PRODUÇÃO ORAL E INTERLÍNGUA: VARIABILIDADE NA PRODUÇÃO DAS CONSOANTES NASAIS NO FINAL DE SÍLABA POR APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS

 

Denise Cristina Kluge - UFSC

 

ABSTRACT: This cross-sectional study aims to investigate pre-intermediate Brazilian EFL learners’ production of the nasals /m/ and /n/ in syllable-final position. The participants were regularly attending the Extracurricular Language Program of the Universidade Federal de Santa Catarina. The general objectives of the present study are: to investigate the variability of the production of the English coda nasals, to investigate whether lack of fully realized coda nasals in Brazilian Portuguese rhymes influences the production of English nasal consonants in syllable-final position and to investigate the strategies used by the participants when they did not accurately produced the English coda nasals. The present study also aims to investigate which phonological contexts may favor/disfavor the interlanguage production of English coda nasals, considering stress of the target syllable as a variable for the disyllabic words, and previous vowel and following context (consonant, vowel or silence) as variables for the monosyllabic words. The production data was collected by means of a Sentence Reading Test containing monosyllabic and disyllabic words with either /m/ or /n/ in syllable-final position. The results of this study may be useful as an indication of Brazilians’ tendencies towards their difficulties regarding production of the nasal consonants.

 

RESUMO: Este estudo transversal investiga a produção das consoantes nasais /m/ e /n/ em posição se silaba final (coda) em palavras inglesas de grupo de alunos brasileiros aprendendo inglês em nível pré-intermediário – do Curso Extracurricular de Inglês da Universidade Federal de Santa Catarina. Os objetivos gerais do presente estudo são: investigar a variabilidade da produção das consoantes nasais na coda, verificar se há influência do processo de nasalização da vogal anterior e apagamento da consoante nasal em posição final na sílaba no Português Brasileiro na produção das consoantes nasais em palavras inglesas e verificar as estratégias usadas pelos participantes quando não produziram corretamente a consoante nasal na coda. O presente trabalho ainda procura investigar que contextos fonológicos podem influenciar a produção na interlíngua das nasais na coda em palavras da língua inglesa, considerando acentuação vocabular nas palavras dissílabas, e vogal anterior e contexto fonológico seguinte à nasal alvo (consoante, vogal ou silêncio) nas monossílabas. Os dados foram obtidos através da leitura de frases contendo palavras monossilábicas e dissílabas com as nasais /m/ e /n/ na coda inseridas nos contextos fonológicos citado anteriormente. Os resultados obtidos neste estudo podem sugerir, aos professores de língua inglesa, formas de abordar e ensinar as consoantes nasais da língua inglesa para alunos brasileiros.

 

 

INTRODUÇÃO

Estudos sobre Aquisição de Segunda Língua (ASL) têm sido comparados com a aquisição da língua materna (L1). Os estudos indicam que a interfonologia, ou seja, fonologia da interlíngua, pode ser influenciada por vários fatores como idade (MAJOR, 1994), estilo (MAJOR, 1994), fatores de desenvolvimento (FLEGE E DAVIDIAN, 1984) e interferência da L1. A interferência da língua materna é responsável por muitos erros na produção da segunda língua (L2), entretanto esta interferência não pode prever ou explicar outros erros que não sejam devidos à L1 ou L2. Outros estudos envolvem a influência da marcação (ECKMAN, 1977), contexto fonológico (CARLISLE, 1994) e considerações perceptuais (FLEGE, 1995), por exemplo. Os estudos citados acima e muitos outros têm auxiliado os pesquisadores que trabalham na área de fonética e fonologia da L2 e de ASL a identificarem a origem dos erros da aquisição da segunda língua. Entretanto, ainda há muito a ser observado e descoberto nesta área.

            O objetivo geral deste estudo é investigar a produção das consoantes nasais /m/ e /n/ na coda por alunos brasileiros de inglês. Primeiramente, este artigo apresenta uma breve revisão da literatura relevante para este estudo, considerando o processo de nasalização do português brasileiro (PB) e a nasalização na interlíngua de aprendizes brasileiros de inglês. Em seguida, este artigo descreve o estudo propriamente dito: o método utilizado para a coleta de dados, os resultados e a discussão sobre os mesmos, e as possíveis conclusões, além de implicações pedagógicas, limitações e sugestões para pesquisas futuras.

