantes do espanhol, em primeiro lugar, e de outras línguas: 1. letramento inicial do inglês como segunda língua (Beginning ESL Literacy); 2. iniciantes do inglês como segunda língua (Beginning ESL); 3. intermediária elementar do inglês como segunda língua (Low IntermediateESL); 4. intermediária alta do inglês como segunda língua (High Intermediate ESL); 5. avançada elementar do inglês como segunda língua (Low Advanced ESL) e 6. avançada alta do inglês como segunda língua (High Advanced ESL).

O nivelamento obtido através da aferição por testes permite levantar as seguintes características para cada nível:

nível 1: o indivíduo não possui nenhuma ou mínimas habilidades de leitura e de escrita, indo desde aquele que nem consegue decodificar as letras ou utilizar os instrumentos para escrever até o que apenas reconhece as palavras e números (decodificação), mas não compreende um texto corrido ou necessita retornar várias vezes; consegue apenas escrever umas poucas palavras ou frases familiares, mensagens simples e informações pessoais: a narrativa é desorganizada, com pontuação inconsistente e com muitos erros ortográficos; nas habilidades matemáticas, além dos problemas de decodificação, já mencionados, consegue contar, somar ou subtrair números com apenas um dígito; quanto às habilidades funcionais ou laborais, está apto apenas para atividades rotineiras que não requeiram habilidades de leitura e escrita ou uso de computadores, sendo incapaz de ler mapas, de compreender outros signos, ou de preencher formulários;

            nível 2: o indivíduo consegue ler textos simples sobre tópicos familiares, compreendendo períodos simples de um só parágrafo, ou de alguns parágrafos quando contêm palavras conhecidas; pode escrever notas simples e mensagens sobre situações familiares com pouca clareza e coerência; a estrutura sintática não apresenta variação, embora seja gramatical, e o uso da pontuação é consistente; nas habilidades matemáticas, consegue contar, somar e subtrair parcelas de até três dígitos e multiplicar até 12, identificando frações simples e realizando outras operações aritméticas; quanto às habilidades funcionais ou laborais, está apto a ler comandos simples, signos e mapas, a preencher formulários que solicitam informações pessoais, a escrever mensagens telefônicas; possui conhecimentos mínimos e alguma experiência com o uso de computadores e com a sua tecnologia; preenche os requisitos de empregos que requeiram habilidades mínimas de leitura, reconhecendo textos pictóricos curtos e explícitos e pode preencher formulários simples de solicitação de emprego;

            nível 3: o indivíduo consegue ler textos sobre tópicos familiares com estrutura subjacente clara e valer-se do contexto textual para depreensão do sentido, bem como interpretar as ações exigidas por comandos escritos; pode escrever parágrafos simples com idéia principal e fornecer detalhes em tópicos conhecidos, articulando estruturas e vocabulário aprendidos; pode monitorar-se e auxiliar colegas em ortografia e erros de pontuação; nas habilidades matemáticas,  atinge alto grau de exatidão nas quatro operações, utilizando parcelas acima de três dígitos, identificando e usando todos os símbolos matemáticos básicos; quanto às habilidades funcionais ou laborais, o indivíduo dá conta  das tarefas diárias de leitura, escrita e computação, lê tabelas, gráficos, extratos de vencimentos e material autêntico de sua vida diária; pode usar programas simples do computador e cumprir uma seqüência de tarefas rotineiras que utilizam tecnologia; está apto a candidatar-se a empregos que exijam a compreensão, com esclarecimentos orais,  de instruções escritas e diagramas; pode escrever um relato escrito para seus colegas e, após a leitura de escalas, realizar mensurações rotineiras;

nivel 4: o indivíduo está apto a ler descrições e narrativas simples sobre tópicos conhecidos ou aqueles que permitem a depreensão pelo contexto textual do sentido de palavras novas; consegue realizar inferências mínimas em textos sobre tópicos conhecidos, contrastando a informação, mas não de forma consistente; consegue escrever uma narrativa ou descrição simples e pequenas dissertações sobre tópicos conhecidos; faz uso consistente da pontuação, mas produz sentenças agramaticais em estruturas mais complexas; nas habilidades matemáticas, domina as quatro operações, com números inteiros e frações, escolhendo as operações corretas para a solução de problemas e convertendo as frações em decimais e vice-versa; quanto às habilidades funcionais ou laborais, consegue manipular  gráficos, tabelas, rótulos e seguir diagramas de passos múltiplos; está apto a ler guias para a vida diária e pode preencher formulários para candidatar-se a empregos ou para negociar com bancos; pode habilitar-se a empregos que exijam compreensão de instruções escritas e diagramas simples, de textos sobre procedimentos, solução de problemas e reparos; está apto a utilizar softwares mais básicos, como processamento de textos e pode seguir instruções simples para usar tecnologia;

