HITLER

para crianças

 

Autor: Igor da Silva Alves

Orientadora: Dra. Profa. Susana Bornéo Funk

 

Resumo: No milênio passado, na década de 30, subiu ao poder, na Alemanha, um promissor jovem austríaco chamado Adolf Hitler. Naquele milênio, através de seus atos, propagados, e por assim dizer, manipulados, pela mídia, seu nome jamais será esquecido. A proposta deste trabalho é descrever, a partir de um desenho-animado, produzido por Walt Disney, denominado The story of one of “Hitler’s Children” as adapted from Education for Death – The Making of The Nazi (1943), como determinados elementos constituintes deste atuaram, como por exemplo, a presença de temas conhecidos do público como contos de fada, romance, para alcançar o objetivo de propagar o anti-nazismo. E este trabalho, com este objetivo, é justificado pela crescente xenofobia que ocorre no exterior do Brasil, provocado pelo medo do terror. Um terror diferente daquele propagado durante a Segunda Guerra Mundial, mas que ainda sim, é capaz de deflagrar novamente o racismo, na mesma proporção.

 

Palavras-chave: Ideologia, Desenho-animado, Análise do Discurso

 

Talvez o mais assustador desenho produzido durante o período de Guerra pois carrega traços sinistros, obscuros, maléficos, demonstrados a partir de uma notável trilha sonora, e uma seqüência de frases, entonação e imagens eloqüentes. Este conta a história de um garoto, nascido em uma família alemã. Um nome lhe deve ser concedido, após seus pais provarem que são naturalmente arianos. Contudo, o nome ainda assim não poderia estar presente na Lista de Proibidos “Verboten”. Seu nome é Hans.

No transcorrer da animação, Hans, o jovem protagonista, eventualmente passa a freqüentar o jardim-de-infância, onde entra em contato com os contos de fadas. Cabe aqui destacar que, embora Hans seja o protagonista, sua voz, bem como a de todos os outros personagens, é suplantada na presença do narrador. A partir do ponto em que há demonstração dos conteúdos ministrados neste período, assume o narrador.

Narrador – “The little Hans learns the Fairy Tales of the New Order”. “Remember the story of the sleeping beauty? Hans was taught that the wicked witch was democracy and the Sleepy Beauty, who can she be?”

Tradução:  “O pequeno Hans aprendeu os contos de fadas da Nova Ordem. Lembra o conto da Bela Adormecida? Hans foi ensinado que a bruxa malvada era a democracia e a bela adormecida, quem pode ser ela?”

Neste ponto, tem-se a música “Cavalgada das Valquírias”, composta por Wagner. O que é claro neste ponto é que Wagner foi um compositor alemão, e que a música ambienta e caracteriza o momento que segue, como um feito heróico, que à meu ver, a partir do momento em que há a alegoria de salvar toda uma nação, este desenho poderia ser considerado um épico. Eis que surge um cavaleiro, de armadura branca, denotado pelo narrador como príncipe, cavalgando um cavalo branco, em armadura, coberto por uma capa vermelha. Ele está vindo do céu escuro, repleto de nuvens, manuseando uma espada que, a cada golpe, brilha, iluminando tudo ao seu redor. 

Narrador – “Ah ah! Here comes the Prince!

Tradução: “Ah ah! Aqui vem o príncipe!

Ele afugenta a “Bruxa Malvada” (no caso a democracia). Até este ponto, não é claro quem é o príncipe. Mas, no momento em que a Bruxa foge e tudo se torna escuridão. Então, o cavaleiro remove o elmo, e ainda assim, não há luminosidade para que possa ser visto o rosto do cavaleiro. Só após o beijo entre o Príncipe e a Bela Adormecida, é que a luz revela os personagens. A Bela Adormecida, que não é tão bela, acorda, de uma aparente ressaca provocada por embriagues, sugerida pelo copo de chope que segura, característico da Alemanha, além de expressões que enfatiza. A “princesa”, como chama o narrador, está vestindo um vestido azul, e um elmo viking, de dois chifres, pequeno; está coberta por um lençol vermelho. Ela se depara com o “príncipe” e imediatamente fica amedrontada, escondendo-se sobre o lençol vermelho.

Narrador – “And the brave handsome knight, you know who he is!