 

NASALIZAÇÃO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

            O processo de nasalização, especialmente considerando as consoante nasais em posição final de sílaba, é para Mateus e d’Andrade (2000), “um dos aspectos mais desafiadores do português” devido à sua controvérsia (p. 130).  De acordo com Cristófaro Silva (1999), existem sete vogais orais [i, e, E, a, , o, u] e cinco vogais nasais [iá, eá, aá, oá, uá] em posição acentuada, no português brasileiro. O problema está na análise destas vogais nasais: considerá-las fonemas em oposição às vogais orais, ou considerá-las uma combinação de uma vogal oral e do arquifonema /N/. De acordo com o ponto de vista de alguns autores (HEAD, 1964; Pontes, 1972; BACK, 1973; todos citados em CRISTÓFARO SILVA, 1999, p. 165), as cinco vogais nasais são adicionadas às sete vogais orais, desta forma, o inventário vocálico do PB seria formado por doze vogais. Por outro lado, Câmara Jr. (1971) afirma que a vogal nasal do PB consiste de uma combinação de uma vogal oral e do arquifonema /N/, que nasaliza a vogal anterior e é reduzido a um elemento nasal como em lindo [:lî<dU]. De acordo com este ponto de vista, as vogais nasais são representadas como /iN, eN, aN, oN, uN/. Para Cristófaro Silva (1999, p. 92), a diferença entre um segmento nasal [n] e um elemento nasal [<] é o tempo gasto na articulação. O tempo gasto na articulação do segmento nasal é mais longo do que o do elemento nasal. Mateus e d’Andrade (2000, p. 21) afirmam que no nível subjacente “não existem vogais nasais no português”, os autores as tratam como “seqüências de vogal oral mais um segmento nasal”. Para os autores, “existe evidência suficiente para sustentar a idéia de que, em nível subjacente, as vogais nasais do português recebem sua nasalidade de um segmento nasal que é apagado no nível fonético” (p.23).

De acordo com o que foi citado acima, pode-se perceber que a nasalização do português brasileiro tem gerado pontos de vista e teorias diferentes. Para o presente estudo, será considerado que, foneticamente, as consoantes nasais em posição final de sílaba não são completamente realizadas, ou seja, pronunciadas, após uma vogal no PB (CRISTÓFARO SILVA, 1999; MATEUS E D’ANDRADE, 2000; CÂMARA JR., 1971).

 

NASALIZAÇÃO NA INTERLÍNGUA DE APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS

Um estudo conduzido por Monahan (2001) investigou a interlíngua de aprendizes brasileiros de inglês considerando o processo de assimilação regressiva da nasalização e apagamento da consoante nasal em posição final de sílaba. Cinco falantes nativos de português brasileiro participaram do estudo. Todos os participantes haviam morado nos Estados Unidos num período de três a quatro anos. Os dados foram coletados através de leitura de frases. Uma análise fonética e fonológica revelou que “os dados mostraram uma forte nasalização da vogal e que, na maioria dos casos, não havia evidência da consoante nasal na superfície” (p.23). Monahan ressalta que a vogal seguida da consoante nasal na coda de palavras inglesas, assimila regressivamente a sua nasalidade, da mesma forma que ocorre no PB. A diferença está no fato de que, em inglês, a consoante nasal posterior à vogal nasalizada é articulada, enquanto que em português brasileiro a consoante nasal é apagada. De acordo com o autor, os resultados mostram que falantes nativos de PB transferiram o processo de nasalização regressiva e apagamento da consoante nasal em posição final de sílaba na interlíngua do inglês.

