PROCESSOS FONOLÓGICOS NO FLUXO DA FALA–

O FENÔMENO DA DEGEMINAÇÃO NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

 

 

 

Juliana Radatz KICKHÖFEL -  (PG-UCPEL)

Carmen Lúcia Barreto MATZENAUER - (UCPEL)

 

 

1         INTRODUÇÃO

 

Para o entendimento pleno do comportamento do sândi vocálico externo no Português Brasileiro (PB), é ponto de partida o reconhecimento de que, em sílaba átona final, a língua apresenta um sistema de apenas três segmentos vocálicos.

Sobre o funcionamento das vogais do Português Brasileiro, Câmara Jr. (1972) propôs a existência de quatro sistemas vocálicos, conforme está explicitado em (1).

 

(1)

a)      /i, u, e, o, E,,a/ - sílaba tônica

b)      /i, u, e, o, a/ -  sílaba pretônica

c)      /i, u, e, a/ - sílaba postônica não-final

d)      /i, u, a/ - postônica final

 

Podemos verificar em (1), no funcionamento das vogais da língua, o fenômeno de neutralização, ou seja, há a perda da oposição entre as vogais médias nas sílabas átonas. Segundo Bisol (1992), quanto mais fraca for a posição, maior será o número de reduções vocálicas. Na pauta átona final o sistema fica com apenas três vogais, conforme já foi referido. Esse fato é importante para o presente trabalho, porque é esta posição, a considerada mais fraca, que oferece o contexto para o processo de sândi externo, aqui foco de estudo.

Sândi externo é um processo de ressilabação que envolve duas palavras sob o domínio do mesmo enunciado. Ex.: [´a’ki] (olha aqui). Dessa ressilabação podem resultar três processos fonológicos que envolvem as vogais da língua: a elisão, [Elim’pEsta] (ela empresta), a ditongação [kjew’vi] (que eu vi) e a degeminação [elingo’liu] (ele engoliu).

Bisol (1992) ressalta que o processo de sândi deve respeitar condições pragmáticas e fonológicas de estruturação do enunciado. Essas condições aparecem em (2).

(2)

a)      Condições pragmáticas do enunciado:

-         as duas sentenças devem ser pronunciadas pelo mesmo falante;

-         as duas sentenças devem ser dirigidas ao mesmo interlocutor.

b)      Condições fonológicas do enunciado:

-         as duas sentenças devem ser relativamente curtas;

-         não deve haver pausa entre as duas sentenças.

 

Relacionando a presença do fenômeno do sândi vocálico externo no PB com o fato de que processos fonológicos ocorrem na fala das crianças desde o início da aquisição da fonologia da língua, o objetivo do presente trabalho é verificar a ocorrência particularmente de um tipo de sândi vocálico externo – a degeminação – na produção lingüística de crianças falantes nativas de PB, analisando os dados com base nos pressupostos da Teoria da Otimidade (Optimality Theory  – OT ).

 

 

2  UM TIPO DE SÂNDI VOCÁLICO EXTERNO – A DEGEMINAÇÃO

A degeminação é caracterizada quando há o contato de duas vogais idênticas – uma no final e a outra no início de uma palavra – e há um processo de ressilabação, decorrente do desaparecimento de um desses segmentos vocálicos e, conseqüentemente, de uma sílaba. Podemos verificar esse processo de ressilabação no exemplo apresentado em (3).

(3)

Representação do processo de degeminação

senta aqui                                      [‘sentaki]

        [‘sen              ta                a             ki]

         CVC            CV               V             CV                    1ª SILABAÇÃO (4 SÍLABAS)

                                

                                 Æ                                                                     

 

        [‘sen         ta                  ki]

          CVC       CV              CV                                         2ª SILABAÇÃO (3 SÍLABAS)

 

            Nesse exemplo, podemos observar que, com o contato de duas vogais idênticas, houve o desaparecimento de uma sílaba. Dessa forma, a degeminação implica uma simplificação: duas sílabas convertem-se em apenas uma. Cabe salientar, ainda, que esse processo ocorre com a sílaba átona final da primeira palavra, na posição mais fraca, com a sílaba átona da segunda palavra, conforme explicitado em (3).