            nível 5: O indivíduo pode compreender textos expositivos, identificando erros de ortografia, pontuação e agramaticalidade; pode compreender uma variedade de gêneros, como jornais e revistas sobre tópicos comuns; compreende referências bibliográficas e produz dissertações com vários parágrafos; após ouvir instruções orais, pode redigir uma síntese acurada; pode identificar a idéia principal e utilizar contextos variados para determinar o sentido; a escrita, com poucas gralhas, é organizada, coesiva, com períodos com estrutura complexa;  escreve notas pessoais e cartas que refletem o pensamento de forma acurada; nas habilidades matemáticas, domina as quatro operações, com números inteiros, frações e decimais,  interpretando e resolvendo equações algébricas simples, tabelas e gráficos, desenvolvendo suas próprias tabelas e gráficos e aplicando tais conhecimentos em suas transações comerciais; quanto às habilidades funcionais ou laborais, o indivíduo está apto ou pode aprender a seguir comandos simples com passos múltiplos e pode ler formulários e manuais comuns sobre legislação; pode integrar a informação proveniente de textos, tabelas e gráficos e criá-los e usá-los; pode preencher formulários, requerimentos e resumos assim como está apto a candidatar-se a empregos que exijam a interpretação de informação proveniente de várias fontes e a escrita ou explicação de textos para outros empregados; demonstra proficiência no uso de computadores em suas aplicações mais simples,  entende o impacto do uso de tecnologias distintas e consegue interpretar o uso de software e tecnologia novos;

            nível 6: o indivíduo pode compreender, explicar e analisar a informação de gêneros diversos, inclusive matérias de fontes primárias e periódicos profissionais; utiliza pistas contextuais e processos sofisticados para interpretar o sentido do material escrito; a escrita é coesa com idéias claramente expostas, corroboradas por detalhes relevantes, com a utilização de períodos complexos, com poucas gralhas; nas habilidades matemáticas, o indivíduo é capaz de estimativas matemáticas sobre tempo e espaço, aplicando princípios de geometria e de funções trigonométricas; quanto às habilidades funcionais ou laborais,  consegue ler informação técnica e manuais complexos, bem como livros didáticos do ensino superior e manuais profissionais; pode exercer profissões que exijam as funções mentais superiores, ler e explicar textos sobre procedimentos complexos e não conhecidos; pode avaliar situações e processos de trabalho novos e pode trabalhar produtiva e colaborativamente em grupos, bem como servir como facilitador e relator do grupo de trabalho; está apto a usar softwares comuns, aprender suas novas aplicações e definir a finalidade de novas tecnologias, selecionando a apropriada; é capaz de adaptar o uso do software e da tecnologia a novas situações, ensinando-o pela forma escrita ou oral (DAEL, 2001, p. 20-22).

            Não detalharemos as características de todos os 6 níveis da população que não adquiriu o inglês como primeira língua, mas a diferença maior se encontra no nível 1, letramento inicial do inglês como segunda língua (Beginning ESL Literacy), pois nele, o indivíduo não consegue qualquer desempenho em inglês e se comunica em tal contexto apenas através de gestos e de palavras isoladas; reconhece alguns signos ou símbolos comuns e só pode se candidatar a empregos que não requeiram comunicação oral ou escrita em inglês; também não tem conhecimento sobre o uso de computadores ou de tecnologia.

            O exame desta proposta sugere grandes avanços, embora padeça de falhas que serão examinadas. Os grandes avanços se referem ao fato de contemplar cada vez mais o aspecto continuo entre os conceitos de analfabetismo versus alfabetismo funcional; é de ressaltar, igualmente, a vinculação da avaliação com a instrução, mas o modelo ainda está muito centrado no desenvolvimento de habilidades discretas básicas na interação professor-aluno, o que não possibilita o desenvolvimento do pensamento crítico, da oralidade, da consciência social e da criatividade (BEDER, 2005). Um outro ponto positivo é que abrange toda a rede de ensino secundário nos Estados Unidos, pois a aplicação do programa é compulsória em todos os Estados da União, sob pena de sanções, como a de corte nas verbas alocadas pelas agências de fomento à educação. Cumpre ressaltar, igualmente, o espaço reservado à leitura de outros sistemas semióticos.