Um estudo conduzido por Baptista e Silva Filho (1997) investigou a influência da marcação e contato de sílabas na produção de consoantes em posição final de sílaba do inglês, incluindo as nasais, por alunos brasileiros. Os autores basearam seu estudo na hipótese da marcação em termos de sonoridade relativa de Eckman e Iverson (1994), para investigar a produção de consoantes simples na coda. Baptista e Silva Filho compararam a produção de brasileiros das consoantes nasais e obstruentes da língua inglesa e os resultados corroboraram a hipótese baseada em Eckman e Iverson. Os resultados também mostraram que “as seqüências vogal+nasal geralmente eram pronunciadas como vogais nasais sem a consoante nasal final” (p.29) pelos participantes brasileiros, e que consoante nasal, em alguns casos, causou epêntese, ou seja, inserção da vogal “e” após a consoante nasal final, ao invés de apagamento.

 

O ESTUDO: OBJETIVOS

A fim de investigar a produção das consoantes nasais /m/ e /n/ em posição final de sílaba de aprendizes brasileiros de inglês, os objetivos deste estudo são: (1) investigar a variabilidade da produção das consoantes nasais na coda; (2) investigar se há influência do processo de nasalização da vogal anterior e apagamento da consoante nasal em posição final de sílaba, e verificar as estratégias usadas pelos participantes quando não produziram corretamente a consoante nasal; e (3) investigar que contextos fonológicos podem favorecer/desfavorecer a produção na interlíngua das consoantes nasais inglesas na coda, considerando o acento da sílaba como variável para as palavras dissílabas, e vogal anterior e contexto fonológico seguinte (consoante, vogal e silêncio) como variáveis para as monossílabas.

 

MÉTODO

Os participantes pesquisados foram 20 alunos (13 mulheres e 7 homens) entre 16 e 44 anos de idade. Todos os participantes foram considerados alunos pré-intermediários cursando regularmente os níveis 3 ou 4 do Curso Extracurricular de Inglês da Universidade Federal de Santa Catarina. De acordo com um questionário, todos os participantes residiam em Florianópolis, Santa Catarina, no período da coleta de dados, e nenhum dos participantes esteve em algum país de língua inglesa.

            O instrumento usado para coletar dados da produção foi um teste de leitura com 144 frases contendo palavras monossílabas e dissílabas com /m/ ou /n/ em posição final de sílaba. Setenta e duas (72) frases continham palavras monossílabas que apresentavam as seguintes vogais antes das consoantes nasais: /I, Q, Ã, i/. A fim de evitar a influência da ortografia, nenhuma das consoantes nasais em posição final de sílaba foi seguida de “e”. A escolha das vogais anteriores está relacionada com este fato, portanto as vogais selecionadas seguidas das nasais /m/ e /n/ na coda geralmente não são escritas com o final “e”. Havia 18 frases para cada uma das vogais: 9 para cada uma das consoantes. Com relação ao contexto seguinte das monossílabas, 24 das consoantes nasais na coda eram seguidas por uma vogal, 24 por uma consoante e 24 por silêncio, ou seja, em final de frase. Para exemplificar, a frase “They told Tim a lie.” foi analisada como sendo uma palavra monossílaba com consoante nasal /m/ na coda, vogal anterior /I/ e vogal como contexto fonológico seguinte. As outras 72 frases continham palavras dissílabas que seguiam quatro padrões diferentes de acento silábico e posição da consoante nasal-alvo na palavra: (1) consoante nasal acentuada na primeira sílaba (ex. number /:nÃmb«r/); (2) consoante nasal acentuada na segunda sílaba (ex. begin /bI:gIn/); (3) consoante nasal não acentuada na primeira sílaba (ex. invite /In:vaIt/); (4) consoante nasal não acentuada na segunda sílaba (ex. problem /:prbl«m/), sendo 18 frases - nove para cada uma das consoantes nasais – para cada um dos quatro padrões. Para exemplificar como uma frase era analisada, a frase “There is a problem there, apresentava uma palavra dissílaba com consoante nasal /m/ não acentuada na segunda sílaba.

