O nosso trabalho tem por objetivo apresentar, de   uma forma bastante sintética,  uma retrospectiva histórica do gênero resumo/abstract  de artigo cientifico partindo do modelo CARS desenvolvido por Swales (1981). O referido modelo evidenciou a existência de moves (movimentos retóricos)  no texto, retratando as estruturas temáticas que o escritor apresenta ao leitor. Tentaremos evidenciar que embora o modelo CARS tenha sido elaborado para introdução de artigo de pesquisa, pode ser considerado um marco inicial nos estudos de resumo/abstract de trabalhos cientifico em diferentes áreas de pesquisa.  Mencionaremos em seguida algumas entre as diversas pesquisas que investigam a organização retórica do gênero resumos abstract, com destaque para o trabalho de Santos (1996), que investiga a organização retórica de resumos científicos na área de lingüística aplicada seguido por Motta Roth e Hendges (1998) que fazem uma análise transdisciplinar do gênero abstract desenvolvendo uma pesquisa nas áreas de química, economia e lingüística . Faz ainda uma pequeno comentário sobre a pesquisa que nos propomos a realizar baseada no modelo desenvolvido por Rodrigues 1998  que também utilizou-se do modelo CARS de Swales para desenvolver sua análise em resumos de dissertações de mestrado.

 

Unitermos: resumo, abstract, moves, movimentos retóricos, estruturas temáticas, transdisciplinar

 

 

Abstract

 

 

The aim of the study  reported here is to present very simply, the historical path of the genre abstract of scientific article starting from the model CARS developed by Swales (1981). Such model made the existence of moves evident in a text showing the thematic structures the  writer  presents to the  reader. We will be trying to evince that the model CARS, even though it had been drawn up for research article introductions, it can be considered the starting point in the study of research articles abstracts in different areas. We will be mentioning, among several researches, some which investigate the rhetorical  organization of the genre abstract. Special distinction will be made to Santos(1996), who investigates the rhetorical  organization of scientific abstracts in applied linguistics, as well as to Motta Roth and Hendges (1998), who made an analysis of the genre abstract developing a research in the areas of chemistry ,economy and linguistics. There is also a short comment on the research we are planning  to do which is based on the model developed by  Rodrigues ( 1998), who also used the model CARS by Swales to do her analysis in master` s dissertation abstracts.

 

Key-words: abstract,moves  rhetorical  organization, moves, thematic  structures

 

 

 

 

 

 

 

Introdução

 

 

 

O nosso trabalho objetiva fazer,  uma retrospectiva histórica do gênero resumo abstract de artigos científicos  desenvolvido por Swales (1981). O referido modelo evidenciou a existência de moves (movimentos retóricos)  no texto, retratando as estruturas temáticas que o escritor apresenta ao leitor. Foi através desse modelo que o autor descobriu características peculiares em introduções de artigos de pesquisa. Tal descoberta foi considerado algo realmente importante, um verdadeiro divisor de águas na historia do referido gênero acadêmico.  Com esse trabalho tentaremos mostrar ao leitor, baseado na idéias de Rodrigues (1998), que  o modelo CARS muito embora tenha sido elaborado para introdução de artigos de pesquisa, pode ser considerado um marco inicial nos estudos de resumo/abstract de trabalhos cientifico em diferentes áreas de pesquisa.  Mencionaremos ainda, baseado na mesma autora, algumas entre as diversas pesquisas que investigam a organização retórica do gênero resumos abstract, com destaque para o trabalho de Santos (1996), que pode talvez ser considerado o sucessor de  Swales ao investigar a organização retórica de resumos científicos na área de lingüística aplicada seguido por Motta Roth e Hendges (1998) que fazem uma análise transdisciplinar do gênero abstract desenvolvendo uma pesquisa nas áreas de química, economia e lingüística . Faz ainda um pequeno comentário sobre a pesquisa que nos propomos a realizar baseada no modelo desenvolvido por Rodrigues op. cit. que também utilizou-se do modelo CARS de Swales para desenvolver sua análise em resumos de dissertações de mestrado.

