PRÁTICAS DE LINGUAGEM EM LÍNGUA FALADA E O

PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM[1]

 

 

Ana Maria de Mattos Guimarães

UNISINOS[2]

 

            Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Aracy a oportunidade de estar aqui refletindo com vocês sobre questões de oralidade e ensino, questões essas normalmente jogadas para baixo do tapete de sala de aula (se é que sala de aula tem tapete...).

            Em seguida, quero esclarecer que alterei o título da minha participação como uma forma de demonstrar, desde o início, que não tomarei a análise do discurso como base teórica.        Esta apresentação vai conjugar pontos de minha trajetória acadêmica, como lingüista aplicada e como estudiosa de questões relacionadas ao desenvolvimento da linguagem das crianças em fase de letramento, por isso tomará como base a construção do mundo do NARRAR por essas crianças, o que sempre foi minha preocupação de pesquisa. Procurarei mostrar o que se passa entre a aquisição do NARRAR implicado ao NARRAR autônomo e como a escola trata (ou não trata) a questão do NARRAR em sala de aula, para o que estarei me valendo de bases teóricas do interacionismo sociodiscursivo, tal como proposto por Bronckart (1999,2005).

O estudo das atividades de linguagem é feito através dos textos (orais e escritos) que as materializam. Tais textos são considerados unidades comunicativas globais (BRONCKART, 2004, p. 115) e se agrupam em gêneros, “que são socialmente indexados, quer dizer, que são reconhecidos como pertinentes e/ou adaptados para uma situação comunicativa dada.” (idem)  A noção de  gênero, cuja diversidade é potencialmente ilimitada, é tomada de Bakhtin (2003, p. 262-3), para quem “o emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse  ou daquele campo de atividade humana. (...) Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros de discurso.” Bakhtin levanta também a perspectiva da existência de gêneros primários e gêneros secundários. Os primeiros “se constituíram em circunstãncias de uma comunicação verbal espontânea” (id, p. 281), enquanto os segundos “aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural, mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita”. Em princípio, os gêneros primários se diriam controlados pela situação, envolvendo troca, interação. Se pensarmos em termos de aquisição e desenvolvimento de linguagem, estão fortemente ligados à experiência pessoal da criança e sua apropriação se faz diretamente a partir das situações de comunicação vivenciadas. Os gêneros secundários, ao contrário, não estão mais organicamente vinculados a um contexto preciso imediato, saem do universo da esfera pessoal para outro com motivações mais complexas, necessitando um contexto linguisticamente criado. Em termos de desenvolvimento de linguagem, o surgimento do sistema de gêneros secundários pode ser pensada como tendo um suporte, um andaime nos gêneros primários. O novo sistema não anula nem substitui o anterior, mas, apóia-se nele para transformá-lo profundamente. Como Vygotski vê a relação entre escrita e reorganização do sistema anterior da fala, pode-se também pensar que os gêneros primários são os  “os instrumentos de criação dos gêneros secundários (Schneuwly e Dolz, 2004, p.35). Voltando à Bronckart, ele trata de duas dimensões estruturantes de um texto: implicado/autônomo, sendo que se pode pensar que a dimensão implicado na própria situação de produção estaria presente nos gêneros primários. Os gêneros secundários, por sua vez, obrigam a reconstrução da relação com a situação, que pode ser mais ou menos ficcional. Retornando ao mundo do NARRAR apresentado inicialmente, estaremos diante de dois mundos discursivos: o do NARRAR implicado e o do NARRAR autônomo. Essa distinção relaciona-se ao ato de produção, levando-se sempre em consideração que as operações de construção das coordenadas gerais que organizam o conteúdo temático do mundo do NARRAR são disjuntas das coordenadas do mundo ordinário da ação de linguagem, uma vez que as representações mobilizadas referem-se a fatos acontecidos em momento diverso da ação de linguagem, ancorado em uma origem espaço-temporal. Ainda que, quando nos colocamos na ordem do NARRAR, o mundo discursivo seja situado em “outro lugar”, as operações de explicitação da relação com os parâmetros da ação de linguagem podem aparecer explícitas (relações entre agente-produtor; interlocutor eventual e sua situação no tempo-espaço) ou não. Quando essas relações aparecem explicitadas, o texto mobiliza parâmetros de ação de linguagem, com o uso, por exemplo, de referências dêiticas que remetem ao contexto de produção e estamos diante de um NARRAR implicado. Se, por outro lado, o texto mostra uma relação de autonomia com os parâmetros de ação de linguagem e sua interpretação não necessita de conhecimentos da situação de produção, podemos estar diante de um NARRAR autônomo.