Cada participante recebeu um conjunto de material contendo instruções escritas em português e as frases para leitura, sendo que cada um recebeu uma ordem de frases aleatória diferente. A gravação ocorreu no laboratório de língua da Universidade Federal de Santa Catarina. Foram transcritas somente partes das frases consideradas relevantes, ou seja, partes contendo as palavras com as consoantes nasais alvo e respectivas variáveis. A transcrição foi feita  por duas vezes pela pesquisadora e por uma segunda pessoa com experiência em transcrição fonética. As transcrições foram comparadas e somente 7 itens  foram excluídos da análise, pois não houve concordância nas transcrições. Algumas frases que não foram lidas pelos participantes ou que eram ininteligíveis também foram excluídas da análise, num total de 7 frases Desta forma, das 2.880 frases lidas, 2.866 foram analisadas. Para a análise estatística, o resultado foi considerado significativo com p<0.05.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O primeiro objetivo deste estudo é investigar a variabilidade da produção das consoantes nasais na coda. A tabela 1 revela os resultados individuais do teste de leitura de frases, considerando o numero total de produções e o número de produções corretas, ou seja, produções em que a consoante nasal em posição final de sílaba foi completamente pronunciada.

Tabela1. Resultados individuais do teste de produção.

Participante

No. Respostas

No. Respostas Corretas

% Respostas Corretas

1

142

92

64,79

2

144

105

72,92

3

138

80

57,97

4

143

88

61,54

5

142

72

50,70

6

143

95

66,43

7

144

64

44,44

8

144

87

60,42

9

143

94

65,73

10

144

91

63,19

11

144

104

72,22

12

144

74

51,39

13

144

104

72,22

14

144

99

68,75

15

144

76

52,78

16

144

77

53,47

17

144

90

62,50

18

144

95

65,97

19

143

75

52,45

20

144

96

66,67

Total

2866

1758

61,34

 

            A tabela 1 mostra uma grande variabilidade considerando os resultados individuais dos participantes, variando da porcentagem mínima de 44,44% de uma produção correta das consoantes nasais na coda à porcentagem máxima de 72,92%, com uma média de 61,34% de produção correta das consoantes nasais na coda. O participante 3 produziu o maior número de itens excluídos para a análise (6 itens). Somente o participante7 produziu menos da metade dos itens corretamente (44,44%), ou seja, a pronúncia completa das consoantes nasais em posição final de sílaba. A maioria dos participantes (dezesseis) produziu corretamente as consoantes nasais alvo entre 50 e 60%, e somente três participantes (2, 11 e 13) obtiveram mais de 70% de respostas corretas. Os resultados indicam que a produção correta das nasais /m/ e /n/ em posição final de sílaba causou para todos os participantes um certo grau de dificuldade.

            O segundo objetivo é investigar se há influência do processo de nasalização da vogal anterior e apagamento da consoante nasal em posição final de sílaba e verificar as estratégias usadas pelos participantes quando não produziram corretamente as consoantes nasais /m/ e /n/ na coda. A tabela 2 mostra o total de produções corretas para cada uma das nasais na coda nas palavras monossílabas e dissílabas.

 Tabela 2. A produção de /m/ e /n/ em posição final de sílaba.

Nasal

No. Produção

No. Produção Correta

% Produção Correta

/m/

1434

709

49,44

/n/

1432

1049

73,25

Total

2866

1758

61,34

 

Os resultados mostram que em 38,66% dos dados analisados as consoantes nasais não foram corretamente produzidas, ou seja, completamente pronunciadas em posição final de sílaba. A tabela 2 também mostra que no presente estudo, a nasal /n/ foi mais corretamente produzida do que a nasal /m/ na coda, resultando numa diferença estatisticamente significativa (X2 = 171.31, df =1, p < .0001). Este resultado indica que a produção correta da consoante nasal /m/ nas palavras monossílabas e dissílabas é mais difícil para os alunos brasileiros do que a produção correta da consoante nasal /n/ na coda. As palavras do português brasileiro que terminam com consoante nasais quase sempre são escritas com o grafema ‘m’ (ex. fim, bom, correm). Poucas palavras são escritas com o grafema ‘n’ em português brasileiro (ex. hífen, pólen). Portanto, os resultados podem sugerir que quando as palavras inglesas terminavam em ‘m’, provavelmente foi feita uma associação com a L1 dos participantes, causando o erro da nasalização da vogal e apagamento da consoante nasal. Por outro lado, as palavras terminadas em ‘n’ podem ter causado menos associação com a L1 dos participantes.

