Filosofia para crianças: EDUCAR PARA O PENSAR

 

Fernando Felipe Duarte[1]

 

INTRODUÇÃO

 

O objetivo deste trabalho é analisar os aspectos que constituem a “linguagem filosófica” da proposta filosofia para crianças, do filósofo norte-americano Matthew Lipman, que visa iniciar as crianças e os jovens no estudo da filosofia no Ensino Básico. Discutimos neste trabalho os desdobramentos da proposta filosofia para crianças e oferecemos subsídios para o trabalho em sala de aula.

 

I. sobre o autor:

 

Matthew Lipman lecionou na Universidade de Columbia, em Nova York, além de ter sido professor na Universidade Estadual de Montclair, em Nova Jersey. Nesta universidade, deu continuidade a seus estudos sobre as possibilidades de se trabalhar filosofia com crianças e jovens.

Lipman fundou e dirigiu o Institute for the Advancement of Philosophy for Children (IAPC). Criou a proposta filosofia para crianças, programa que hoje é difundido mundialmente. Suas principais obras são A Filosofia vai à Escola, 1990; O Pensar na Educação, 1995; Natasha: Diálogos Vygotskianos, 1997; Filosofia na Sala de Aula, 2001. Além disso, publicou inúmeros artigos a respeito deste assunto e produziu um material didático específico para desenvolver sua proposta em sala de aula.

 

II. a proposta de Filosofia para crianças de Matthew Lipman:

 

Matthew Lipman foi professor de lógica e teoria do conhecimento e em suas aulas percebeu que os alunos traziam dificuldades de raciocínio, as quais Lipman atribuiu à metodologia aplicada nos ensinos fundamental e médio, de pouco questionamento, repetição, memorização e ausência de opinião crítica. Verificou que seus alunos não conseguiam dar um significado aos conceitos que estavam aprendendo e não conseguiam articulá-los com o seu cotidiano. Devido à idade de seus alunos (a maioria com mais de dezoito anos), chegou à conclusão que dificilmente recuperariam adequadamente essa faculdade.

Até recentemente, não havia relevantes estudos que abordassem esse problema. Enquanto não houve a diferenciação entre as habilidades primárias de raciocínio e as de ordem superior, parecia não haver necessidade de investigar as possibilidades de que as deficiências no raciocínio tivessem procedência no ensino fundamental. Somente quando foi verificada a distinção entre essas habilidades, é que se começou a reconhecer as habilidades primárias de raciocínio como aparato lógico fundamental dos seres humanos de qualquer idade.

Por meio de um teste de múltipla escolha com cinqüenta questões produzidas pela New Jersey Test of Reasoning Skills, baseado numa taxonomia das habilidades primárias de raciocínio, foi possível comparar o desempenho de indivíduos de diferentes idades.

O resultado final deste teste nos mostra que, entre a segunda e a sexta séries, há um desenvolvimento gradual das habilidades primárias de raciocínio, mas a partir da oitava série é constatado um declínio dessas habilidades.

Quando testados os estudantes que acabaram de ingressar na universidade, constatou-se que, em valores quantitativos, eles atingiam o mesmo porcentual dos alunos da sexta série. Ou seja, tanto os alunos da sexta série como os estudantes que iniciaram o curso superior, conseguiram resolver setenta e seis por cento das questões propostas no teste. Mesmo que isso não demonstre categoricamente que os estudantes do ensino fundamental estejam raciocinando tão bem quanto poderiam, esses dados contribuem para compreendermos porque os universitários encontram dificuldades de acompanhar as discussões ao longo do Ensino Superior. Desta forma, podemos concluir que os alunos começam o curso universitário com habilidades de raciocínio equivalentes as dos estudantes de sexta série.

Lipman considera que os seres humanos contam com um repertório básico dessas habilidades que, se não foram estimuladas adequadamente por um processo educacional, só poderão ser desenvolvidas a partir de atividades que estejam intencionalmente direcionadas para o cultivo do raciocínio. Neste sentido, a filosofia em sala de aula como disciplina adquire um papel fundamental no desenvolvimento e aprimoramento do raciocínio.