Na procura de um modelo coerente de organização textual, Bronckart (1999) traça uma arquitetura dos textos concernentes a um gênero, mostrando a possibilidade de que um mesmo gênero seja constituído de diferentes tipos de discurso.  Os tipos de discurso passam a ser considerados como unidades lingüísticas, podendo entrar na formação de qualquer gênero. Para esse autor, constituem quatro formatos básicos, que devem ser vistos numa perspectiva aberta e com possibilidades de combinações: discurso interativo, discurso teórico, relato interativo e narração. Interessa-nos a distinção entre esses dois últimos tipos. O relato narrativo apresenta uma implicação com o ato de produção, enquanto a narração mostra autonomia com relação aos parâmetros de ação de linguagem. O relato é um tipo de discurso que se desenvolve em uma situação de interação que pode ser real (geralmente oral, como gênero primário) ou ficcional (como gênero escrito, portanto secundário, no caso de uma peça de teatro ou de segmentos de um romance). A narração, por sua vez, é um tipo de discurso geralmente escrito, que explora o subsistema dos tempos narrativos, como o pretérito perfeito e o imperfeito, constituindo-se sempre um gênero secundário.

Com esse referencial teórico presente, podemos passar à análise de atividades de linguagem oral.

 

            Exemplos do NARRAR implicado estão presentes muito cedo na vida das crianças, como nos jogos de contar entre pais e filhos, nos relatos dos quotidianos e podem ser considerados gêneros primários:

M. Você viu que você machucou aí? Machucou a canela ontem. Onde é que foi que você machucou isso?

D. Lá fora

M. Como é que foi?

D. É que eu fui... é que eu fui... ver meu pai...

A. Ã...

D. ... lá do outro lado...

M. Ã...

D. ... que tem a tornera, então, massuquei e caí

(D, 3;4.17, in Perrone,1992, p. 103)

    

Este relato interativo oral é, na verdade, uma construção conjunta entre mãe e filha. Como machucar constituiu o tópico da conversa, a criança altera a seqüência temporal dos fatos e fala: “massuquei e caí”, em que coloca a conseqüência antes de seu evento causador. Apresenta marcas de implicação com o contexto de produção, através de localizações espaciais que necessitam desse contexto para serem entendidas, como  lá fora”, e da presença de pronomes de primeira e segunda pessoas, que remetem diretamente aos protagonistas da interação verbal.

 

            Passemos agora à outra realidade: à realidade escolar, investigada por meu grupo de pesquisa atual. G é um menino de 10 anos, na 4ª série. Essa criança é um dos sujeitos do projeto “ Desenvolvimento de narrativas e construção social da escrita” que desenvolvo na UNISINOS, tendo acompanhado longitudinalmente, da 3ª até a 5ª série um grupo de uma escola municipal da periferia de uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre. Na transcrição a seguir, G responde a perguntas do bolsista-pesquisador. O contexto de produção deste texto assume condições bem diversas do relato da menina D, por tratar-se de uma situação mais formal, ocorrida na escola em que G estuda.

 

*MAR: Tu pode me contar uma história que aconteceu contigo? Ou que tu  ouviu, que tu leu...

*GUI: Ai, é que aconteceu comigo um negócio [ xxx ] de falar é que eu perdi uma tia,, daí ela morava junto comigo, daí era ele minha mãe minha vó e minha tia foram tudo atropelada por um cara bêbado, só que daí a minha mãe e a minha vó não morreram, só minha tia e se ela vivesse ela ia ficar paralítica numa cadeira de rodas

*MAR: Faz muito tempo?

*GUI: Acho que dois ano...

*MAR: Uns dois anos?

*GUI: Hum.. dois anos... daí temo colocando o cara na justiça...meu vô tá colocando...

*MAR: Ainda tão colocando?