            O processo de degeminação não se aplica quando ambas as vogais são acentuadas[1] ou quando a segunda leva acento. Os exemplos a seguir mostram esse fato.

(4)

Ex.

      a) [se’ra‘aspero] será áspero     *[se’raspero]

       b) [‘toma ‘agwa] tomar água     *[to’magwa]

 

No exemplo em (4a), vemos que, quando há a presença de duas vogais acentuadas, não ocorre o processo e degeminação. Já no exemplo em (4b), a degeminação é bloqueada pelo fato de a segunda vogal portar acento. Assim, somente quando ambas as vogais em contato não levam acento ou quando apenas a primeira é acentuada, há contexto para a aplicação de degeminação. Exemplos aparecem em (5).

 (5)

a) aplicação de degeminação

 [miøa’miga] minha amiga

 [fika’sim] ficar assim

 

Bisol (1992) salienta que, embora uma segunda vogal com acento primário iniba a regra, pode haver o desbloqueio da degeminação se esse acento primário for convertido em secundário. Isso pode ocorrer porque as duas palavras em seqüência constituem uma frase fonológica e o acento principal dessa unidade prosódica pode ser deslocado. Vejamos em (6) (Bisol, 1992, p.87).

(6)

como uva [kómu úva], não se faz *[komúva]

mas, convertendo-se o acento primário em secundário, há a degeminação

como uva madura [komúva madúra]

Observando o exemplo referido em (6), vemos que há uma condição para essa conversão do acento: somente é possível converter o acento primário em secundário acrescentando-se mais uma palavra à frase fonológica, ou seja, tornando a frase fonológica uma unidade prosódica maior do que aquela constituída por apenas duas palavras fonológicas. 

Por fim, podemos afirmar que, em se tratando de degeminação, há:

-         o contexto geral de aplicação à V átona + V átona,

-         o contexto opcional de aplicação à  V acentuada + V átona.

 

 

3  PRESSUPOSTOS DA TEORIA DA OTIMIDADE

 

A Teoria da Otimidade (Optimility Theory – OT), proposta por Prince & Smolensky (1993) e McCarthy & Prince (1993), segue a linha gerativista, ou seja, compartilha a existência de uma GU. Na OT, a GU é constituída por um conjunto de restrições (universais e violáveis), as quais são hierarquizadas de acordo com a língua.  Há dois mecanismos formais que integram a GU, são eles: GEN (generator) e EVAL (evaluator).

 Essa nova abordagem teórica tem como pressuposto que o processamento lingüístico se dá em paralelo, o que implica que, a partir de um input, vários candidatos a output são analisados ao mesmo tempo e as manifestações fonéticas, que são os outputs escolhidos como ótimos, são resultados de seleção feita a partir de um ranqueamento de restrições. O foco da OT são restrições que compõem a GU e, segundo essa teoria, é a interação entre as restrições que possibilitará a escolha de um determinado output. Cada língua é identificada pelo seu próprio ranqueamento de restrições. Sendo assim, na OT, a gramática de uma língua são as restrições universais ranqueadas de acordo a especificidade daquela determinada língua. Com base nessa teoria, adquirir uma língua implica adquirir o ranqueamento de restrições que caracteriza aquela língua.

As restrições da OT dividem-se em dois grupos, segundo Prince & Smolensky (1993): restrições de Fidelidade e restrições de Marcação. As restrições de Fidelidade requerem que as formas de output preservem as propriedades de suas formas lexicais básicas, exigindo que haja algum tipo de similaridade entre output e o seu input. Já as restrições de Marcação exigem que as formas de output sigam critérios de boa formação; requerem que os outputs sejam o menos marcado possível.

 

 

4  METODOLOGIA

 

Para realização desta pesquisa, utilizamos dados de duas crianças brasileiras com idade entre 2:0 e 3:0 (anos:meses), acompanhadas longitudinalmente em gravações mensais. Esses dados foram retirados do Banco de dados INIFONO, existente na Universidade Católica de Pelotas (UCPEL) e na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). A partir desses dados, verificamos o comportamento do processo de sândi externo na aquisição do Português Brasileiro.