Propõe então que, quanto mais cedo os indivíduos entrarem em contato com a filosofia, terão mais condições para pensarem e refletirem sobre conceitos e valores, desenvolvendo o seu espírito crítico. Embora eles não compreendam profundamente diversos conteúdos e não estejam preparados para debater determinadas questões, ao menos se empenham em investigar, questionar e descobrir aquilo que está ao seu redor.

Através da filosofia, tornam-se capazes de realizarem escolhas adequadas e terem consciência dos motivos que os levam a tal, desmistificando o pensar corrente de que exista um perigo em expor as crianças à filosofia. Para Lipman, o desenvolvimento dessa consciência crítica é fundamental para a sua formação ética.

Na ótica deste autor, as crianças são profundamente ativas, curiosas, imaginativas, investigadoras e questionadoras. Desde os seus primeiros anos, estão dispostas a discutir problemas cognoscitivos, éticos, estéticos, políticos, entre outros, de sua própria experiência. Este fato pode ser percebido pela sua fala e através da linguagem que usam durante as discussões em sala de aula. Utilizam palavras como “bem”, “mal”, “bom”, “mau”, “verdade”, “mentira”, “bonito”, “feio”, “justiça” etc., sem ter consciência do que estas palavras podem representar ou significar. Tampouco percebem que elas podem possuir diferentes sentidos, quando focalizadas sob outros pontos de vista.

Para Lipman, é pela filosofia que as crianças são instigadas a pensar. É através desta proposta que são estimuladas a investigarem o significado das palavras que utilizam e o sentido que podem adquirir num contexto determinado. É pela filosofia que as crianças são instigadas a criarem-recriando e a inventar-reinventando as interpretações e teorias que lhes são apresentadas.

 

III. As formas de pensar na ótica de Matthew Lipman:

 

A filosofia se tornou uma disciplina acadêmica com acesso limitado a alguns alunos, que estudam sua história de maneira fragmentada. Quando presentes no currículo das escolas, as aulas de filosofia estão predominantemente voltadas para a transmissão do pensamento de filósofos renomados e aqueles que as lecionam não procuram propiciar o confronto de idéias entre os autores estudados.

Praticada desta maneira, a filosofia ensinada em sala de aula perde o sentido pensado por Lipman, já que não estimula a reflexão e a crítica. Em filosofia para crianças, os professores devem abordá-la como prática estimuladora da investigação e do questionamento em cada indivíduo, na busca da reflexão e do pensar bem.

Na visão de Lipman, o pensar bem significa “[...] fazer associações e pensar criativamente; é fazer associações novas e diferentes”[2]. Pensar é elaborar idéias a partir da observação da realidade. Isto não é uma tarefa fácil, pois a realidade é compreendida num contexto social e, por esta razão, é dinâmica e complexa, em contínua mutação. Por meio do pensar, os alunos deveriam produzir e criar novos conceitos, recriar significações e refletir sobre os valores, para que se possam estabelecer novas visões sobre a realidade.

Lipman caracteriza o pensar de duas formas. O pensar de ordem superior que poderia ser resultado da prática de filosofia nas escolas e o pensar coloquial, ordinário, de baixa ordem, do qual se deseja livrar.

Ao formular sua proposta de filosofia para crianças, Lipman diferenciou o pensar cotidiano do pensar desenvolvido nas escolas através do ensino pela filosofia a qual sugere. Para ele, enquanto o pensar do dia-a-dia seria um pensamento acrítico, fraco, arbitrário, acidental e não estruturado, o pensar filosófico favoreceria o desenvolvimento do senso crítico, que leva ao pensar de ordem superior.

Para aprofundar o sentido deste conceito de pensar, Lipman o divide em três: o pensar crítico, o pensar criativo e o pensar cuidadoso. O pensar crítico está ligado a critérios – estes critérios estariam associados aos princípios e aos valores constituídos em cada indivíduo – e por isso é bem fundamentado, estruturado e orgânico. Este pensar está associado à sabedoria.

 

“O pensar crítico é basicamente orientado por critérios, para que se possa fazer um bom julgamento racional, onde através de critérios uma determinada instância de pensamento pode ser identificada como crítica”[3].