 

 

2. Fundamentação  teórica

 

 

   Em seu Genre Analysis, publicado em 1990, John Swales faz uma relação do gênero com a comunidade discursiva, considerando-a como uma rede sócio-retórica que se forma a fim de atuar em torno de um conjunto de objetivos comuns. Os participantes da referida comunidade   estão familiarizados com esses objetivos próprios de gêneros particulares que são utilizados em causas comunicativas. Pode-se dizer então que tais gêneros se estabelecem na, e pela comunidade discursiva que, por sua vez se rege por propósitos comunicativos partilhados.

   Swales apud Cruz (2001) apresentam alem dessas características, outros critérios sugeridos para uma categorização adequada de um gênero.

 

 

1.      Um gênero é  uma classe de eventos comunicativos;

2.      Os eventos comunicativos devem partilhar um conjunto de propósitos comunicativos;

3.      Os exemplares de gêneros variam em sua prototipicalidade.

4.      O rationale que há por trás de um gênero estabelece restrições quanto as possíveis contribuições em termos de seu conteúdo , posicionamento e estilo (escolhas de formas lexicais e sintáticas;

5.       Uma nomenclatura da comunidade discursiva para os gêneros é uma importante fonte de compreensão.

 

 Baseado nos referidos critérios é possível afirmar que um gênero consiste em uma classe de eventos comunicativos. Tais propósitos são reconhecidos como especialistas na comunidade  discursiva, que vêem o gênero como uma forma prototípica, cujos exemplares exibem vários padrões de similaridade em termos de  estrutura, estilo conteúdo e audiência.

 

 

2.1. O modelo CARS de Swales e sua evolução

 

 

Nessa sessão apresentaremos, com base em Rodrigues (op. cit.) um pequeno comentário  sobre cada um dos modelos propostos por estudiosos para a organização das informações no corpo do resumo ou do abstract. O  modelo CARS nos foi apresentado por alguns estudiosos em particular por Rodrigues, como uma porta de entrada para os estudos com resumos de dissertações de mestrado.  Vieram ainda muitos outros pesquisadores que trabalharam com o gênero resumo/abstract partindo do modelo CARS. Dentre esses podemos citar cronologicamente  Wood (1982), que testou o modelo em seções de métodos e resultados em textos de química, Dudley Evans (1986), que trabalhou com seções de introdução e discussão    de dissertações de mestrado, Crookes (1987) que trabalhou com  textos científicos de diversas áreas, Motta-Roth (1995) e Araújo (1996) que  trabalharam com resenhas de livros acadêmicos. Aranha (1996) que  realizou sua pesquisa com introduções de trabalhos científicos na área de química. Santos (1995) que  adaptou o modelo CARS a 94 resumos/ abstracts de artigos de pesquisa em ingles. Motta Hoth e Hendges (1996) que  apresentam uma re- elaboração da proposta de Santos aplicada em tres áreas de pesquisa  sendo trinta em inglês e trinta em português. E finalmente Rodrigues (1998), que utilizando o modelo CARS, bem como o exemplo dos demais estudiosos, especialmente Santos,  sugeriu um modelo de análise utilizando como corpus 156 resumos de dissertações  de mestrado reunidos numa publicação que marcou os 25 anos do curso de pós - graduação  em letras/Lingüística da Universidade Federal de Santa Catarina, Grimm-Cabral (1996 apud Rodrigues 1998).

 

 

2.2. O modelo CARS

 

 

O trabalho de John Swales (1981 e 1990), que resultou no modelo CARS  (Create a Research Space) foi desenvolvido em duas etapas. A primeira, tomou   como base um corpus de 48 introduções  de artigos de pesquisa.   Em uma segunda etapa Swales analisou juntamente com outro pesquisador (Swales e Najjar, 1987) 110 introduções   em 3  áreas diferentes: física, educação e psicologia. Como resultados dessa pesquisa inicial foram descobertos 4 moves como mostra o gráfico a seguir:

 

 

Modelo CARS de Swales (1ª versão)

 

