0 – Introdução

No contexto acadêmico, o paper tornou-se amplamente reconhecido como gênero de texto cujo objetivo primordial é socializar as contribuições científicas das diversas áreas de estudo. Nesse trabalho, pretendemos fazer uma análise desse gênero, levando em consideração que o gênero é socialmente construído, por isso, deve ser identificado a partir do seu uso. Assim, embora tenhamos analisado alguns manuais de redação científica, termos em mente que são as revistas acadêmicas que determinam o protótipo paper, enquanto gênero acadêmico.

 

1. O Paper como Gênero Acadêmico.

Um gênero, conforme explicado por Swales (1990, p. 58) ), compreende uma classe de eventos comunicativos, cujos membros de uma determinada comunidade partilham como um conjunto de propósitos comunicativos. Esse propósitos são reconhecidos pelos membros da comunicada textual e constituem a base para o gênero. Essa base molda a estrutura esquemática do texto e influencia e coage para a escolha do conteúdo e do estilo. O propósito comunicativo é tanto um privilégio que se operacionaliza no intuito de manter o escopo de um gênero como uma ação retórica. Em acréscimo ao propósito, os exemplares de um gênero exibem vários modelos de similaridades em termos de estrutura, estilo, conteúdo e audiência pretendida. Se todas as expectativas prováveis se concretizarem, o exemplar será visto como um protótipo pela comunidade textual.

De acordo com essa perspectiva, os membros da academia, que partilham os mesmos propósitos comunicativos se utilizam do gênero paper em publicações reconhecidamente acadêmicas. Esses modelos impressos servem, portanto, de matriz para a publicação de futuros papers.  Ao mesmo tempo, conforme expõe o autor, não é preciso que haja um “engessamento” do modelo estabelecido, tendo em vista que a sociedade muda, e conseqüentemente, esses padrões para o gênero podem sofrer alterações abruptas ou paulatinas, que acabam por modular uma nova matriz para o gênero acadêmico, o qual passa a ser acatado pela comunidade.

Para Bhatia (1993), a análise do gênero acadêmico possibilita formas de ganho por parte dos aprendizes de línguas. No caso da produção escrita, faz-se necessário conceber as dimensões psicológicas, textuais e sociais do gênero que se pretende analisar. Nesse sentido, é preciso que tanto professores quanto alunos tenham acesso a fontes de dados autênticos a fim de que possam ser objeto de investigação e análise. Esses padrões textuais precisam ser representativos do gênero particular com o qual os aprendizes pretendem se familiarizar. A familiarização, nesse sentido, funciona como forma de modelação para discussão e análise, não, necessariamente para imitação.

Flowerdew (1993, p. 313) faz um importante destaque quando explica o que significa essa possibilidade de modelação, utilizando-se da seguinte expressão: os falantes nativos fazem uso da produção dos outros na escrita e na fala a fim de modelar seu próprio trabalho e suas próprias línguas nativas onde o gênero é não-familiar. É preciso, portanto, que essa habilidade seja explicitada e explorada como forma de subsídio para a aprendizagem das habilidades oral e escrita.

 

2. O Paper nos Manuais de Redação Científica

Ao considerar que muitas pessoas se baseiam nos Manuais de Redação Científica para produzirem seus textos acadêmicos, optamos por descrever o que dizem alguns desses manuais disponíveis no mercado livreiro sobre o gênero que nos interessa para análise: o paper. Abaixo, reproduzimos, ainda que sem citar os livros, tendo em vista que eles não se diferenciam substancialmente nas suas acepções do que seja esse tipo de documento científico.

 

Manual de Redação Científica 01

Para esses autores, a denominação paper é dada ao documento elaborado, pelo pesquisador sobre determinado tema e/ou resultados da pesquisa científica. Os autores associam os papers a artigos científicos ou textos elaborados para comunicações em congressos sobre determinado tema ou sobre os resultados de um projeto de pesquisa e que, por isso, devem possuir a mesma estrutura formal de um de um artigo. Recomendam que para escrever um artigo científico deve-se buscar um estilo claro, conciso e objetivo, e que a linguagem deve ser correta, técnica, porém simples. Finaliza dizendo que o paper não deve ultrapassar 20 laudas.

 

Manual de Redação Científica 02

De acordo com esse autor, o paper destina-se a uma comunicação oral em cursos, congressos, simpósios, reuniões científicas etc. Contém em média entre duas e dez páginas, estruturadas no modelo artigo científico ou artigo relatório, para posterior publicação em atas e anais dos eventos científicos em que foram apresentados. Podem aparecer publicados na íntegra ou na forma de resumos e sinopses. Finaliza dizendo que embora contenha a mesma estrutura intelectual dos artigos – introdução, corpo e conclusão, não apresenta subdivisões: é um texto unitário.  Ele descreve a estrutura do paper da seguinte maneira: Título (subtítulo); Autor(es); Credenciais do(s) autor(es); Sinopse; Texto (sem subdivisões, embora tenha como conteúdo uma introdução, um corpo e uma conclusão); e Referências bibliográficas.