 

Lipman aponta para uma semelhança existente entre crítico e critérios, entre critérios e julgamento. Sugere que o professor, ao pôr em prática na sala de aula sua proposta, seja capaz de desenvolver nos seus alunos a capacidade de julgar, pois parte dos julgamentos que realizamos é superficial. Desta forma, as estruturas intelectuais devem ser fortalecidas para aprimorarmos o raciocínio.

Lipman salienta a existência de habilidades cognitivas de raciocínio que visam à formação de conceitos e à investigação. Para ele, essas habilidades se tornam indispensáveis como critérios para compreender o significado de um texto escrito ou de um diálogo.

 

“[...] não devemos nos contentar em propiciar aos alunos a prática de somente uma pequena quantidade de habilidades cognitivas, enquanto ignoramos todas as outras que são necessárias à eficácia na investigação, na linguagem e no pensamento [...]”[4].

 

Quanto ao pensar criativo, define-o como: “[...] o pensar que conduz ao julgamento, que é orientado pelo contexto, é autotranscendente, sensível aos critérios”[5]. Enquanto o objetivo do pensar crítico é a verdade, o pensar criativo tem como finalidade a invenção, impulsionado pelo desejo de ir além do aparente.

Já o pensar cuidadoso é aquele que medeia a conduta das pessoas e precede as ações que serão executadas, expressa aquilo que o indivíduo considera importante e valioso, empregando valores no pensar.

 

IV. a influência de lev vygotsky na proposta filosófica de Matthew Lipman:

 

Uma influência filosófica na proposta filosofia para crianças é Lev Semyonovitch Vygotsky[6]. Para Vygotsky, a linguagem é um processo interativo, dialógico e social. Matthew Lipman acredita que a atividade intelectual está ligada diretamente a este conceito de linguagem. Para ele, a linguagem adquire um importante papel no decorrer da aula, numa Comunidade de Questionamento e Investigação[7].

Para Vygotsky, existe uma prioridade do social sobre o indivíduo. Vygotsky acredita que a função psicológica é de ordem social interacionista. Para este autor, a linguagem surge no âmbito coletivo e depois se torna particular, individual, próprio de um sujeito específico.

Aplicando as idéias deste autor russo na educação, podemos chegar à conclusão de que as instituições de ensino não transformam as crianças em seres sociais. Vygotsky considera que antes que dêem início à escolarização, as crianças já são sujeitos sociais pela sua inserção no contexto coletivo. Neste contexto, podemos relacionar o pensamento de Vygotsky como a proposta de filosofia para crianças de Lipman.

 

V. A Comunidade de Questionamento e Investigação:

 

Adotando o conceito de “comunidade de investigação” elaborado por Charles Sanders Peirce[8] (outro pensador que influenciou a proposta filosofia para crianças), Lipman amplia este espaço para abarcar qualquer tipo de investigação em diferentes áreas do conhecimento. Busca transformar a sala de aula numa verdadeira “comunidade de questionamento e investigação”, onde cada aluno democraticamente possa apresentar opiniões, questionando e levantando problemas, a partir de suas idéias pessoais.

A comunidade de questionamento e investigação tem como um dos objetivos principais desenvolver as habilidades do pensar, potencializando o julgamento e capacitando as crianças para exporem suas próprias opiniões. Lipman considera que o produto da investigação é o juízo que os alunos possam emitir.

 

“[...] obter um produto – a partir de algum tipo de determinação ou julgamento, não importando o quanto isso possa parecer experimental ou parcial. O processo possui um sentido de direção; movimenta-se para onde o argumento conduz”[9].

 

A proposta filosófica da comunidade de questionamento e investigação visa a estabelecer o diálogo coletivo e democrático entre os seus participantes, aguçando o saber sob o caminho do pensamento coletivo, interativo e de construção conjunta do conhecimento.

Numa comunidade de questionamento e investigação, as aulas deixariam de ser ministradas da forma tradicional (espaços de transmissão unilateral do conhecimento, dominados pelo individualismo e pela ausência de diálogo, reflexão e sentido), para se tornarem locais deliberativos, baseados num pensar coletivo logicamente estruturado e razoavelmente constituído.