 

 

5  O PROCESSO DE SÂNDI EXTERNO NA AQUISIÇÃO COM BASE NA OT: A DEGEMIANÇÃO

 

            Para caracterizar os processos de sândi vocálico externo no PB, inclusive os contextos em que são bloqueados e desbloqueados, Bisol (2003) utiliza as seguintes restrições, apresentadas em (9).

(9)

Onset- Sílabas devem ter onset

 NoDiph – Não ditongo

Max-IO – Todo segmento presente no input deve ter um segmento correspondente no output. (McCarthy & Prince, 1995)

Max-WI- Todo segmento de início  de palavra no input deve ter um segmento correspondente no output.

Align- L- (Foot, syllable)- A borda esquerda do pé principal da frase fonológica deve coincidir com a borda esquerda da sílaba tônica de uma palavra lexical.

FTBin-  Pés são dissilábicos

Troch- FT- Pés são troqueus

[Max-IO & Align- L]- As duas restrições Max-IO e Align- L são reunidas como uma única restrição composta (conjunção local) que é violada se e somente se ambos os componentes são violados no domínio do sândi, que vai desde o grupo clítico até o enunciado.

 

5.1 A Degeminação com base na OT

O processo de degeminação, conforme já foi referido, ocorre quando há contato com duas vogais idênticas e, por um processo de ressilabação, há o desaparecimento de uma sílaba. A degeminação acontece, em uma seqüência VV, com a sílaba átona final da primeira palavra e com a sílaba átona da segunda palavra. 

O corpus desta pesquisa evidencia que o tipo de sândi externo identificado como degeminação ocorre desde cedo no fluxo da fala das crianças. Com 2:0,5 (anos: meses, dias), falantes de PB já realizaram o processo apresentado.

Em relação à emergência precoce da degeminação nos dados de aquisição do PB, é relevante referir que é processo empregado mais cedo, em se comparando com a elisão, que é outro tipo de sândi externo (Kickhöfel & Matzenauer, 2005). Essa precocidade do emprego da degeminação pode ser explicada por ter contexto mais livre do que o da elisão, pois pode ocorrer com qualquer vogal átona em final de palavra. Diferentemente, a elisão ocorre apenas quando a vogal /a/ é o primeiro elemento da seqüência VV. A diferença de complexidade entre esses dois tipos de sândi pode ser identificada nos dados de aquisição da fonologia do PB, pois o processo de elisão ocorreu, no corpus estudado, apenas na idade de 2:8,0 (anos: meses, dias).

 Levando em consideração os dados da aquisição que constituíram o corpus do presente trabalho, apresentamos, nos Tableaux 1, 2 e 3, o processo de degeminação, com base nas restrições propostas por Bisol (2003). Para essa representação, incluímos mais duas restrições:

a)      All-Ft-L – (Align: Ft, Left, PrWd, Left), que requer que toda borda esquerda do pé coincida com a borda esquerda de uma palavra prosódica (Kager, 1999). 

b)      NoHiatus, que evita hiatos, ou seja, que proíbe a seqüência de dois segmentos com o traço [+vocóide] (McCarthy, 2002).

Em tableaux subseqüentes (tableaux 5,6 e 7), sempre com inspiração em Bisol (2003), para evidenciar o bloqueio à degeminação diante do emprego do hiato, a presente análise lança mão de uma restrição conjunta: [All-Ft-L & MaxIO]w .

Os tableaux 1, 2 e 3 mostram exemplos do processo de degeminação com base em restrições, operando na fonologia em dados de aquisição do PB. A hierarquia de restrições que permite a escolha de outputs com degeminação é a seguinte:  NoHiat , Onset, troch, ft-bin >> MaxIO >> All-Ft-L[2].

Tableau 1: [[a’gla][a‘suka]]f

Agora acúcar.

 

NoHiat , Onset, troch, ft-bin >> MaxIO >> All-Ft-L

 

   /[a. g.ra.] [a.`su.kar.]/

NoHiat

Onset

troch

ft-bin

Max

IO

All-Ft-L

 a) F [.a.(g.la) (`suka.)]