Tradução: “E o bravo e bem apresentável cavaleiro, você sabe quem ele é!

Expõe-se então a imagem de Hitler como príncipe cavaleiro. Imediatamente, a princesa deixa de temê-lo, e o saúda: “Heil Hitler!”. O mesmo faz Hitler, que, tão logo termina a saudação, inicia um discurso em alemão, debatendo-se, contorcendo-se, aos gritos, mostra seus braços; discurso no qual é caracterizado, pelo desenhista, com chifres vermelhos, além da alteração da cor de seu rosto, mudança esta para vermelho. Tem-se aqui um desvio da história. Supostamente o príncipe deveria tomá-la nos braços e leva-la até seu cavalo, e não iniciar um discurso. Neste aspecto, o que se torna evidente é a paródia feita sobre os discursos de Hitler.

A bruxa malvada, caracterizada pelo chapéu, o nariz pontudo roupas escuras, risada estridente, em um ambiente sombrio, compõe a vilã. A ironia apresenta-se nas palavras do narrador, a partir do surgimento da luz. O cavaleiro em armadura branca, cavalgando um cavalo branco, com um céu negro ao fundo, golpeando com uma espada que brilha, forma a idéia do herói. Suas características são ombros largos, braços fortes, constituindo a força; destreza, demonstrada pela forma como golpeia com a espada. Mas a ironia que está presente somente torna-se evidente, com o momento em que o príncipe beija a princesa, e o ambiente é iluminado, revelando uma mulher bêbada, ainda que recém acordada, loira, gorda, desengonçada, uma caricatura exagerada da princesa do conto “A Bela Adormecida”. Ao acordar, sua primeira intenção é pegar o copo de cerveja, mas ao ver o príncipe em sua frente, esconde-se sobre o lençol. O príncipe fala, e ela, seduzida pelo discurso, o puxa para si e o pressiona em seus fartos seios. Este fato retrata ironicamente uma “princesa” subvertida que incorpora características sexuais, uma moral duvidosa e que não é passivamente levada pelo príncipe ao seu destino. Também o príncipe revela-se através dessa luz, mas não como um homem forte. Seus braços são finos, é de baixa estatura, de pernas curtas, desproporcionais ao corpo. Seus cabelos não são loiros, mas sim negros e com o transcorrer da cena, tornam-se despenteados.

O ponto que deve ficar claro não é a forma com a qual os jovens alemães eram ensinados. Tampouco cabe aqui analisar esta questão. O relevante é a mensagem transmitida aos jovens que assistem ao desenho, carregada de sentidos, idéias, formadores de opinião, constituintes de uma identidade, que finalmente são integradas em uma ideologia. Podemos, então, dividir este desenho em dois momentos: “Antes da Luz” e “Depois da Luz”. No primeiro, a expectativa criada aponta para um príncipe comum aos contos de fadas, uma princesa que não é revelada, mas que é presumida como sendo bela. No segundo, a expectativa é quebrada pela subversão dos personagens. O desfecho torna-se algo inusitado, revelando-se assim, através do narrador, a ironia do conto. A ironia, considerando-se a ideologia subjacente a esse desenho animado, tem como objetivo ridicularizar a Alemanha, e revelar as figuras que Hitler representa para os Estados Unidos – o louco, o demônio, o estúpido. Por tudo isso, torna-se clara a relevância do discurso historicamente naturalizado, neste caso o conto de fadas, para que se transmitam novas posições ideológicas e políticas.

 

 

 

 

 

Referências:

 

DIJK, T. Ydeologia y Discurso: Una Introdución Multidisciplinaria. Barcelona: Editorial Ariel, 2003

DISNEY, W. The story of one of “Hitler’s Children” as adapted from Education for Death – The Making of The Nazi (1943). Disponível em http://www.ifilm.com/ifilmdetail/2408800?htv=12 Acessado em 9 de Setembro de 2005

JOLY, M. Introdução à Análise da Imagem. São Paulo: Papirus Editora: 2005

RKO information. Disponível em http://64.233.187.104/search?q=cache:7n4THaITJuUJ:www.searchspaniel.com/index.php/RKO+%22Walt+Disney%22+%22Hitler%27s+Children%22+RKO&hl=pt-BR Acessado em 1 de novembro de 2005