A tarefa dos professores na comunidade de questionamento e investigação é, sobretudo, fomentar o respeito entre seus participantes, observar o cumprimento das regras estabelecidas e traçadas de comum acordo no início das atividades, acompanhar o processo de investigação em sala de aula estimulando o raciocínio, a capacidade de julgar e também desenvolver a formação moral dos alunos.

Na comunidade de questionamento e investigação, o papel do professor, entendido como modelo de pesquisador, adquire uma importância fundamental na filosofia para crianças. Neste local, os professores devem conduzir os seus participantes para o ideal investigativo e questionador e se comprometerem a colocar em prática o debate filosófico.

Para que esta comunidade vigore, é essencial que o professor adote uma postura democrática e dialógica, de pesquisa e crítica, em que as crianças possam discutir abertamente, apresentando suas próprias respostas. Nela, o professor deve ocupar o papel de mediador entre os alunos e os temas em discussão.

 

VI. O material didático da proposta filosofia para crianças de Matthew LIPMAN[10]:

 

Com objetivo de tornar viável a sua proposta de filosofia para crianças, Lipman produziu um material didático específico como forma de sistematização da metodologia e como auxílio aos professores aplicarem em sala de aula, para os alunos iniciarem a investigação filosófica. Elaborou novelas e romances para conduzir o diálogo filosófico na escola e que pudessem aproximar as crianças da filosofia.

As novelas e os romances são narrativas que trazem questões filosóficas implícitas nas falas dos personagens e nos acontecimentos vividos por eles. Matthew Lipman criou personagens para que as crianças se identificassem com eles. Busca através das relações cênicas se desenvolvam de maneira democrática, ou seja, sem que haja supremacia de um personagem sobre o outro. Esses protagonistas possuem diferentes características: um é analítico, outro cético, outro empirista, outro intuitivo etc.

O primeiro livro escrito por Lipman foi Harry Stottlemeier Discovery (1969), que foi traduzido para o português como A descoberta de Ari dos Teles, com personagens infantis, empenhados em desenvolver um diálogo filosófico sobre suas inquietações. Por meio do diálogo na comunidade de questionamento e investigação, discutem-se questões éticas, estéticas, metafísicas e epistemológicas relacionadas à vida cotidiana das crianças.

Mais tarde, Lipman amplia sua proposta inicial criando outras novelas que seriam divididas de acordo com a faixa etária das crianças a que são destinadas e ao tema, tendo como objetivo recriar as idéias dos filósofos numa linguagem mais acessível à compreensão dos alunos, sem que prejudicasse a essência do pensamento. Expondo-o de maneira mais simples, Lipman pretende que as crianças façam suas descobertas por si mesmas, sem que elas necessitem tanto da ajuda dos professores. As crianças deveriam formar uma comunidade de pesquisa, onde cada uma delas pudesse contribuir ativamente para desenvolver o pensar.

Este material está destinado a crianças de três a dezessete anos, que envolve todas as etapas dos ensinos fundamental e médio, visando colocar em prática a filosofia como educação para o pensar. A seguir, sistematizaremos o conteúdo de algumas das novelas do autor.

 

Rebeca:

 

Escrita por Ronald Reed, colaborador de Lipman, é a novela utilizada para a iniciação filosófica das crianças na Educação Infantil. Esta novela está prevista para introduzir o trabalho com alunos de cinco a sete anos.

Trata-se da história de uma menina intrigada com as questões que cercam a realidade e a fantasia. Este relato é o ponto de partida para estimular nas crianças o desenvolvimento de habilidades como: critérios de classificação, detectar semelhanças e diferenças, raciocínio hipotético, relação de causa e efeito, relação parte e todo, além do esclarecimento de conceitos.

Ao longo da narrativa, as crianças são convidadas a refletir sobre o próprio pensar (metacognição), envolvendo-se com problemas da filosofia, tais como a percepção, a identidade, a imaginação, a verdade, as relações entre realidade e aparência, conhecimento, probabilidade e possibilidade, perguntas e pensamento.

 

Issao e Guga:

 

Nesta narrativa, escrita por Lipman para crianças de sete a nove anos, as personagens Issao e Guga lembram de umas férias inesquecíveis que viveram juntos, quando Issao visita a fazenda de seus avós e se torna amigo de Guga, que mora com sua família nas redondezas.

