Quando o meio é fim: a aprendizagem do instrumento no ensino a distância

 

COSTA, E.¹

¹UCPel - Pró-Reitoria de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão - Curso de Analise de Sistemas

                                                           {educosta@gmail.com}

 

 

Introdução

 

            O avanço da tecnologia da informação vem proporcionando uma verdadeira revolução em certas áreas do nosso dia a dia. Esses avanços criam novos paradigmas, na educação esse paradigma é o ensino a distancia.

            Baseado na Teoria da Atividade, esse trabalho procura estudar o relacionamento de professores, de um curso a distancia, com o computador, instrumento fundamental no ensino a distância.

           

Fundamentação teórica

 

Teoria da Atividade

 

Segundo esta teoria, uma atividade é formada por um sujeito (ou grupo) que possui uma forma de agir direcionada a um objeto. A motivação do sujeito (ou grupo) está na transformação do objeto em um resultado. Objetos podem ser algo concreto (como um programa) ou algo mais abstrato (como uma idéia). Ferramentas de mediação, tais como um editor de texto ou uma ferramenta de e-mail, são os artefatos usados para auxiliar na transformação do objeto no resultado. Ferramentas podem ser usadas para manipular e entender o objeto, ou para melhorar a comunicação e motivação dos indivíduos.

 

Ferramentas

 

De acordo com VYGOTSKY, há dois tipos de ferramentas: as técnicas e as psicológicas. As primeiras são destinadas à transformação dos objetos físicos, (por exemplo, um martelo), ao passo que as últimas são usadas pelos indivíduos para influenciar outras pessoas ou a si mesmas (por exemplo, a tabuada, o calendário ou uma propaganda).

 

Estrutura da Atividade

 

Engeström propõe um triangulo que descreve todos os itens da teoria da atividade. Tudo é interligado e nada se faz sozinho, tudo depende de tudo.

 

 

Figura 1: Triangulo da teoria da atividade

 

 

Internet para fins educativos

 

A Internet não deve ser apenas encarada como milhões de computadores, cujos recursos podem ser compartilhados, e sim como os milhões de seres humanos atrás das telas e dos teclados: cientistas, professores, alunos e pais, que podem entrar em contato com pessoas, fazer perguntas ou respondê-las, discutir, trocar informações e dicas, colocar opiniões, divulgar informações e muito mais, independentemente do tempo e do espaço.

Ela não pode nem deve substituir o diálogo pessoal (em aula) ou o contato humano direto. Mas ela abre dimensões novas de contato e comunicação adicionais, justamente além das limitações impostas por tempo e espaço, que não seriam possíveis (física e financeiramente) sem ela.

O uso produtivo da Internet para fins educativos é quase tão infinito quanto às ramificações da própria rede e encontra seu limite apenas na imaginação dos professores e alunos que queiram tirar proveito dela.

 

Acesso à tecnologia

 

Uma faceta que afeta o modo como os estudantes vêem sua interação com a tecnologia é o seu acesso à tecnologia. Muitos estudantes podem não ter acesso ao laboratório de computadores ou a um computador próprio.

Em um estudo realizado por SCHRUM E HONG, foi descoberto que apesar de os estudantes serem informados sobre os requisitos de hardware e software para o curso, estudantes que foram eleitos para fazer o curso ficaram frustrados quando eles encontraram a falta de velocidade ao acessar os conteúdos. Este desconforto com a tecnologia em cursos baseados na web pode tornar-se cada vez mais frustrante por causa dos seus problemas de acesso.

Algumas vezes o problema é devido à incompatibilidade entre os recursos de hardware e software que os estudantes estejam usando.

A questão da tecnologia é uma preocupação constante, especialmente em áreas remotas onde a falta de suporte da infra-estrutura necessária pode resultar em dificuldade de acesso ao conteúdo do curso.

SCHRUM E HONG (2002) discutiram a questão da interação com a interface em termos de acesso as ferramentas tecnológicas em aprendizado on-line. Resultados de pesquisas de 14 educadores indicaram que quanto maior o desafio para os estudantes em acessar as ferramentas para participar no trabalho do curso, mais rapidamente os estudantes poderiam apresentar razoes para afastarem-se de um curso on-line.

 

Metodologia

 

Os dados que serão analisados na próxima sessão foram coletados do curso on-line ”Didática para o Ensino de Línguas On-line - 4ª Edição - Especial CVA - RICESU".

Foram coletados trocas de mensagens entre alunos e tutores do curso, onde se discute como deve ser feito o uso da ferramenta de autoria ELO. Aplicando a Teoria da Atividade, concluímos que em primeiro plano o instrumento passa ser o objeto do sujeito, mostrando a adequação da Teoria da Atividade.

Esses dados foram coletados de maneira aleatória, apenas selecionando o tema do fórum, no caso, duvidas e soluções do uso da ferramenta de autoria.

 

Ferramentas de autoria

 

Ferramentas de autoria são recursos amigáveis para que leigos, vamos dizer assim, ou não programadores, possam desenvolver com rapidez, amigabilidade e onde quer que estejam, independentes de tempo, lugar ou situação física, um determinado conteúdo ou programa. (MAIA, C.)