 

 

 

 

 

Manual de Redação Científica 03

Para os autores, os papers são pequenos estudos, porém completos, que tratam de uma questão verdadeiramente científica, mas que não se constituem em matéria de um livro. Afirmam ainda que apresentam o resultado de estudos ou pesquisas e distinguem-se dos diferentes tipos de trabalhos científicos pela sua reduzida dimensão e conteúdo. São publicados em periódicos especializados e formam a seção principal deles. Apresentam a seguinte estrutura: cabeçalho – titulo (e subtítulo) do trabalho, autor (es), credenciais do(s) autor (es), local de atividades, sinopse, introdução – apresentação do assunto, objetivo, metodologia, limitações e proposição, texto – exposição, explicação e demonstração do material; avaliação dos resultados e comparações das obras anteriores, comentários – dedução lógica, baseada e fundamentada no texto, de forma resumida. Na parte referencial, segundo os autores deve ter: bibliografia, apêndices ou anexos (quando houver necessidade), agradecimentos, data (importante para salvaguardar a responsabilidade de quem escreve um artigo cientifico, em face de rápida evolução da ciência e da tecnologia e demora de certas editoras na publicação de trabalhos). Para esses autores, o conteúdo pode abranger os mais variados aspectos e, em geral, apresenta temas ou abordagens novas, atuais, diferentes.

 

Manual de Redação Científica 04

Para esses autores, o paper trata-se de um trabalho técnico, científico ou cultural que visa, principalmente, a maior agilidade na divulgação do assunto tratado, seguindo, na maioria das vezes, as normas de publicação da editora que se destina. Pode ser escrito por um ou mais autores. Os autores destacam que caso o editor não possua normas próprias, a estrutura dos trabalhos apresentados em publicações e em eventos deve obedecer a seguinte ordem dos elementos: cabeçalho, resumo, palavras-chaves ou descritores, texto, agradecimentos, lista de referencias bibliográficas e data (apenas para relatórios).

 

Uma apreciação dos conceitos apresentados nos quatro livros acima revela diferentes percepções no que tange ao paper. O primeiro impasse encontra-se no tamanho, o Livro 1 enfatiza que o paper deva ultrapassar as 20 páginas, enquanto que o Livro 2 aponta uma média entre 2 e 10 páginas. Quanto a concepção do termo paper, os autores também se distinguem. Na maioria dos casos, os autores não apresentam qualquer distinção entre o paper e o artigo científico. O Livro 2, contudo, diferencia o artigo científico do paper, destacando que este último é geralmente resultante de apresentação em congressos científicos, e posteriormente, publicado em anais e/ou revistas especializadas.

A estrutura também é concebida de forma diferenciada. Um dos livros afirmar que o paper, diferentemente do artigo científico, não deve conter sub-tópicos no corpo do trabalho. O Livro 1 sugere a apresentação de uma sinopse e das credencias do autor, enquanto que os autores dos Livros 3 e 4 não fazem qualquer sugestão quanto a isso. O Livro 1 chama de “sinopse”, o que os autores dos Livros 3 e 4 chamam de resumo. Os autores do Livro 4 incluem uma “lista de agradecimento”, que segundo eles, deva acompanhar o final do texto. Somente os autores do Livro 4 reconhecem que a estrutura dos papers, na maioria das vezes, é determinada pela corpo editorial da revista acadêmica e que o escritor do paper deverá utilizar as especificações recomendadas no caso do editor não possuir normas próprias. Nos quatro livros destacados acima, é comum a concepção de que o paper deva ser publicado em uma revista científica.

 

3. O Paper em Revista Acadêmicas

3.1 Metodologia

Com o objetivo de efetivar a análise, escolhemos 11 papers, publicados nos anos de 2000, 2001 e 2002, em língua portuguesa e inglesa, nas seguintes revistas: Delta, The ESP, Revista Brasileira de Lingüística, Linguagem e Ensino e Expressão. Todas essas revistas, com exceção da última, publicam trabalhos na área de língua e ensino de línguas materna e estrangeira. A escolha da análise dos papers dessas revistas, nesse campo de investigação, justifica-se pelo fato do pesquisador envolvido estar ligado à essa área de estudo. Após a seleção dos papers, passamos a fase de categorização das divisões desse gênero, apontado sua similaridades e diferenças entre aquilo que é apontado pelos manuais de redação científica, bem como as nuances entres os papers em português e inglês.

