DO ATULHAMENTO DO SABER PARA O DIREITO DE EXISTIR DA CIÊNCIA
Dina Maria Martins Ferreira
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Resumo: Com base em dois fragmentos de discursos científicos, faz-se uma avaliação do que pode significar ‘atulhamento do saber’ do pesquisador/professor. Desenvolve-se a problemática por dois eixos: significar atulhamento do saber sob a ótica do quantitativo, de uma forma generalizante e como tal fora de contexto; e entender a idéia de atulhamento do saber partícipe de um processo sócio-político-histórico, no qual pode se visto por dois pontos de vista: o da fragmentação e o do centramento de saberes.
Palavras-chave: atulhamento, saber, quantitativo, fragmentação, centramento,
Considerações
Estou em um congresso - um encontro de saberes -, cuja temática é ensino. Por princípio ou até senso comum, o ensino se sustenta pelo saber, pois não há ensino se não houver saber a ser transmitido. A questão a pensar é sobre o atulhamento do saber, questão que pode ser pensada em três patamares: o valor do sujeito pesquisador/professor – o derramador de saberes - frente ao objeto pesquisado – o atulhamento de saber - e suas importâncias na práxis social. Tal eixo começou a se organizar sob dois fragmentos discursivos: um de Einstein que aponta o desgosto do ensino enquanto atulhamento de saber; e outro de Rajagopalan que critica o lingüista como um derramador de pérolas. Ambos os fragmentos, apesar do primeiro estar situado genericamente em áreas múltiplas de saber e o segundo se enquadrar à área da lingüística, comungam a crítica sobre o atulhamento do saber:
(a) A comunidade dos pesquisadores é uma espécie de órgão do corpo da humanidade. Esse órgão produz uma substância essencial à vida que deve ser fornecida a todas as partes do corpo, na falta da qual ele perecerá. Isso não quer dizer que cada ser humano deva ser atulhado de saberes eruditos e detalhados, como ocorre freqüentemente em nossas escolas nas quais [o ensino das ciências] vai até o desgosto. Não se trata também de grande público decidir sobre questões estritamente científicas. Mas é necessário que cada ser humano que pensa tenha a possibilidade de participar com toda lucidez dos grandes problemas científicos de sua época, mesmo se sua posição social não lhe permite consagrar uma parte importante de seu tempo e de sua energia à reflexão científica. É somente quando cumpre essa importante missão que a ciência adquire, do ponto de vista social, o direito de existir” (Albert Einstein, Berliner Tageblatt, 20 de abril de 1924, In: Jornal de Ciência e Tecnologia, “Veja o que Einstein pensava sobre a relevância da divulgação científica”, II Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, de 3 a 9 de outubro de 2005, agosto de 2005) (itálico acrescido); e
(b) A autoridade do lingüista não é automaticamente aceita pela sociedade ampla. Ela precisa ser conquistada. E para conquistá-la é necessário usar bastante persuasão. Não é derramando o nosso saber – como se fosse um punhado de pérolas em meio a um amontoado de porcos ávidos – que vamos conseguir convencer o público leigo de que temos algo importante a dizer. (Rajagopalan, 2003:8) (itálico acrescido)
No primeiro fragmento Einstein atualiza comentários que perfilam o pesquisador/professor, como um profissional que se perde na quantidade de saberes, saberes que não atuam na prática social; e, como tal, apenas preenchem dados quantitativos necessários para alçar o profissional à importância curricular solicitada pelo Olimpo acadêmico. No segundo, Rajagopalan completa a problemática do atulhamento de saberes ao posicionar o saber do lingüista na estratosfera dos eleitos que ignoram o saber do leigo e do professor que pensa não aprender com o aluno; este autor levanta a questão da necessidade dos estudiosos ouvirem os leigos, já que ambos os sujeitos – pesquisador e leigo - compartilham a prática social em que ‘co-vivem’.
Na idéia de amontoado de saberes, destaco o sujeito do saber (pesquisador/professor) em relação ao objeto do conhecimento, sem me deter no sujeito aluno.