*GUI: Um hum...

*MAR: Onde é que aconteceu?

*GUI: Ali na faixa..

*MAR: Aqui na faixa?

*GUI: É..elas tavam num canteiro e o cara tocou por cima assim né delas...

*GUI: e o meu tio também foi seqüestrado e o meu tio tava com a camionete do pai dele, o meu avô e seqüestraram ele três cara e não sabiam dirigir a camionete e mandaram ele dirigir com uma arma na cabeça assim daí ele abriu a porta e pulou do carro quando eles olharam pro lado ele pulou do carro, tocou por cima da polícia o carro e voou e depois deu no meio da árvore só que daí ele tava rolando no chão e ele quebrou a perna [  xxx   ] daí ele resolveu fazer uma cirurgia

G- 10 anos, 4ª série

 

            É possível perceber, através do conteúdo temático, que G faz dois relatos. O primeiro relato apresenta  marcas de implicação mais acentuadas (como presença de seqüências verbais vinculadas ao momento da interação, em “meu avô tá colocando na justiça”, de marcador espacial  dêitico, em  ali na faixa”, de pronomes e adjetivos de primeira e segunda pessoa). Este primeiro relato parece contaminado pela situação de interação da entrevista. O segundo relato sobre o seqüestro do tio, por outro lado, ao distanciar-se do diálogo com o entrevistador, apresenta várias marcas de autonomia A expressão lingüística do que estava implicado na situação  foi reconstruída pelo enunciador, numa relação mais ou menos ficcional com a situação, pelas necessidades de comunicação, através de escolhas discursivas que se operam em níveis diversos da atividade de linguagem, numa ação lingüisticamente complexa. O autor explora o subsistema dos tempos do passado (“foi seqüestrado, tava com a camionete”), inclusive com marcação de ação retroativa entre o curso da atividade narrativa e o curso da ação (“só que daí ele tava rolando e quebrou a perna”). Pronomes de primeira pessoa estão ausentes no curso da narrativa, com exceção do possessivo “meu”, que ajuda a localizar o personagem tio, por exemplo. As construções anafóricas predominam, em duas cadeias de referência bem estabelecidas: a do tio e a dos seqüestradores.

 

            Essa rápida análise permite afirmar que os   textos-exemplo, todos do mundo do NARRAR, apontam para capacidades de linguagem diferentes. Constituem RELATOS INTERATIVOS, mostrando, como capacidade de linguagem dominante, representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo.  O primeiro texto reproduz um gênero típico do oral de nosso quotidiano, narrativa como provocada por uma pergunta da mãe à filha, considerada por Perroni (19992) como uma protonarrativa, pois é construída em conjunto com o adulto. O segundo, dentro de um espaço mais formal, uma entrevista, provocado por uma pergunta específica, apresenta já um relato com todos os elementos de uma seqüência narrativa, com características próprias da situação de oralidade, que leva o entrevistador a perguntar sobre detalhes da narrativa 1. Já o terceiro texto, ainda que tenha marcas de implicação, apresenta  maior número de sinais de autonomia.

      

            Os dois textos de G tratam de  temática recorrente no grupo de alunos de nossa pesquisa: a violência. Pensando em  formas de apresentá-la dentro de outra realidade, propusemos para o grupo, então na 5ª série, uma seqüência didática (SCHNEUWLY e DOLZ, 2004) sobre o gênero narrativa de detetive. Na construção do modelo didático desse gênero, além de suas características formais, deveria ser levada em conta as capacidades demonstradas pelos aprendizes, presentes, por exemplo, nos relatos de G. Essa mesma seqüência foi aplicada em outra 5ª série. Dela é retirado o exemplo a seguir, que mostra o momento em que a professora introduz a seqüência didática sobre o gênero de texto narrativa de detetive.

P-     (...) Que tipo de coisa, que característica tem um texto de detetive?

As (em conjunto, após hesitação) – DETETIVE

P – Um detetive, tudo bem.

A1 – Suspense!

P – Suspense também tem. O texto tem suspense, mas no texto, no texto  tem suspense,, que mais?

A2 – terror

P – Um pouquinho, um pouquinho de terror

A3 – Mistério!