 

Curso DELO (Didática para o Ensino de Línguas On-line)

 

Didática para o Ensino de Línguas On-line é um curso de preparação de atividades interativas mediadas por computador.

O objetivo é qualificar o professor para o uso da nova tecnologia, ampliando sua ação para além da sala de aula e facilitando sua presença, mesmo quando distante do aluno.

 

 

Resultados

 

Mensagem

Meu nome é Roberta, sou casada, tenho 3 filhos e sou professora na Puc-Campinas há mais de 20 anos.
Confesso que estou um pouca ansiosa em relação ao curso porque o computador ainda me assusta, por mais incrível que possa parecer. De qualquer forma, gosta muito de desafios.

 

Um exemplo claro de que o computador ainda assusta diversas pessoas. Isso afasta pessoas que não gostam de desafios como cita a aluna.

 

 

 

 

 

Mensagem

Conheci o ELO e acredito ter sido uma experiência diferente. Posicionei-me como aluna e tive algumas dificuldades de saber exatamente como proceder em determinados momentos. Por outro lado, em algumas atividades o feedback automático propiciou-me mais tranqüilidade em prosseguir o trabalho. Fiz as minhas observações sobre as atividades propostas no relatório final de cada uma (não tinha certeza para quem enviar, peguei o nome de um dos nossos tutores e as enviei). Estou sentindo falta dentro deste espaço do nosso curso (TELEDUC) o correio interno.

 

A Aluna em fase de utilização do ELO encontra dificuldades no uso da ferramenta e avalia o feedback dado pela ferramenta.

Esse exemplo mostra que o bom planejamento de desenvolvimento do meio (software de autoria) também é muito importante no ensino a distancia, uma ferramenta pouco amigável pode afastar os alunos.

 

Mensagem

Olá pessoal,
1. Na atividade de múltipla escolha com dicionário eu gostaria de ampliar o espaço do texto e diminuir o do professor. Colei {25%.col} no texto da homepage lexical, mas não está dando certo. Preciso de mais espaço para o conteúdo e menos para as perguntas.
2. Todos os arquivos precisam ter o mesmo nome, por exemplo, a homepage, o menu, a atividade em si?

 

O exemplo mostra que até mesmo no uso do instrumento a Teoria da Atividade se aplica. O aluno esta com dificuldade em alterar detalhes de uma de suas atividades, isso ocorre, pois, falta ao aluno um conhecimento mais aprofundado em informática.

 

 

Mensagem

Gente estou delirando com todas as possiblidades de apresetação visual que estou descobrindo enquanto faço minhas atividades. E olha que recém comecei. Outro dia estive olhando as atividades dos cursos anteriores e pensei: Puxa, isso sim que deve ser difícil. Mas agora colocando a mão na massa estou vendo que é um barato. Quero ver quem consegue me tirar da frente deste computador agora.(jejeje!!!!)

 

            Neste exemplo temos a satisfação de um aluno ao conseguir usar bem o sistema. Essa motivação é muito importante para que o aluno não se desanime durante o curso.

 

Conclusão

 

A falta de familiarização com a tecnologia tem sido citada com uma barreira negativa ao aprendizado.

Também, as percepções dos estudantes sobre o acesso a tecnologia em muito influenciadas conforme eles acreditavam que a tecnologia era útil ou uma inconveniência.

De modo inverso, outros estudos têm concluído que apresar da inexperiência com a tecnologia, os estudantes tem relatado o aumento da confiança no uso do computador e vêem as demoras associas com a tecnologia como um tempo para reflexão.

Em essência, a falta de experiência no computador ou dificuldade em interagir com a tecnologia na leva necessariamente a interações negativas com a interface. Muito da interação aluno-interface parece depender de como os estudantes percebem a tecnologia.

Então, estudantes que não são “experts” no uso da tecnologia para aprendizado podem ainda relatar resultados positivos no curso.

 

Referencias bibliográfica

 

Engeström, Y., 1999 Activity theory and individual and social transformation.  In: Leontiev, A.N., 1978.  Activity, Consciousness, and Personality. Hillsdale: Prentice-Hall. (Texto disponível em http://marxists.anu.edu.au/archive/leontev/works/1978/index.htm    Acessado em 21 de agosto de 2004).

KOMOSINSKI, L. J., Um Novo Significado para a Educação Tecnológica fundamentado na Informática como Artefato Mediador da Aprendizagem.

LEFFA, V. J. Aprendizagem mediada por computador à luz da Teoria da Atividade.  Calidoscópio, São Leopoldo, v. 3, n. 1, p. 21-30, 2005.

Leffa, V. J., 2004. Ensino de Línguas On-line.  Disponível em http://elo.ucpel.tche.br  Acessado em 11 de setembro de 2004.

Leontiev, A. N., 1981. Problems of the Development of the Mind. (Trans. M. Kopylova). Moscow: Progress Publishers.

MAIA, C., Sistemas de autoria para a produção de cursos à distância na web têm se desenvolvido e podem tornar-se um importante parceiro do professor e da instituição, http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=970.

WEININGER, M. J., O uso da Internet para fins educativos, http://www.ced.ufsc.br/~uriel/internet.htm.