1. Atulhamento de saber, uma questão quantitativa
A problemática do atulhamento de saberes é muito mais complexa do que simplesmente entendê-la como uma listagem quantitativa. Nessa questão do quantitativo, o sujeito acadêmico se encontra na massa, um agrupamento de classe sem faces, cujos corpos se movimentam na multidão de objetos do conhecimento, que se valoram pela quantidade. Na valoração, primeiro estaria a quantidade de papéis, ou seja, o pesquisador/professor passa a ser avaliado pelo volume de papéis que ‘fabrica’; escreve sob a ótica da paráfrase, pois há que enumerar multiplicando ‘saberes’, o que me faz lembrar da piada de corredor em que o pesquisador/professor ironicamente diz ao colega à sua frente: - se eu ganhasse na proporção de papéis que manejo estaria rico. A segunda perspectiva do quantitativo é correlacionar a quantidade de escritos à quantidade de objetos de saber, a cada escritura parafrástica cria-se pretensamente múltiplos objetos de saber. No entanto, cada escritura não é necessariamente um novo objeto de saber, pode ser uma re-leitura do objeto-saber. Roland Barthes (1974) nos auxilia com a idéia de que cada re-leitura é uma primeira leitura, ao que faço alusão de que re-leitura, re-significar o texto não é obrigatoriamente apresentar um novo objeto, mas possivelmente re-apresentá-lo sob nova ótica. Por esse foco, entramos na terceira valoração do quantitativo, que se avoluma ao propiciar a cada objeto de saber novas representações. O atulhamento do saber ganha um lamento frente a um desejo não realizado:
A tese do representacionalismo é, ao mesmo tempo, uma lamentação e uma expressão de desejo. Ela é um gesto de lamentação porque afirma a incapacidade dos seres humanos de apreenderem o mundo numenal tal e qual [...] Por outro lado, ela também é uma expressão de um desejo, pois elege como condição ideal da linguagem a total transparência. (Rajagopalan, 2003: 31) (itálico acrescido).
Apesar da questão do representacionalismo se ater à teoria de linguagem, faço co-relação metafórica com as múltiplas representações que o pesquisador dá a seu objeto de pesquisa, que, para dar a ele aparência de ciência, precisa de derivações representacionais que se agrupam em montes aleatórios . Ele quer de qualquer maneira que seu objeto se ‘apresente’, mas como essa epifania científica nem sempre é possível ou alcançada, constrói ilusoriamente um amontoado de representações. Derrida (1999) nos possibilita continuar em nossa metáfora ao oferecer ao que chama de “metafísica da presença”[1]; o pesquisador pensa que seu objeto de estudo é o centro essencial do saber, mas na realidade tem à sua frente a ilusão de sua presença; nenhum objeto de saber pode aspirar a um significado estável, ele se manifesta pela contínua reprodutibilidade, já que não tem uma identidade unitária a e estável. E nessa busca de eliminar sua representatividade e mostrá-lo em sua essência pode estar criando um amontoado de representações. Por essa situação, é que formulamos que o desejo de apresentação é o lamento das representações.
Pelo amontoado de saber – remanejamento parafrástico de papéis escritos, atulhamento de objetos e inúmeras representatividades do objeto – talvez Roland Barthes (s/d) nos ofereça uma possibilidade de retorno à essencia, mesmo que seja uma ilusão. A lei da academia - pesquisadores e professores - comanda o desejo do centro, pois ela nos dá a ‘presença’:
Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguida outra, em
que se ensina o que não se sabe: isso se chama pesquisar. Vem talvez agora a idade de uma outra experiência, a de desaprender, de deixar trabalhar o
remanejamento imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentação dos saberes,
das culturas, das crenças que atravessamos. Essa experiência tem, creio eu, um
nome ilustre e fora de moda, que ousarei tomar aqui sem complexo, na própria
encruzilhada de sua etimologia: Sapientia:
nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria, o máximo de saber
possível. (Roland Barthes, Cultrix, s/d).
2. O atulhamento de saberes e o de-centratamento
Alguns pensadores, inclusive aos que me estou referindo - Einstein e Rajagopalan -, lutam contra tal postura atulhadora do sujeito cientista. Mas parece-me que este sujeito que se perde em seu amontoado de saber ou que derrama saberes em detalhamentos ‘infinitos’ está situado em momento sócio-histórico.
Em um contexto mais amplo é necessário entender que o sujeito e seu objeto de saber estão inseridos no momento da pós-modernidade, aquele em que “o sujeito previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado: composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas” (Stuart Hall, 2000: 12). Estilhaços se processam na prática social; é a fragmentação e decentramento dos sujeitos que, por estarem na prática social do vai-vém de uma pós-modernidade, saem em busca de um essencialismo estratégico, que aporta no atulhamento do saber. A idéia de atulhamento, nesse caso, “une” os fragmentos do saber que constrói um centro, mesmo que seja um centro do atulhamento. Em contexto mais específico, Richard Sennett (2001) talvez nos dê argumentos de discussão - e não de justificativas para a persistência do atulhamento do saber. O sujeito pesquisador motivado cria expectativas – tais como, divulgação, reconhecimento - em relação ao objeto pesquisado; como as expectativas não são atendidas, começa a adiar o resultado de suas expectativas; de tanto adiar, cai na fronteira do sujeito irônico, aquele que talvez só acumule papéis, objetos, representações de objeto e ironize em torno deles – uma forma etnocêntrica de se valorizar, pois reúne os objetos em um monte – centro atulhado, mas não menos centro.