O avô de Issao, que era marinheiro, relembra um singular encontro que teve com uma baleia, na sua experiência marítima, e diz que gostaria de visitar algum lugar onde pudesse, novamente, observá-las. Issao o convence a fazer esta viagem e levar a família de Guga.

A forma com que Issao e Guga demonstram interesse por animais, pela noção de espaço e tempo e por muitos outros aspectos da natureza, faz desta narrativa uma introdução eficaz para a investigação sobre as relações entre a linguagem, o mundo e as diferentes formas de percepção.

As questões sobre o conhecimento humano, as preocupações com a ecologia, a reflexão sobre o belo, o real e a verdade são temáticas que permitem às crianças o contato com a prática de filosofar. Há, nesta novela, uma ênfase nas questões da fenomenologia da percepção.

 

Pimpa:

 

Indicada para crianças de nove a onze anos, esta novela, também escrita por Lipman, narra as experiências de uma garota questionadora, preocupada em descobrir os significados das coisas e suas possíveis relações.

Pimpa proporciona às crianças possibilidades de investigação sobre vários temas que têm sido objeto de preocupação da filosofia: dever, direito, justiça, necessidades, regras de conduta, urgência, verdade etc. Pimpa se interroga se espaço, família, tempo e, até mesmo, o seu próprio nome são relações reais ou só existem em nosso pensamento.

Temas da fenomenologia, da metafísica e da teoria da linguagem estão presentes nesta novela, desenvolvendo questões sobre a relação entre corpos e mentes, partes e todo, idéias e coisas.

 

A Descoberta de Ari dos Telles:

 

Este novela é indicada para adolescentes de onze a treze anos. Narra a aventura de um menino que, surpreso com um assunto levantado pelo professor durante uma aula, procura esclarecer, junto com seus amigos, os caminhos para compreender as regras de um bom raciocínio.

Um dos principais objetivos da novela Ari é que os alunos aprendam a pensar e a pensar sobre o pensar (metacognição). Para isso, Ari propõe práticas e princípios que propiciem o raciocínio estruturado e procura aproximar os alunos da seqüência de idéias lógicas, de um pensar. A Descoberta de Ari dos Telles enfatiza a lógica do agir, a lógica das boas razões e a lógica formal.

Esta novela nos proporciona uma iniciação à investigação filosófica, problematizando temas de antropologia, educação, epistemologia, estética, ética, fenomenologia, linguagem, ontologia e política.

Em várias passagens, Ari e seus amigos discutem sobre a origem e realidade dos pensamentos; estabelecem também uma discussão ética sobre padrões culturais, relações de poder na escola e o conflito entre diferentes padrões éticos.

Esta narrativa salienta a importância da investigação, propicia o desenvolvimento de formas alternativas de pensar e imaginar e mostra como as crianças e jovens são capazes de aprender de forma conjunta, a partir da troca de pensamentos.

 

Luísa:

 

Último livro que compõe o material didático da proposta FpC, esta novela é indicada para adolescentes de treze a quinze anos. Certo, errado, liberdade, justiça e outras questões instigam os personagens da novela e levam os alunos a percorrerem os caminhos da investigação ética.

Luísa retoma algumas das questões lógicas que já apareceram em Ari e introduz questões éticas que são o tema dominante de toda a novela. Nela, são abordados os mais variados temas éticos que fazem parte do nosso cotidiano.

Em Luísa, o diálogo entre os personagens é referência para o diálogo na sala de aula, estimulando a busca dos critérios para a construção dos juízos morais, do entendimento e avaliação das ações que envolvem o dia-a-dia.

 

VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

 

A educação se estabeleceu ao longo dos séculos, perpetuando valores e com acesso restrito a uma pequena parcela da população. Após a Revolução Francesa, a educação passa a ser disseminada em larga escala, com objetivo de consolidar o poder e os valores da classe que ascendia ao poder: a burguesia. Naquele momento, observamos dois métodos distintos na forma de educar, que estariam relacionados com a classe social a que pertencia o educando: à minoria burguesa, seria ministrada uma educação para governar e à maior parte da população de proletários, uma educação para a submissão. É importante destacar que, independente da classe social a qual eram dirigidos, estes métodos de ensino praticamente não forneciam aos alunos meios para que refletissem e questionassem os saberes aprendidos.