            Em nossa análise, a crítica recai sobre o suporte ideológico subjacente à proposta, quanto ao principal objetivo que é estabelecer um sistema que contemple os programas de educação de adultos através da identificação de medidas para os relatórios nacionais, atrelado à atuação resultante do aprendizado do aluno, com 12 anos de escolaridade, nas suas relações com uma sociedade altamente desenvolvida científica e tecnologicamente; pela caracterização dos níveis, verifica-se que ele “se enquadra dentro da ideologia pragmática neoliberal que, ao examinar a questão do analfabetismo funcional, esteve sempre mais preocupada com os danos e prejuízos que ele acarreta às empresas, ao contrário das ideologias humanísticas de libertação como a de Paulo Freire, também conhecido como modelo do desenvolvimento crítico para a mudança social” (SCLIAR-CABRAL, 2005). De modo algum a proposta poderá ser aplicada sem adaptações a outras sociedades na América Latina, em particular, ao Brasil, em virtude das diferenças básicas, como o fato de ainda existir um vasto contingente de adultos analfabetos; embora em decréscimo, ainda haver uma população rural importante; não se tratar de sociedades tão desenvolvidas científica e tecnologicamente, particularmente no que se refere à disseminação do uso do computador; finalmente, “a evasão tende a começar na maioria dos países aos 14 anos de idade e muitos jovens que desertam nesta idade só foram aprovados em poucas séries, devido às altas taxas de repetência” (INFANTE, 2005).

 

Critérios baseados no conhecimento, estratégias e habilidades no mundo real

 

Há critérios que focalizam tanto a instrução quanto a avaliação centradas mais vigorosamente no conhecimento, nas estratégias e habilidades que os estudantes necessitam para aprender e   desempenhar-se em tarefas no mundo real .   Os quatro objetivos do programa são garantir o acesso à informação e às fontes, de tal modo que os indivíduos possam orientar-se no mundo, expressar idéias e opiniões com a segurança de que serão ouvidas e levadas em consideração (voz), resolver problemas e tomar decisões sem depender de outros como mediadores entre eles e o mundo (ação) e aprender a aprender de tal modo que estejam preparados para acompanhar o mundo em suas mudanças (ponte para o futuro) (EQUIPPED FOR THE FUTURE ASSESSMENT CONSORTIUM (doravante EFF), 2004, p. 159). Sendo assim, o programa não afere os níveis nem por avaliações numéricas, nem pelos anos de escolaridade e sim pela observação de um leque mais vasto e complexo de habilidades e de um conteúdo de conhecimentos mais profundo. O programa também contempla 6 níveis, a saber (os exemplos não são exaustivos):

            nível 1: o indivíduo reconhece palavras ou grupo de palavras em textos pequenos e simples, realizando a correspondência letra-som, isolando e pronunciando o som inicial e final; nomeia figuras para isolar e pronunciar o som inicial e final; segmenta palavras em sílabas e sons e os reagrupa em sílabas; reconhece padrões de rimas nas palavras e evoca palavras de seu vocabulário que circulam no dia a dia; demonstra familiaridade com conceitos sobre o impresso, como a forma das letras, seus nomes e respectivos sons; utiliza várias estratégias para monitorar a precisão da decodificação e do reconhecimento da palavra, tais como a releitura, listagem de palavras e utilização de dicionário simplificado; evoca o conhecimento prévio como auxiliar para compreender a informação textual; localiza, lê e compreende palavras em textos simples e curtos, com esforço e poucos erros e cumpre comandos escritos bem explícitos em algumas poucas situações conhecidas, lê listas de compras de super-mercado, nomes e endereços de uma lista de convidados ou de correio, datas importantes em calendários;  reconhece as palavras de produtos e preços em lojas, bem como outros signos e placas e toma decisões sobre o que comprar (observe-se na classificação deste programa a introdução da consciência fonológica, com a ressalva, contudo, de que nos manuais que temos compulsado, os autores, por desconhecimento de fonética e fonologia, colocarem práticas inadequadas como a segmentação de [+obstruintes, -continuas] (oclusivas) e a nomeação das letras, que nada tem a ver com os valores que carregam para representar os fonemas; verifique-se, outrossim, a introdução das estratégias de monitoria) (EFF, 2004, p. 31);