A força etnocêntrica do atulhamento de saberes não se encontra só em uma
possível justificativa para satisfação de expectativas e re-arrumação de
fragmentações em um centro-monte. O etnocentrismo se faz presente na própria
crítica contra o atulhamento de saberes. Einstein e Rajagopalan estão presos ao
etnocentrismo, na medida em que ao criticar o amontoado de saber, designam os
pesquisadores como substância essencial e
pérolas, respectivamente. A
aporia se manifesta, pois a crítica precisa do fetiche para combatê-lo:
pesquisador e derramador de saber sofrem ação de ‘fetiche’, pois são representados
no processo designativo como ídolo venerado – pérola e substância essencial. Sem dúvida, designações que
ratificam a posição etnocêntrica do cientista, mas que precisam (ou não) serem
utilizadas na tentativa de rompê-la. As designações – pérola e substância essencial
- tentam deslocar o centro do saber pelo processo de transposição (renversement)[2]
(Derrida, 1999), mas não conseguem desconstruir a oposição binária (Derrida,
1999), já que não basta apenas inverter a dissimetria, porquanto se continua
nas oposições binárias: pérolas/porcos e ciência/social. Parece que as categorias – pérolas/porcos e
ciência/social – habitam a dimensão da discernibilidade, ou seja, possibilidade
de decidir entre o falso e o verdadeiro, entre o pior e o melhor, quando talvez
a questão entre Olimpo – pesquisadores -
e Hades – leigos e alunos – seja uma questão do “indecidível” (Derrida,
1999), em que são inscritas marcas - as categorias mencionadas - sem posições
decidíveis e sem independência umas das outras.
3. Pensamento etnocêntrico e resiliência
Para clarificar o objetivo dessa escritura, resolvemos adentrar no mundo da ciência e no mundo do social, com ilustrações do universo da inteligibilidade conceitual e do sensível da vida.
O atulhamento pode ser uma forma de ‘juntar’ o que é desestruturado, fragmentado, difícil de caber em um espaço pré-concebido e limitado. Como espaço desestruturado começa a brigar com a idéia de estruturalismo em que a língua é validada como sistema auto-suficiente, enquanto a de entulho indica um número incontável de dados sem catalogação e função. Para relacionar o espaço estruturado da língua ao espaço do monte de saber, utilizamo-nos da Física como âncora argumentativa. Para Isaac Newton, o espaço é “um espaço eternamente em repouso, sendo apenas um palco no qual se movem objetos” (Bartusiak, 2005:61), ao qual fazemos relação com o sistema da língua: um jogo de xadrez, provido de dados com valor e função que se movimentam no tabuleiro; nesse caso entendemos o espaço com um contorno pré-concebido no qual são colocados os dados. Para Einstein, o espaço está para “a quantidade de matéria que há no universo (que) molda toda a sua curvatura. E o próprio espaço-tempo pode se expandir ou se contrair” (Bertusiak, 2005: 61). Na visão einsteiniana, a matéria estaria para os dados lingüísticos e de saberes, o universo seria a estrutura da língua e o monte de saber e a curvatura, o espaço desenhado de acordo com a estrutura de dados e o monte de saber. O espaço de saberes e de dados lingüísticos é espaço ‘aberto’, ou seja, são os dados que dão contorno e linhas fronteiriças ao espaço, porquanto assume a possibilidade de resiliência, o ‘vazio’ que se permite a impactos de recebimento ou de evasão dos dados, que dependendo de seus movimentos ora se expandem , ora se contraem. O que se quer conquistar em termos argumentativos é que tanto uma postura estruturalista quanto uma ‘anti-estruturalista’ (a nomeação que damos ao atulhamento e ao monte) podem estar em posição etnocêntrica: o estruturalismo por servir a um espaço limitado, gerador de centros autônomos e auto-suficientes, confortável ao pesquisador dominador do saber; e o anti-estruturalismo, que, pela fragmentação e dispersão de dados, constrói também centros de fragmentos - montes com curvaturas próprias de resiliência -, que não deixam de colocar o pesquisador em torno de seu monte de saber. Todos são centros, ou (1) construídos pela necessidade de um centramento teórico (valores e funções determinadas, se não pré-determinadas); ou (2) necessidade e atordoamento pragmáticos de acumular teorias e saberes. No centro de um sistema estruturado não se jogam dados extras; em centro composto de fragmentos se joga tudo que se pode aparar, em qualquer momento em que haja chance e intenção para tal - e haja atulhamento no monte que o pesquisador constrói. No espaço estruturado, o espaço comanda os dados; e, no espaço ‘resiliente’, os dados comandam o espaço. Ambos os espaços são governados, sim, só que por direções de forças diferentes, e ratificando pela Física, o espaço ‘em repouso’ (Newton) comanda suas fronteiras e o espaço ‘em curvatura’ (Einstein) se contorce sob e com seus dados.