 

*

 

 

*

**

b)  [(.a.(g.la).a (`suka.)]

*!

**

 

 

 

**

c) [(.a.g). (la`suka.)]

 

*

*!*

*

*

*

 

 

Tableau 2: [[pi’siza][an’da]]f

…precisa andar…

 

NoHiat, Onset, troch, ft-bin >> MaxIO >> All-Ft-L

 

   /[pre.si.za.] [an.`dar.]/

NoHiat

Onset

troch

ft-bin

Max

IO

All-Ft-L

 a) F [(.pi.si.)(.zan.`da.)]

 

 

**

 

*

*

b)  [.pi (.si..za.) (.an.`da.)]

*!

*

*

 

 

*

 c) [(.pi.si.) .zan. (`da.)]

 

 

**

*!

*

*

 

 

Tableau 3: [[pu’ke][‘ew]]f

...porque eu...

 

NoHiat, Onset, troch, ft-bin >> MaxIO >> All-Ft-L

 

   /[por.ke.] [eu.]/

NoHiat

Onset

troch

ft-bin

Max

IO

All-Ft-L

 a) F [(.pu.’kew.)]

 

 

*

 

*

*

b)  [(.pu.ke) (.’ew.)]

*!

 

**

*

 

 

 c) [(.pu.) (.’kew.)]

 

 

*!*

**

*

*

 

 

OsTableaux 1, 2 e 3 mostram o processo de degeminação com dados da aquisição da linguagem e, por isso, os outputs escolhidos como ótimos contêm segmentos e estruturas silábicas diferentes do alvo da língua (por exemplo, o uso de [l] em lugar de [r], entre muitos outros tipos de ocorrências). Esse fato, no entanto, não é considerado na presente análise, cujo foco é apenas a análise da aplicação e/ou não aplicação da degeminação, como um dos processos de sândi externo.

Nesses tableaux 1, 2 e 3, vemos que a escolha do output com a presença da degeminação foi resultante particularmente do conflito entre as restrições NoHiat e  MaxIO, uma vez que a primeira milita contra a existência da seqüência VV, encaminhando para a degeminação, e a segunda milita contra o apagamento de segmentos no output, favorecendo a presença do hiato – o ordenamento entre essas restrições foi decisivo para o processo aqui apresentado. Também as restrições relativas aos tipos de pés métricos que os outputs podem apresentar foram relevantes na análise aqui proposta.   

 

 

6  O NÃO EMPREGO DA DEGEMINAÇÃO EM DADOS DA AQUISIÇÃO DA FONOLOGIA

 

 

6.1 O não emprego da degeminação por bloqueio do sistema do PB

            Conforme já foi discutido no presente trabalho, o processo de degeminação não se aplica quando ambas as vogais são acentuadas ou quando a segunda da seqüência VV leva acento. Tais restrições do sistema do PB foram respeitadas pelas crianças no processo de aquisição da fonologia.

A não aplicação da degeminação pelo fato de a segunda vogal da seqüência VV carregar o acento principal da frase fonológica foi verificada nos dados das crianças estudadas. Um exemplo do respeito ao bloqueio à degeminação no contexto referido aparece no Tableau 4. Nesse tableau, seguindo-se Bisol (2003), o bloqueio à degeminação pelo fato de a V2 ser portadora do acento principal da frase fonológica é determinado pela conjunção das restrições [Max-io & Align-L] (Bisol, 2003, p.196).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tableau 4:[[‘toma] [ ‘agwa]]¸

Tomar água

 

[Max-io & Align-L] >> Troch, Ft-Bin, Onset >> Max-io

/[`toma.)][ ‘a.gwa]/

[Max-io & Align-L]

Troch

Ft-Bin

Onset

Max-io

a)F[(`toma.)][( .’a.gwa)]

 

 

 

*

 

b)[(to) (‘magwa)]

*!

 

*

 

*

c) [(to’ma) gwa]

*!

*

*

 

*

d) [to. (‘ma.gwa.)]

*!