            nível 2: o indivíduo lê e compreende devagar, mas com facilidade e com poucos erros, palavras em blocos pequenos e simples, cumprindo atividades bem definidas e estruturadas com vários objetivos, em situações conhecidas, como a leitura em voz alta de um livro simples  de histórias para uma criança, leitura de narrativas curtas de interesse pessoal e da comunidade, de propostas de emprego para decidir sobre opções, de benefícios de saúde hospitalares, de pequenas narrativas sobre imigrantes, para refletir a aprender sobre a própria herança cultural, de previsões do tempo para decidir sobre o que vai vestir ou sobre viagens; determina a finalidade da leitura e seleciona as estratégias apropriadas para atingi-la, monitorando a compreensão; analisa a e reflete sobre a informação, integrando-a com o conhecimento prévio (EFF, 2004, p. 32);

            nível 3: o indivíduo decodifica e reconhece a maioria das palavras cotidianas e algumas desconhecidas, inclusive palavras especializadas e abreviaturas, em textos pequenos e médios, apoiando-se em seu conhecimento e no vocabulário oral, aplicando as regras de pronúncia e ajustando-se ao ritmo da leitura; consegue desmembrar a palavras em seus componentes; demonstra interesse por conhecimentos mais profundos e pelo respectivo vocabulário; localiza a informação em textos simples, utilizando estratégias simples; vale-se de estratégias de monitoria, tais como evocar, repetir, parafrasear e explicar o conteúdo do texto, ou exemplificá-lo; aplica ativamente o conhecimento prévio como auxílio à compreensão da informação textual; consegue ler e compreender rapidamente e com correção palavras em textos em muitas páginas e cumprir com independência atividades simples bem definidas e estruturadas em situações conhecidas tais como leituras sobre: benefícios trabalhistas para tomar decisões; histórias curtas sobre diferenças culturais que ocasionam conflitos para refletir sobre e tomar decisões pessoais; pôster sobre vagas de emprego para decidir sobre sua legalidade; histórias sobre perda de emprego para refletir sobre como tal fato pode influir nas relações familiares; procedimentos para obter a cidadania, para ajudar alguém a obtê-la; anúncios para alugar imóveis, comparando-os para decidir qual o melhor; o leque de estratégias é muito mais vasto, incluindo a reflexão sobre o significado textual subjacente, o uso de inferências, colocação de perguntas e respectivas respostas, ensaio e erro e categorização (EFF, 2004, p. 33);EVEL 3 INDICATORS

LEVEL 3 EXAMPLES OF PROFICIENT PERFORMANCE

           

            Nivel 4: o indivíduo organiza a informação utilizando estratégias como a evocação, a recolocação, a seqüência e categorização simples; o conhecimento prévio é acionado ativamente para a compreensão textual; em relação aos níveis anteriores, o leque de textos e dos comandos que cumpre se amplia consideravelmente, como, por exemplo, menus nutricionais de refeição rápida para escolha de uma com calorias baixas; editoriais com opiniões contrárias sobre tópico de interesse para esclarecimento próprio; conselhos na imprensa para refletir sobre assuntos pessoais; guias de TV para a escolha dos filmes adequados às crianças; informação de sindicatos para decidir sobre filiação; revistas que informem sobre como lidar com os chiliques de uma criança que começa a caminhar; brochuras de clínicas para aprender a detectar sinais de depressão e como lidar com ela; o ponto de chegada do nível 4 é o mesmo já examinado no nível 4. educação básica intermediária alta (High Intermediate Basic Education) (EFF, 2004, p. 34);

 