P – (em tom de correção) Isso envolve o livro inteiro...

P – Rodrigo?

A4 – Um fim..

P- Ah, mas isso tem em qualquer um...

A5 – Começo, meio e fim

P ( em tom de encerramento da conversa) – Ta, o que que a gente pode anotá, o que que a gente coloca num texto que tem mistério, que tem suspense no decorrer da história, o que é importante colocar no meio e lá no final o que acontece?...

(...)

O propósito da professora é chegar à NARRAÇÂO, pela mimese da ação através da criação da intriga, no gênero “narrativa de detetive”. Sua preocupação, entretanto, é de ordem da metalinguagem, presa a um esquema prévio do que ela entende por narrativa de detetive. Dessa forma, a escuta de seus aprendizes fica prejudicada. Isto é bem exemplificado pelo não entendimento da fala de Rodrigo. Ao responder “um fim” como característica da narrativa de detetive, certamente o aluno estava pensando em resolução, uma fase essencial deste gênero de texto. A professora, entretanto, interpreta esta resposta como o fim formal que a escola prega para a redação escolar (muitas vezes, os professores usam a expressão “laço de fita” para fechar o texto), e esta interpretação é seguida por outro colega, ao enunciar “princípio, meio e fim”. O fechamento proposto a seguir pela professora desnuda seu entendimento do gênero de texto proposto como preso a um padrão de “redação escolar”, em que as diferentes dimensões de um texto podem ser pensadas sem nenhum vínculo com seu funcionamento sociodiscursivo, ou seja, sem uma função comunicativa, apenas como exercício de linguagem.

            As práticas de linguagem apresentadas servem para várias reflexões a respeito da escola e ensino:

a)     infelizmente, a escola não usa as práticas de linguagem habituais dos alunos ( que chamaremos, grosseiramente, de gêneros primários) como um ponto de apoio para a elaboração dos chamados gêneros secundários, que parecem ser o alvo da escolarização;

b)     a noção de gênero é vista pelo professor no terreno metalingüístico, sem preocupação em construção de andaimes para aproximá-los dessa zona de desenvolvimento proximal em que podemos colocar os gêneros secundários;

c)      um gênero não é uma forma fixa, cristalizada, um fato homogêneo e isso acaba sendo esquecido no fazer pedagógico;

d)     um gênero novo surge ancorado em outro já existente, não surge do nada (ex: da carta chegou-se ao e-mail). O mesmo vale para a aprendizagem de um gênero secundário.

e)     torna-se necessário rever o papel da escola/professor no desenvolvimento de gêneros orais e escritos. Isso, na concepção do interacionismos sociodiscursivo, é proposto através de seqüências didáticas, que tomam um determinado gênero como foco de um conjunto de atividades organizadas de maneira sistemática. (Schneuwly e Dolz, 2004).

 

Nesse último sentido, é emblemático o exemplo de desenvolvimento propiciado na turma de sujeitos que acompanhamos no projeto “Desenvolvimento da narrativa e construção social da escrita”. Quando iniciamos a coleta, os alunos encontravam-se no final da 3ª série, dentro de uma prática tradicional em que a classificação gramatical é o fator mais importante da aula de língua materna. Seus relatos orais não apresentavam, na maior parte dos casos, sinais de complicação e de resolução, marcas essenciais de seqüência narrativa. Isto pode ser exemplificado, pelo texto oral da menina S, aos 9 anos:

 

 

*SUY:  @ i , o Puff no livrinho dizia que ele era um ursinho que era muito feliz, que ele pulava de um lado pro outro com seus amigos que era o Tigrão, o Porco, se eu não me engano é o Coelho e eu não sei os outros que tem. Ah @ i que ele era muito feliz, que ele pulava, no anoitecer ele ia pra casa, ele tomava banho, fazia seus dever(es) de casa, e no outro dia, ele alevantava de manhã, tomava banho, se arrumava e ia pro colégio e aí depois que ele chegava do colégio ele ia brincar de novo e aí depois de noite ele www # só me lembro essa parte

S – 9 anos – 3ª série

 

Após uma primeira seqüência didática sobre o gênero de texto conto de fadas, ainda na 3ª série, seguida por outra seqüência, de peça de teatro infantil, já na 4ª série, é possível notar a apropriação pela criança do esquema narrativo básico, que lhe permite apresentar seqüência narrativa, aos 10 anos:

 

*SUY: Ah, uma história que eu li? Lembro só da Bela Adormecida...[risos]

*MAR:  E tu pode me contar essa história?