 

 

 

*

 

No tableau 4, os candidatos (b), (c) e (d) são eliminados por violarem a restrição conjunta [Max-io & Align-L], ranqueada alta na hierarquia; logo, o candidato (a) é escolhido como ótimo por violar apenas onset. A restrição conjunta, nesse tableau, é fundamental para mostrar o contexto de bloqueio ao processo de degeminação, ou seja, quando a segunda vogal da seqüência VV for portadora de acento – nesse caso, não pode haver apagamento de V e a sílaba portadora do acento da frase fonológica tem de se manter intacta.

 

 

6.2 O não emprego da degeminação por evitação desse processo de sândi vocálico

Para evitar a degeminação, as crianças em fase de aquisição da fonologia do PB, no corpus aqui analisado, mostraram a aplicação de uma estratégia: muito freqüentemente, diante do contexto natural para a aplicação da degeminação, as crianças não empregaram tal processo, apresentando uma pausa entre as duas palavras prosódicas que formavam a seqüência VV. Seguindo-se Bisol (1992), podemos afirmar que a pausa entre unidades que constituem o contexto para qualquer processo de sândi vocálico externo implica o bloqueio ao processo, por desrespeito a uma condição fonológica fundamental – não pode haver pausa entre as duas palavras em contato, que formam a seqüência VV.

            Os tableaux 5, 6, e 7 apresentam o funcionamento dessa estratégia de evitação da degeminação, com base em restrições. Merece destaque o fato de que estes tableaux trazem os mesmos exemplos já referidos no tableaux 1, 2, e 3. Para evitar a degeminação, os outputs escolhidos nos tableaux 5, 6, e 7 apresentam hiato.

 

 

Tableau 5: [[a’gla][a‘suka]]f

Agora acúcar.

 

[All-Ft-L & MaxIO]w  >> NoHiat , Onset, troch, ft-bin >> MaxIO >> All-Ft-L

 

   /[a. g.ra.] [a.`su.kar.]/

[All-Ft-L & MaxIO]w  

NoHiat

Onset

troch

ft-bin

Max

IO

All-Ft-L

 a) [.a. (.g.la) (`suka.)]

*!

 

*

 

 

*

**

b) F [.a.(g.la).a (`suka.)]

 

*

**

 

 

 

**

c) [(.a.g). (la`suka.)]

*!

 

*

**

*

*

*

 

 

Tableau 6: [[pi’siza][an’da]]f

…precisa andar…

 

[All-Ft-L & MaxIO]w  >> NoHiat, Onset, troch, ft-bin >> MaxIO >> All-Ft-L

 

   /[pre.si.za.] [an.`dar.]/

[All-Ft-L & MaxIO]w  

NoHiat

Onset

troch

ft-bin

Max

IO

All-Ft-L

 a) [(.pi.si.)(.zan.`da.)]

*!

 

 

**

 

*

*

b)  F [.pi (.si..za.) (.an.`da.)]

 

*

*

*

 

 

*

 c) [(.pi.si.) .zan. (`da.)]

*!

 

 

**

*

*

*

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tableau 7: [[pu’ke][‘ew]]f

...porque eu...

 

[All-Ft-L & MaxIO]w  >> NoHiat, Onset, troch, ft-bin >> MaxIO >> All-Ft-L

 

   /[por.ke.] [eu.]/

[All-Ft-L & MaxIO]w  

NoHiat

Onset

troch

ft-bin

Max

IO

All-Ft-L

 a)  [(.pu.’kew.)]

*!

 

 

*

 

*

*

b) F [(.pu.ke) (.’ew.)]

 

*

*

**

*

 

 

 c) [(.pu.) (.’kew.)]

*!