Move  1           - Estabelecendo o campo de pesquisa

 

Move   2          - Sumarizando pesquisas prévias         

 

Move   3          - Preparando a presente pesquisa

 

Move 4            - Introduzindo a presente pesquisa

Figura 1 Modelo CARS para introduções de artigos de pesquisa  Swales (1984)

 

 

 

Swales apresenta em 1990 sua segunda versão do modelo CARS . A Referida versão  vem com um número  de moves reduzido, porem, (1998), mais sofisticado por apresentar, segundo Rodrigues (1998) possibilidade de desdobramento nos tres segmentos retóricos básicos alem de valer-se de uma analogia ecológica nos moves 2 e 3 estabelecendo e ocupando o nicho.

 

O gráfico a seguir apresenta a segunda versão do modelo CARS de Swales.

 

 

 

Modelo CARS de Swales (2ª versão)

 

Move  1 -   Estabelecendo  um território      

 

S1-  Alegando centralidade  e ou

S2-   Fazendo generalizações tópicas e/ou

S3-   Revisando itens de pesquisas prévias 

 

Move  2 -   Estabelecendo um nicho

S1A- Contra –argumentando ou

S1B- Indicando uma lacuna ou

S1C- Levantando questões  ou

S1D- Continuando uma tradição

 

Move 3-     Ocupando  o nicho

 S1A- Delineando os propósitos         

 S1B- Anunciando a presente pesquisa

 S2 -   Anunciando as descobertas principais              

 S3 -   Indicando a estrutura do AP     

Fig. 2.  2a versão do modelo CARS para introduções de artigos de pesquisa

 

 

Santos (1995) utiliza-se do modelo CARS de Swales e desenvolve o seu próprio modelo, fazendo uma analise não com introduções de artigos de pesquisa mas com abstracts.   O modelo do pesquisador  foi bastante apreciado pela comunidade acadêmica pois serviu de exemplo para outros pesquisadores, não apenas por utilizarem o modelo para suas análise, mas também como inspiração para a criação de seus próprios modelos.

O gráfico a seguir   apresenta  o  modelo de Santos que surgiu a partir de uma análise feita em 94 resumos (abstracts) de artigos de pesquisa em inglês:

 

 

 

OS CINCO  MOVES DE SANTOS

 

Move 1 Situando a pesquisa

            Sub-move 1- apresentando conhecimento corrente

            Sub-move 2- citando pesquisas previas

            Sub-move 3 – estendendo pesquisas previas

            Sub-move 4-  apresentando um problema

 

Move 2 apresentando a metodologia

            Sub-move 1 – indicando características principais

            Sub-move 2 – indicando o objetivo principal

            Sub-move 3 – levantando hipóteses

 

Move 3 descrevendo a metodologia

 

Move 4 sumarizando os resultados

 

Move 5 discutindo a pesquisa

            Sub-move 1- elaborando conclusões    

            Sub-move 2 – fazendo recomendações 

Fig. 3 -Modelo de resumo de Santos (1995)

 

 

Como já foi mencionado anteriormente, o modelo CARS foi também utilizado por outros estudiosos. Na verdade Motta Roth e Hendges após analisarem  abstracts em áreas diferentes lançaram um modelo a partir de uma re-estruturação  da proposta de Santos com o resultado a seguir:

 

 

 

Proposta de re- elaboração  do modelo de Santos

 

Movimento 1 Situar a pesquisa

            Sub-função   1A-  Estabelecer interesse profissional no tópico

            Sub-função   1B-  Fazer generalizações   no tópico 

            Sub-função    2A-  Citar pesquisas previas

            Sub-função    2B-  Estender pesquisas previas

            Sub-função    2C-  Contra argumentar pesquisas previas

            Sub-função    2D-  Indicar lacunas em pesquisas previas

 

Movimento 2 apresentar a pesquisa

            Sub-função    1A – Indicar as principais características  e/ ou

            Sub-função   1B – Apresentar os  principais objetivos e/ ou

            Sub-função    2–     levantar hipóteses

 

Movimento 3 descrever a metodologia

 