*SUY: Sim.. ah, ela, ela foi ahh, ela foi maltratada pela madrasta dela aí tinha uma festa que ela tinha que ir quer dizer que ela queria ir né aí veio uma fada e botou um vestido lindo nela e fez uma abobo... não é uma abóbora acho que era se transformar numa carruagem uummm  um cachorro eu acho que era se transformar num cavalo e um gato numa numa no outro cavalo e aí ela pegou assim toda bonita ela pegou e subiu no negócio e foi pra festa só que a meia noite o negócio o  o negócio que a fada fez quebrava aí ela tinha que tar em casa antes da meia noite aí ela saiu correndo e ela perdeu um sapatinho aí no outro dia o o príncipe ele achou e ele pegou e passou num monte de casa perguntando de quem era aquele sapatinho aí quando ele passou na casa dela ele ele pegou e gostou dela e eles ficaram junto

*MAR: Hum hum.. e qual é o nome dessa história?

*SUY: A bela adormecida ... não! Que Bela adormecida! É Cinderela.

 

 (S- 10 anos – 4ª série)

 

Implicações pedagógicas podem ser retiradas das diferenças entre os dois textos de S, em que o texto 2 se apresenta como resultado de trabalho escolar com conto de fadas, mostrando características da seqüência narrativa adquiridas durante trabalho na 3ª série (relato mais detalhado desta experiência está em Guimarães, 2004). Isso deixa-nos a certeza de que é possível transformar o trabalho da escola, desde que centrado na noção de que o importante nas aulas de língua materna é entender que os textos constituintes de um gênero constituem unidades comunicativas globais, articuladas a uma atividade de linguagem. Os tipos de discurso, por sua vez, “são unidades lingüísticas infra-ordenadas, “segmentos” que entram na composição de textos de acordo com modalidades variadas” (Bronckart, 2004, p.116). A escola tem, pois,  em seu trabalho de mediar conhecimentos, a possibilidade de partir de gêneros de texto, pois, como afirmaram Schneuwly e Dolz (2004, p.74), “é através dos gêneros que as práticas de linguagem materializam-se nas atividades dos aprendizes”. Essa releitura do conceito de gênero, sistematizada, sob o ponto de vista da realidade escolar, por Schneuwly e Dolz (1999), enfatiza a questão de sua utilização enquanto um instrumento de comunicação em uma determinada situação, mas, ao mesmo tempo, como um objeto de ensino/aprendizagem.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BRONCKART, JP. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo:EDUC, 1999.

___________. Commentaires conclusifs: pour um développement collectif de l’interacionnisme socio-discursif. Calidoscópio 2(2): 113-23, jul-dez.2004.

___________. Les différentes facettes de l’interactionnisme socio-discursif. Conferência de abertura do Congresso Internacional Linguagem e Interação. São Leopoldo, 22 de agosto de 2005.

GUIMARÃES,AMM. Desenvolvimento de narrativas e o processo de construção social da escrita. Calidoscópio, v.2 n.2,p. 67-74, dez. 2004.

PERRONI,  M.C.. Desenvolvimento do discurso narrativo.São Paulo:Martins Fontes, 1992.

SCHNEUWLY, B. ; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas:Mercado de Letras, 2004.

________ e DOLZ, J. Os gêneros escolares: das práticas de linguagem aos objetos de ensino.Rev. Bras. de Educação,11:5-16, mai-jun-jul-ago 1999.

 

 

 

 

 

    



[1] Agradeço ao CNPq e à FAPERGS o apoio recebido nos projetos “A construção da escrita em ambientes sociais diversos: o interacionismo sociodiscursivo em questão” e “Desenvolvimento de narrativas e a construção social da escrita”, cuja dados foram essenciais para esta apresentação.

[2] [2] Doutora em Lingüística Aplicada, professora e coordenadora do Programa de Pós Graduação em Lingüística Aplicada da UNISINOS