Para ilustrar a resiliência no espaço, utilizamo-nos de uma experiência nas artes da dança. Trata-se de um espetáculo de dança moderna, a que assisti no Teatro Alfa, em São Paulo, em setembro de 2005. Na dinâmica estrutural da dança não havia um centro com regras de valores e de função, ou seja, nem um bailarino e nem um agrupamento de bailarinos indicavam significados simétricos em torno de um tema, todos dançavam diferentemente deslizando diversamente no palco. Busquei no título da dança, uma orientação centralizadora para o amontoamento de dados (bailarinos e seus movimentos): “Entre Vidros”, título que, no entanto, não me garantia um centro unificador. Comecei a perceber que não conseguia com meus dois olhos acompanhar ‘todos’ os passos e malabarismos de ‘todos’ os bailarinos no sistema da peça; eles se perdiam no espaço-palco. O palco, um espaço fechado por princípio, oferecia resiliência, que a cada minuto era acionada pelos bailarinos, fazendo dos movimentos significados fragmentados: meus olhos ora captavam os movimentos dos corpos que indicavam o sentido de desespero da prisão na caixa de vidro, ora se libertavam para fora do vidro, voltando sim e não para dentro do vidro; vidro um limite sem concretude, recurso visual de um sistema que se forma no translúcido. O vidro poderia indicar as fronteiras da estrutura significativa do balé, mas a própria natureza da transparência do vidro ratificava a “metafísica da presença” dos significados. O palco não arrumava o sistema, eram os dados de sentido que se impunham ao espaço; mas, querendo ou não, o espaço era o palco, o centro em repouso que estava recebendo outras curvaturas devido o volume de dados que acolhia. O espaço estruturante acatava dados desestruturantes que iam compondo espaços em curvatura, mas mesmo assim a força etnocêntrica do espectador e a logocêntrica do discurso do balé juntavam as fragmentações no espaço-monte do palco.
4. Indagações
Não quero desdizer nem Einstein nem Rajagopalan, muito pelo contrário, só ouso problematizar suas vozes, pois penso que a questão do amontoado de saberes não é apenas escolha ou postura que toma o pesquisador, mas também o amontoado contextual e pragmático que o cerca, onde não há vacina científica que elimine o amontoado.
E estando o sujeito pesquisador situado, lembro-me de Stuart Hall (apud Resende: 2005: 257) que “diz estar seguro de que existe uma imensa e definitiva diferença entre compreender o sentido político do trabalho intelectual e substituir o trabalho intelectual por política”. Fico com o sentido político do trabalho intelectual que pode ser conduzido (preferencialmente sem atulhamento) pela parresía em que se processa, ou seja, uma “atividade verbal [uma prática social] na qual um falante [aqui, o pesquisador/professor] exprime sua relação pessoal com a verdade e arrisca sua vida, pois considera que o dizer verdadeiro é um dever em vista de melhorar ou ajudar a vida dos outros” (apud Gros, 2004: 61). E responderia que, nesse amontoado de saberes que habitam o amontoado social, a ética seria o caminho seletor do ‘atulhamento’ e do despejo do saber, para que a “ciência possa ter o direito de existir”.
Referências Bibliográficas
BARTHES, Roland. Novos ensaios críticos – o grau zero da escritura. São Paulo: Cultrix , 1974.
BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, s/d.
BARTUSIAK, Márcia. Além do big bang. O universo mutante de Einstein. In: National Geographic-Brasil. São Paulo: Abril, pp.56-65, maio de 2005.
DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo, Perspectiva, 1999.
GROS, Frédéric. Fouccault – a coragem da verdade. São Paulo: Parábola, 2004.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, DP&A, 2000.
RAJAGOPALAN, Kanavillil. Por uma lingüística crítica – linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo, Parábola, 2003.
RESENDE, Beatriz. Os estudos culturais e a política dos saberes. In: GUINSBURG, J. e BARBOSA, Ana Mãe (orgs.) O Pós-modernismo. São Paulo: Perspectiva, 2005.
SENNET, Richard. A corrosão do caráter. Rio de Janeiro: Record, 2001.
[1] Derrida aplica a idéia de “metafísica da presença” àá escritura: nenhum texto pode aspirar a um sentido estável, o sentido está sempre em decentramento, pois o rompimento entre significante significado é constante, ou seja, pensa-se que há uma essência do significado, quando apenas temos a ilusão de sua presença.
[2] Segundo Derrida, renversement é apontar o que foi recalcado e valorizá-lo; a leitura desconstrutora propõe-se como leitura descentrada e, por isso mesmo, não se reduz ao movimento de renversement, pois se estaria apenas deslocando do centro por inversão, quando a proposição radical é a de anulação do centro como lugar fixo e imóvel.