 

 

**

**

*

*

 

 

Devemos observar que o bloqueio ao processo de degeminação em razão da pausa entre as palavras que constituem a seqüência VV é representado pela hierarquia de restrições: [All-Ft-L & MaxIO]w  >> NoHiat , Onset, troch, ft-bin >> MaxIO >> All-Ft-L. É relevante salientar que, assim como Bisol (2003) mostrou o bloqueio à aplicação de processos de sândi por meio de uma restrição conjunta (vejamos, por exemplo, o Tableau 4 neste trabalho), a presente análise também mostra o bloqueio ao processo de degeminação, em razão da pausa entre a seqüência VV, pelo ranqueamento em posição alta, na hierarquia, da restrição conjunta [All-Ft-L & MaxIO]w . É importante salientar que essa restrição conjunta é aplicada ao contexto da palavra prosódica, o que significa que EVAL, ao avaliar os candidatos a output, deve considerá-los sempre em relação a cada palavra prosódica presente no input. Nesse sentido, a restrição de alinhamento utilizada no presente trabalho tem a natureza de uma restrição da família de Fidelidade.  

 

 

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            Ao final do presente trabalho, alguns pontos merecem ser destacados:

a)      o processo de degeminação é aplicado, desde cedo, nos dados de aquisição da fonologia do PB; logo, as crianças aplicam as operações fonológicas identificadas como processos de sândi externo, como a degeminação, embora também apresentem estratégias para evitar a sua realização;

b)      para explicar o processo de degeminação à luz dos pressupostos da OT, este estudo utilizou, além das restrições propostas por Bisol (2003), duas outras – All-Ft-L e NoHiat –, além de uma restrição conjunta, para explicar o bloqueio à degeminação : [All-Ft-L & MaxIO]w ;

c)      a única estratégia de evitação do tipo de sândi vocálico aqui estudado, encontrada no corpus desta pesquisa, foi a pausa entre as palavras que constituiriam o contexto para a degeminação;

d)      a pausa entre os segmentos que constituem a seqüência VV, bloqueando a aplicação da degeminação, foi caracterizada pela posição alta, na hierarquia, da restrição conjunta [All-Ft-L & MaxIO]w;

e)      se uma restrição conjunta – que pode ser considerada marcada em se comparando com restrições simples – tem papel fundamental no bloqueio à degeminação, podemos concluir que, ocorrendo uma seqüência VV, de segmentos iguais, entre palavras, a aplicação da degeminação pode ser considerada não-marcada em se comparando com a aplicação do hiato a essa mesma seqüência;

f)        o trabalho mostrou, seguindo a proposta de Bisol (2003), que a OT se revelou modelo teórico pertinente para a análise dos dados estudados.

 

 

8  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BISOL, L. Sândi vocálico externo: degeminação e elisão. Cadernos de Estudos Lingüísticos, Campinas: UNICAMP, n. 23, p. 83-101, jul/dez. 1992.

_____. Sandhi in Brazilian Portuguese. Probus. The Netherlands: n.15, p. 177-200, 2003.

KAGER, R. Optimality Theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

KICKHÖFEL,J.R. & MATZENAUER,C.L.B. O contato entre unidades prosódicas na aquisição da fonologia – o caso do sândi externo. XVII Congresso do Centro de Estudos Lingüísticos e Literários do Paraná – XVII CELLIP. Guarapuava: UNICENTRO, 2005.

MATZENAUER,C.L.B. Modelos fonológicos e avanços teóricos - uma discussão com
base no fenômeno do sândi vocálico externo. Revista Lingua(gem). Macapá: Instituto Latino-Americano de Pesquisas Científicas – ILAPEC, n.1, 2005.
McCARTHY, J. A Thematic Guide to Optimality Theory. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

McCARTHY, J. & PRINCE, A. Generalized alignment. In: McCARTHY,J. (ed) Optimality Theory in Phonology. Oxford: Blackwell, 2004.

PRINCE, A. & SMOLENSKY, P. Optimality Theory: Constraint Interaction and Generative Grammar. Report n. RuCCS-TR-2. New Brunswick, NJ: Rutgers University Center for Cognitive Science, 1993.



[1] Quando ambas as vogais em uma seqüência possuem acento primário, dizemos que há “choque acentual”.

 

[2] No exmplo [[por’ke][‘eu]]f, no tableau 3, a forma /eu/ apresenta duas vogais no input – segundo Bisol (1994),  a seqüência de duas vogais em uma sílaba é interpretada como ditongo; por regra universal, a vogal alta dessa configuração manifesta-se foneticamente como glide (daí termos a forma [ew]).