Nível 5: além das habilidades já consignadas nos níveis anteriores, no nível 5 o indivíduo demonstra familiaridade com a estrutura do parágrafo, a organização textual, localização das informações importantes, identifica as seções para detalhamento e a informação faltante, com a utilização de um largo espectro de estratégias, inclusive as de comparação e contraste; avalia o conhecimento prévio contrapondo-o à informação nova, para entendê-la; é capaz de compreender textos densos não só em situações conhecidas mas também novas; pode cumprir uma gama variada de atividades tais como a leitura de: rótulos de remédios nas drogarias para escolha do produto adequado à uma criança enferma; artigos em revistas sobre provedores da Internet a fim de analisar as opções e escolher o seu; informação sobre técnicas publicitárias a fim de analisar a forma como elas persuadem os consumidores a comprar os produtos e assim orientar-se melhor; guias sobre os campi para conscientizar-se sobre as regras, regimentos e recursos disponibilizados aos estudantes; informações das entidades responsáveis sobre a exposição ao ruído no trabalho, para resolver problemas; livro de auto-ajuda sobre finanças domésticas, para economizar dinheiro; informações sobre elegibilidade a fim de escolher em quem votar nas eleições; instruções na Internet sobre selecionadores de candidatos a emprego para saber como se faz um míni-currículo; o ponto de chegada do nível 5 é o mesmo já examinado no nível 5. educação secundária elementar de adultos (Low Adult Secondary Education) (EFF, 2004, p. 35);EFF Standard

LEVEL 6 INDICATORS

            Nivel 6: nas habilidades de reconhecimento, o acréscimo é a capacidade de reconhecer e interpretar acrônimos; neste nível, o indivíduo demonstra familiaridade extensa com o conhecimento especializado e respectivo vocabulário e com a organização de textos complexos e longos; o uso de estratégias se amplia para guiar a leitura de tais textos, tais como brainstorming (tempestade de idéias) e técnicas de formulação de perguntas; o indivíduo localiza não apenas a informação explícita, mas também a implícita; na organização também aplica novas estratégias, tais como a generalização a cenários múltiplos, a elaboração de resumos, de conclusões finais; a integração ao conhecimento prévio possibilita o aprofundamento da informação; outro avanço é a habilidade para compreender atividades de leitura complexas desestruturadas, aplicando-as a novas situações; alguns exemplos são a leitura de: informação sobre ajuda financeira para a educação superior para decidir onde fazer aplicações; brochuras sobre planos de saúde, para distinguir-lhes as diferenças e escolher o melhor plano familiar;

editoriais que apresentam posições opostas sobre o mesmo tópico, a fim de decidir qual argumento é mais persuasivo e assim implementar uma posição sobre o assunto; guia de serviços telefônicos a longa distância, para selecionar a opção doméstica; artigos jornalísticos sobre crianças tirânicas, para colher idéias sobre como lidar com elas; panfletos sobre segurança do trabalho para orientar-se sobre como proceder para proteger-se contra material tóxico na empresa; manual dos empregados de uma empresa para obter informações atualizadas sobre a política empregatícia; ; o ponto de chegada do nível 6 é o mesmo já examinado no nível 6, educação secundária alta de adultos (High Adult Secondary Education) (EFF, 2004, p. 36).

 

Resultados do 5º INAF

            Encerraremos este artigo com alguns comentários sobre o 5º INAF (Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional) (INAF, 2005).

            No dia 8 de setembro de 2005, dia internacional da alfabetização, o Instituto Paulo Montenegro – ação social do IBOPE – e a ONG Ação Educativa lançaram os resultados da 5ª edição do INAF. Este relatório foi precedido pelos quatro a partir de 2001, sendo o primeiro e o terceiro voltados para as habilidades e práticas da leitura e escrita e o segundo e quarto para as matemáticas (INAF, 2005, p.3).

            Ao examinarmos a classificação do INAF (INAF, 2005, p. 6), verificamos que a proposta difere bastante das duas já examinadas, com repercussões na metodologia, já que os níveis são os seguintes:

Nível 1: Analfabeto - não consegue realizar tarefas simples que envolvem decodificação de palavras e frases;

Nível 2: Alfabetizado Nível Rudimentar - consegue ler títulos ou frases, localizando uma informação bem explícita;

Nível 3: Alfabetizado Nível Básico – consegue ler um texto curto, localizando uma informação explícita ou que exija uma pequena inferência.

Nível 4: Alfabetizado Nível Pleno – Consegue ler textos mais longos, localizar e relacionar mais de uma informação, comparar vários textos, identificar fontes.