A filosofia que, segundo a proposta de Lipman, deveria propiciar aos alunos formas de questionamentos, reflexão e crítica, atualmente se tornou uma disciplina acadêmica com acesso limitado a alguns alunos, que estudam sua história de maneira fragmentada.

Quando presentes no currículo das escolas, as aulas de filosofia estão predominantemente voltadas para a transmissão do pensamento de filósofos renomados e aqueles que as lecionam não procuram propiciar o confronto de idéias entre os autores estudados. Praticada desta maneira, a filosofia ensinada em sala de aula perde o sentido enfatizado ao longo deste trabalho.

A filosofia deve ser repensada, reformulada e pode ser muito útil para o desenvolvimento do raciocínio e a formação geral das crianças e dos adolescentes e é neste sentido que Lipman apresenta sua proposta de filosofia para crianças.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

ISKANDAR, Jamil. Normas da ABNT. Comentadas para trabalhos científicos. 2. ed. Curitiba. Juruá Editora: 2005.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor: 1990.

KOHAN, Walter Omar. Infância. Entre educação e filosofia de Matthew Lipman. Belo Horizonte. Autêntica: 2003.

KOHAN, Walter Omar e WUENSCH, Ann Mirian (Orgs.). Filosofia para crianças. A tentativa pioneira de Matthew Lipman. Petrópolis. Vozes: 1999.

LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. 3. ed. São Paulo. Summus: 1990.

_____. Natasha: Diálogos Vygotskianos. Porto Alegre. Artes Médicas: 1997.

LIPMAN, Matthew, OSCANYAN, Frederick e SHARP, Ann. Filosofia na sala de aula. São Paulo. Nova Alexandria: 2001.

_____.  O Pensar na Educação. 3. ed. Petrópolis. Vozes: 1995.

MORA, Jose. Diccionário de Filosofia. Buenos Aires. Editorial Sudamericana. 1951.



[1] Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, Educação e Filosofia.

[2] LIPMAN, Matthew. O Pensar na Educação. Tradução de “Thinking in Education” por Ann Mary Fighiera Perpétuo. Petrópolis, RJ: Vozes. 1995, p. 33.

[3] Ibidem, p. 226.

[4] Ibidem, p. 174.

 

[5] Ibidem, p. 279.

[6] Lev Semyonovitch Vygotsky nasceu na Rússia em 5 de novembro de 1896. Graduou-se em Direito pela Universidade de Moscou, dedicando-se, posteriormente, à pesquisa literária. Entre 1917 e 1923 atuou como professor e pesquisador no campo de Artes, Literatura e Psicologia.

A partir de 1924, em Moscou, aprofundou sua investigação no campo da Psicologia, enveredando também para o da Educação de Deficientes.

No período de 1925 a 1934, desenvolveu, com outros cientistas, estudos nas áreas de Psicologia e anormalidades físicas e mentais. Ao concluir outra formação, em Medicina, foi convidado para dirigir o Departamento de Psicologia do Instituto Soviética de Medicina Experimental.

Faleceu em 11 de junho de 1934.

[7] A Comunidade de Questionamento e Investigação é um conceito fundamental a compreensão da proposta de filosofia para crianças de Matthew Lipman. A Comunidade de Questionamento e Investigação será desenvolvida especificamente no capítulo IV.

[8] Charles Sanders Peirce (1839-1914): Filósofo norte-americano, de formação científica (física e química). Escreveu inúmeros trabalhos sobre lógica, metafísica, teoria do conhecimento e filosofia da ciência. Estudou na Universidade de Harvard, onde foi professor.

Peirce propõe um método no qual o significado dos conceitos se estabelecem a partir dos efeitos práticos de uso concreto.

[9] LIPMAN, Matthew. O Pensar na Educação. Tradução de “Thinking in Education” por Ann Mary Fighiera Perpétuo. Petrópolis, RJ: Vozes. 1995, p. 331.

[10] A tradução deste material é disponibilizada somente aqueles que participam dos cursos de formação de professores desenvolvidos pelo Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças (CBFC).