            A tabela 3 mostra as estratégias usadas pelos participantes quando não produziram corretamente as consoantes nasais inglesas na coda (1108 de 2866 casos).

Tabela 3. Estratégias usadas pelos participantes quando a consoante nasal na coda foi pronunciada incorretamente.

Estratégia

No. Produção

% Produção

Apagamento da consoante nasal e nasalização da vogal

1009

91,96

Apagamento da consoante nasal sem a nasalização da vogal

97

8,75

Epênteses

2

0,18

Total de produções incorretas

1108

100

 

            Os resultados mostram que na maioria das produções (91,06%), os participantes nasalizaram a vogal e não pronunciaram a consoante nasal, como uma estratégia para produzir as consoantes nasais na coda das palavras inglesas. Este resultado corrobora os resultados do estudo de Baptista e Silva Filho (1997), que mostraram que as seqüências formadas por vogal+nasal geralmente eram pronunciadas como vogais nasais sem a presença das consoantes finais (p.29), e os resultados do estudo de Monaham (2001), que revelou que os aprendizes brasileiros de inglês geralmente transferem o processo de assimilação regressiva da nasalização e apagamento da consoante nasal em posição final de sílaba na produção da interlíngua das nasais inglesas na coda.

             O terceiro objetivo é investigar que contextos fonológicos podem favorecer/desfavorecer a produção na interlíngua das consoantes nasais inglesas na coda, considerando vogal anterior e contexto fonológico seguinte (consoante, vogal e silêncio) como variáveis para as monossílabas, e o acento da sílaba como variável para as palavras dissílabas. Primeiramente serão analisados os resultados das palavras monossílabas, e após os resultados das palavras dissílabas. A tabela 4 mostra os resultados da produção das nasais na coda nas palavras monossílabas considerando as vogais anteriores /I, Q, Ã, i/ como variáveis de contexto fonológico.

Tabela 4. A influência da vogal anterior na produção da consoante nasal em palavras monossílabas.

Vogal Anterior

No. Produção

No. Produção Correta

% Produção Correta

/I/

359

200

55,71

/Q/

356

232

65,17

/Ã/

360

192

53,33

/i/

360

227

63,06

Total

1435

851

59,30

 

Os resultados mostram que os participantes tiveram mais dificuldade em produzir corretamente a consoante nasal depois da vogal /Ã/, ou seja, os resultados indicam que esta foi a vogal que mais desfavoreceu a produção correta das consoantes nasais no contexto estudado. Diferenças estatisticamente significativas foram detectadas comparando os resultados das vogais anteriores /Ã/ - /Q/ (X2 = 10.38, df = 1, p = .001) e das vogais /Ã/ - /i/ (X2 = 6.99, df = 1, p = .008). Entretanto, a comparação entre os resultados das vogais anteriores /Ã/ e /I/ resultaram em uma diferença estatisticamente não significativa (X2 = .40,  df = 1, p = .52). Este resultado pode estar relacionado com o fato de que esta vogal /Ã/ não existe no português brasileiro. A análise também revela que esta vogal foi produzida como a vogal /u/ em 88 dos 360 casos. Este resultado pode indicar uma interferência da forma escrita da vogal ‘u’ em uma palavra como sum. A análise também revela que em 63,64% dos casos (56 casos) em que a vogal anterior /Ã/ foi produzida como /u/, esta vogal foi nasalizada e a consoante nasal apagada, sugerindo, assim, uma relação entre a pronúncia incorreta da vogal e o processo de nasalização. Entretanto, analisar profundamente a natureza desta relação de interferência esta além da abrangência do presente estudo.

            Em relação ao contexto fonológico seguinte, a tabela 5 mostra os resultados da influência dos contextos seguintes considerados neste estudo na produção das nasais na coda.

Tabela 5. A influência do contexto fonológico seguinte na produção das nasais na coda nas palavras monossílabas.