            Verifica-se que os dois enfoques anteriores estão voltados para os resultados do letramento na atuação em sociedades muito desenvolvidas tecnologicamente, examinando em maiores detalhes as estratégias procedimentais e metacognitivas da população. Por outro lado, as populações investigadas são muito maiores. O INAF tem pesquisado uma população em torno de 2000 pessoas,  na faixa etária entre 15 a 64 anos. A 5ª edição examinou 2002 pessoas (INAF, 2005, p. 5). Por outro lado, os dados a seguir revelam o quanto a situação no Brasil é diferente: “No grupo dos que, segundo o INAF, estão na condição de analfabetismo, a maioria é do sexo masculino (64%), tem mais de 35 anos (77%) e pertence às classes D e E (81%). Uma boa parte deles não está ocupada (41%) e, entre os ocupados, 41% trabalham na agricultura. Parte deles (22%) não chegou a completar nem um ano de escolaridade, mas 60% completaram de um a três anos de estudo” (INAF, 2005, p. 7).

            Quanto à metodologia, a pesquisa é do tipo survey (entrevistas domiciliares), quando foram aplicados os testes (não nos foi possível ter acessos a eles) e questionários mais voltados à condição familiar e às práticas relacionadas com a leitura, como recebimento de cartas, cobranças, verificação de data de vencimento, leitura de bula de remédio, leitura de jornais ou revistas, assistência à televisão, freqüência a cinema e biblioteca e uso do computador.

            Os resultados mais importantes da pesquisa são os  de que “Só 26% da população tem domínio pleno das habilidades, mas melhora o índice dos que têm um nível básico de leitura.” ...

“O percentual dos que atingem o Nível Pleno de habilidade não teve evolução significativa, mantendo-se próximo a ¼ da população estudada. Já os percentuais de pessoas na condição de Analfabetismo indicam uma leve tendência de diminuição: eram 9% em 2001 e 7% em 2005. Também se verifica um aumento, ainda que discreto, no percentual dos que atingem o Nível Básico: 34% em 2001 para 38% em 2005” (INAF, 2005, p. 6).

 

Considerações finais

            Ao examinarmos novos dados relativos ao conceito de analfabetismo funcional verificamos que houve avanços significativos no sentido de refiná-lo, sob o enfoque de não enquadrá-lo numa dicotomia que o oponha ao alfabetismo funcional. Em muitas sociedades o conceito e respectivas classificações ainda estão muito atrelados às demandas do desenvolvimento tecnológico de tais sociedades.

            No que diz respeito ao Brasil, graças às pesquisas do INAF, pode-se concluir que temos andado muito pouco para incluir uma parcela considerável da população no exercício pleno da cidadania: a política educacional no país está mais interessada em apresentar números bombásticos

sobre indivíduos que mal conseguem desenhar o nome do que realizar uma educação continuada e profunda dos professores e famílias para que realmente saibam ensinar a ler e a escrever no pleno sentido da palavra, além de investir pesadamente na formação de novos professores para atender a demanda: não basta obrigar os pais a matricularem as crianças na 1ª série, aos 6 anos de idade. Qual a habilitação dos alfabetizadores?

 

 

 

 

 

 

EFF

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEDER, H. Assessment - recent developments. http://www.ipm.org.br/an_bib.php#. 2005.

BRUENING, J. C. Workplace illiteracy. The threat to worker safety. Occupational Hazzards p. 118-122, out. 1989.

DIVISION OF ADULT EDUCATION AND LITERACY OFFICE OF VOCATIONAL AND ADULT EDUCATION U.S. DEPARTMENT OF EDUCATION. Measures and Methods for the National Reporting System for Adult Education. Washington: NRS, March 2001.

EQUIPPED FOR THE FUTURE ASSESSMENT CONSORTIUM. The guide to using the EFF Read with understanding assessment prototype. Washington, DC: National Institute for Literacy (NIFL), 2004.

INAF. 5º Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional – Um diagnóstico para a inclusão social pela educação (Avaliação de Leitura e Escrita). São Paulo: IBOPE/Instituto Paulo Montenegro/Ação Educativa, 2005.

http://www.ipm.org.br/download/inaf05.pdf.

INFANTE, I. R. Una mirada a la situación educativa de América Latina. http://www.ipm.org.br/an_bib.php#, 2005.

SCLIAR-CABRAL, L. Revendo a categoria analfabeto funcional. CrearMundos. http://personal.telefonica.terra.es/web/crearmundos/revista03-especial%20libros/index.htm, 2005.

UNESCO. Revised recommendation concerning the international standardization of educational statistics. In: Records of the General Conference Twentieth Session, Paris, 24 October to 28 November 1978. Paris: UNESCO, 1979, v. 1, 183-202.