Movimento 4 sumarizar os resultados

 

Movimento 5 Discutir a pesquisa

Sub-função    1 - Elaborar conclusões e/ou

Sub-função    2  - Recomendar futuras implicações

Fig. 4 -Reelaborao do modelo CARS para  resumos de artigos de pesquisa por (Motta Roth e Hendges , 1996:68)

 

 

Foi então que surge em 1998 a proposta de Rodrigues, partindo não apenas do modelo CARS, mas após análises nos modelos que o sucederam resultando na proposta a seguir:

 

 

 

 

PROPOSTA DE RODRIGUES PARA DISSERTAÇÕES DE MESTRADO

 

Unidade Retórica 1 Apresentação   da  pesquisa

            Subunidade 1A- Expondo o tópico principal                                                             e/ou

            Subunidade 1B- Apresentado o objetivo 

           

Unidade Retórica 2 Situação  da Pesquisa

            Subunidade 1 – Indicando a área de conhecimento                                                   e/ou

            Subunidade 2 – citando pesquisas/ teorias/  modelos anteriores

 

Unidade Retórica 3 Metodologia

Subunidade 1A – Desenvolvendo procedimentos metodológicos gerais               e/ou

            Subunidade 1B – Relacionando variáveis                                                                       e/ou

Subunidade 2 – Citando o modelo

 

Unidade Retórica 4 resultados

Subunidade 1A – Relacionando fato(s) achado(s)                                                         e/ou

            Subunidade 1B – Comentando evidências  (s)

 

Unidade Retórica 5 Conclusões

Subunidade 1A  -Apresentando conclusão (ões)                                                             e/ou

            Subunidade  1B –Relacionando hipótese(s) a resultado(s)

            Subunidade  2 – Oferecendo contribuição

               

Fig. 5 -Organização retórica encontrada por Rodrigues (1998) em amostra de resumos de dissertações de mestrado

 

A  proposta acima é  resultante da analise de resumos em lingüística de dissertações de mestrado com o seguinte modelo o qual inspirou a nossa proposta de trabalho que propõe não um modelo de analise mas apenas a utilização de uma proposta de analise para um estudo feito em resumos e abstracts de artigos de pesquisa em línguas portuguesa e inglesa tendo a língua portuguesa com língua de partida fazendo uma analise comparativa com abstracts produzidos por nativos da língua inglesa.

 

 

Conclusão

 

 

Como foi colocado no inicio desse trabalho, a nossa proposta foi apresentar de uma forma bastante sucinta um pouco da teoria que cerca os estudos sobre a evolução dos modelos de analise retórica de resumos e abstracts partindo de John Swales com sua pesquisa sobre introduções de artigos de pesquisa, o que resultou no modelo CARS  e inspirou muitas outras teorias e modelos, as quais não foram todas explicitadas nas poucas linhas que compuseram o presente trabalho.

Quanto a nossa pesquisa, ainda em andamento, baseia-se no modelo de Rodrigues op.cit. Porem  faremos uma análise, não  com dissertações de mestrado mas com abstracts de artigos de pesquisa de duas revistas: a D.E.L.T.A, uma revista de circulação nacional com versões em portugues e ingles e a Applied linguistics , uma revista em língua inglesa.  O trabalho constará, alem de outros aspectos,  da análise  lexical nas unidades retóricas dos referidos resumos e abstracts.

 

 

REFERÊNCIAS

 

ARAÚJO. A. D. Lexical signaling, a study of unspecific nouns  in book reviews

Florianópolis. UFSC. (1996) Tese de Doutorado)

MOTTA-ROTH, D. E HENDGES, G. R. Uma análise de gênero de resumos acadêmicos (abstracts) em economia lingüística e química . Revista do Centro de Letras e Artes , Santa Maria : UFSM, 18(1-2): 53-90, jan./dez. 1996

RODRIGUES , Bernadete Biasi. Estratégias de condução de informações em dissertações. Florianópolis. UFSC. (1998) (Tese de Doutorado)

SWALES,  Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge. Cambridge University press. 1990.