Contexto Seguinte

No. Produções

No. Produções Corretas

% Produções Corretas

Consoante

477

299

62,68

Vogal

480

311

64,79

Silêncio

478

241

50,42

Total

1435

851

59,30

 

O contexto fonológico seguinte que mais desfavoreceu a produção correta das consoantes /m/ e /n/ na coda foi o silêncio. Os participantes não produziram corretamente as consoantes nasais em palavras inglesas em 237 casos seguidos de silêncio, ou seja, quando não havia nenhum contexto após a nasal-alvo. Diferenças estatisticamente significativas foram detectadas comparando os resultados de silêncio e consoante como contexto seguinte (X2 = 14.61, df = 1, p = .0001). Diferenças estatisticamente significativas também foram detectadas comparando os resultados de silêncio e vogal como contexto fonológico seguinte (X2 = 20.26, df = 1, p = .0001). A única diferença estaticamente não significativa resultou da comparação dos resultados de consoante e vogal como contexto seguinte (X2 = 46, df = 1, p = .49).

Considerando contexto fonológico na produção das palavras dissílabas, a tabela 6 o resultado das produções corretas das nasais na coda, de acordo com o acento silábico e posição da nasal-alvo na sílaba. Conforme foi mencionado anteriormente, as palavras inglesas contendo /m/ e /n/ na coda seguiam quatro diferente padrões.

Tabela 6. A influência da acentuação silábica e posição da consoante nasal na coda na produção das dissílabas.

Padrão

No. Produções

No. Correto de Produções

% Correto de Produções

Nasal acentuada na primeira sílaba

359

253

70,47

Nasal acentuada na segunda sílaba

356

219

61,52

Nasal não acentuada na primeira sílaba

359

207

57,66

Nasal não acentuada na segunda sílaba

357

228

63,87

Total

1431

907

63,45

 

            A tabela 6 mostra que os participantes tiveram desempenho melhor, ou seja, produziram completamente a consoante nasal na coda, quando a nasal-alvo era acentuada na primeira sílaba da palavra (70,47%). Os resultados também mostram que os participantes tiveram mais dificuldade em produzir corretamente a consoante nasal quando esta não estava acentuada na primeira sílaba da palavra. Os participantes não produziram corretamente as consoantes nasais em 42,34% dos casos. A comparação entre estes dois padrões (nasal acentuada na primeira sílaba e nasal não acentuada na primeira sílaba) resultou numa diferença estatisticamente significativa (X2 = 12.27, df = 1, p = .0004). Os resultados revelam que os participantes apresentaram quase a mesma dificuldade em produzir a consoante nasal quando esta estava posicionada na segunda sílaba, tanto em sílaba acentuada (61,52%) ou não acentuada (63,45%), resultando em uma diferença estatisticamente não significativa (X2 =.42, df = 1, p = .51). A comparação dos resultados das consoantes nasais acentuadas tanto na primeira ou na segunda sílaba foi estatisticamente significativa (X2 = 6.39, df = 1, p = .01). A comparação dos resultados considerando posição da consoante nasal tanto em sílabas acentuadas como em sílabas não acentuadas gerou os seguintes resultados estatisticamente não significantes: nasal acentuada na primeira sílaba x nasal não acentuada na segunda sílaba (X2 =.3.54, df = 1, p = .059), nasal acentuada na segunda sílaba x nasal não acentuada na primeira sílaba (X2 =.95, df = 1, p = .32), e consoante nasal não acentuada na primeira sílaba x nasal não acentuada na segunda sílaba (X2 =2.64, df = 1, p = .10). Os resultados indicam que, no presente estudo, a produção das consoantes nasais na coda das palavras dissílabas demonstra ser inconsistente considerando acentuação da sílaba alvo pelos alunos brasileiros de inglês.

 

CONCLUSÃO

            Considerando a produção dos alunos brasileiros de inglês deste estudo, os resultados mostraram variabilidade na produção correta das consoantes nasais. Os resultados também indicaram a previsão de que exista influência do processo de nasalização do português brasileiro, ou seja, nasalização da vogal anterior e apagamento da consoante nasal em posição final de sílaba. Na maioria dos casos, os alunos, quando não produziram corretamente a consoante nasal em posição final de sílaba, nasalizaram a vogal anterior e apagaram a consoante. Quanto ao contexto fonológico seguinte nas monossílabas, os resultados indicam que a vogal anterior /Ã/ foi o contexto no qual os participantes apresentaram mais dificuldade em produzir as consoantes nasais na coda, e /Q/ foi a vogal anterior que mais favoreceu a produção correta da consoante nasal alvo. O contexto fonológico seguinte que mais desfavoreceu a produção correta da consoante nasal nas monossílabas foi silêncio, seguido dos contextos consoante e vogal. Quanto ao contexto fonológico considerado nas palavras dissílabas, os resultados sugerem que a produção das consoantes /m/ e /n/ foi inconsistente considerando acentuação e posição da consoante nasal. Os resultados desta pesquisa podem indicar as tendências dos aprendizes brasileiros de inglês em relação as suas dificuldades na produção das consoantes nasais /m/ e /n/ nas coda, o que pode contribuir para melhorar o ensino da pronúncia e para a construção de matérias didáticos que considerem as dificuldades específicas de falantes de português brasileiro aprendendo inglês.

            Durante o processo da análise dos dados, foram identificadas algumas limitações deste estudo e sugestões para novas pesquisas. O desempenho dos alunos poderia ser investigado através de vários níveis de proficiência de inglês, para investigar se a produção correta das nasais na coda melhora á medida em que os alunos se tornam mais proficientes. Pesquisas poderiam investigar, mais detalhadamente: os contextos fonológicos considerando os segmentos anteriores e seguintes; quais vogais, considerando todo o inventário da língua inglesa, são mais favoráveis/desfavoráveis para a produção das nasais na coda; e quais consoantes seguintes, considerando ponto de articulação mais favorecem/desfavorecem a produção das nasais em posição final de silaba.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAPTISTA, B. O. & SILVA FILHO. The influence of markedness and syllable contact

on the production of English final consonants by EFL learners. In: JAMES.& LEATHER (Eds.).  New Sounds 97: Proceedings of the Third International Symposium on the Acquisition of Second Language Speech, Klagenfurt, Austria, 1997.

CÂMARA JR, J.M. Problemas da lingüística descritiva. Petrópolis: Editora Vozes, 1971.

CARLISLE, R. S. Markedness and environment as internal constrains on the

variability of interlanguage phonology. In: YAVAS, M. (Ed.). First and second language phonology. San Diego: Singular Publishing Group, Inc., 1994.

CRISTÓFARO SILVA, T. Fonética e fonologia do português: Roteiro de estudos e guia

de exercícios. São Paulo: Contexto, 1998.

ECKMAN, F. R.  Markedness and the contrastive analysis hypothesis. Language

Learning 27, 1977.

ECKMAN, F. R., & IVERSON, G. K. Pronunciation difficulties in ESL: Coda

consonants in English interlanguage. In: YAVAS, M. (Ed.), First and second language phonology. San Diego: Singular Publishing Group, Inc., 1994.

FLEGE, J. E. Second language speech learning: theory, findings, and problems. In: STRANGE, W. (Ed.), Speech perception and linguistic experience: Issues in cross-language research. Timonium, MD: York Press, 1995.

FLEGE, J. E., & DAVIDIAN, R. D. Transfer and developmental processes in adult

foreign language speech production. Applied Psycholinguistics, 5, 1984.

GASS, S. & SELINKER, L. Second language acquisition: An introductory course.  

Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum, 2001.

MAJOR, R. C. Current trends in interlanguage phonology. In: Yavas, M. (Ed.), First

and second language phonology. San Diego: Singular Publishing Group, 1994.

MATEUS, M. H. M., & D´ANDRADE, E. The phonology of Portuguese. Oxford: Oxford,

University Press, 2000.

MONAHAN, P. J. Evidence of transference and emergence in the interlanguage

(DOC 444-0701). Rutgerss Center of Cognitive Science, 2001. Disponível em: http://roa.rutgers.edu . Acesso em 23 jul. 2003.