 

3.2 As subdivisões do paper

3.2.1 Resumo

Após o título, seguido do nome do(s) autor(es), o paper traz um resumo, geralmente em língua inglesa. Esses abstracts, em média geral, têm entre 10 a 15 linhas. Contudo, observamos nos papers analisados que há uma tendência para que os resumos/abstracts sejam cada vez menores. Algumas revistas acadêmicas apresentam abstracts e resumos com média de 8 linhas, e às vezes, até 4. Logo abaixo do resumo, tanto em inglês quanto em português vêm as Palavras-chave, ou Key-words, com média de quatro palavras. Quanto a ordem de apresentação do resumo/abstract, os papers não demonstram qualquer dogmatismo, mesmo para aqueles em inglês, às vezes, o abstract é apresentado primeiro e o resumo depois, ou vice-versa.

 

3.2.2  Introdução/apresentação

Na introdução, o(a) autor(a) de forma sucinta apresentam o trabalho, o problema os objetivos, especificamente o que pretende desenvolver. Abaixo, destacamos exemplos dos papers analisados:

 

Exemplo 1 – (..) neste trabalho apresento reflexões acerca da conjugação teoria/prática que se inserem em nosso projeto de dissertação no qual busco avaliar na minha atuação docente as teorias que têm regido minha prática enquanto professora de inglês como língua estrangeira em um contexto de ensino.

 

Exemplo 2 - This article reports on an exploratory case study conducted from 1995 to 1997 aimed at investigating the impact of an EFL reading ability exam on three different settings of EFL teaching at the secondary level in Campinas, São Paulo State, Brazil. This work is divided into several parts. First I contextualize the research, describing the Unicamp exam within the Brazilian university entrance examination system and the status of EFL and FEFL in that context. Next I present the study, describing the methodology and procedures for data collection and analysis. I then go on to present the results, conclusions and implications.

 

3.2.3  Fundamentação teórica

Na fundamentação teórica, o(a) autor(a) discorre sobre os pontos que embasam sua pesquisa/estudo. As citações diretas e indiretas são extremamente necessárias a fim de justificar o andamento da pesquisa. Veja, abaixo, um extrato:

 

Exemplo 1 - No estudo em destaque, encontramos o esboço da teoria da Interação Verbal posteriormente desenvolvida em Bakhtin (1992), momento em que o autor apresenta de maneira mais profunda e complexa, considerando aspectos originários especificamente do social, teoria da interação verbal. Nessa segunda obra, Bakhtin inicia retomando afirmações apresentadas no estudo anteriormente citado: qualquer que seja o aspecto da expressão-enunciação considerando, ele será determinado pelas condições da enunciação em questão, isto é, antes de tudo pela situação social mais imediata.

 

2.2.4  Metodologia

Na metodologia, o(a) autor(a) apresenta, de forma concatenada, como desenvolveu seu estudo. Alguns exemplos são:

 

Exemplo 1 - Devido aos objetivos deste trabalho, opto por seguir uma linha interpretativista (Moita Lopes, 1996, 9.20), dando tratamento qualitativo aos dados e, para buscar entender os processos interacionais de minha própria sala de aula, utilizarei a linha metodológica da pesquisa-ação, que possibilita uma oportunidade de reflexão de uma prática, envolvendo os sujeitos que dela participam diretamente, de modo a gerar mudanças que aprimorem tal contexto.

 

Exemplo 2 - At this stage, it is worth mentioning that we took our samples from the students studying English at JUST. All of them were homogenous in the sense that they had a similar background in English (intermediate). Because they were admitted to JUST, they were all subjected to JUST admission rules. This entails an eighty to eighty five grade in the Twzjihi.

 

2.2.5 Resultados

As pesquisas de cunho quantitativo tendem a dar muita ênfase aos resultados. A apresentação pode ser feita em forma de “pizza”, gráficos, tabelas, ou mesmo, através de parágrafos. Veja alguns exemplos retirados dos papers:

 

Exemplo 1 - Resumindo os resultados da experiência deste projeto e sem pretender que o presente artigo possa oferecer respostas definitivas e exaustivas, afirmo que a tradução de hipertextos vai além da tradução de textos lineares. Os hipertextos são, em grande parte, textos eletrônicos e não-lineares. Os leitores de hipertextos exercem um papel mais ativo na comunicação que os leitores de textos lineares.

 

Exemplo 2 - The interview data showed concern with university entrance examinations in general and with Unicamp’s more specifically to be greater in setting C and only beginning to appear in B, with the private school somewhere in the middle. Teacher C notes that in his setting, everybody, including parents, schools, teachers and students show concern about the exams: “it is difficult to have a class in which you do not mention Unicamp, etc.

 

2.2.6  Discussão

Na discussão, os(as) autores(as) abordam teoricamente o tema proposto para a pesquisa. É aqui onde se destaca as principais contribuições do paper. Alguns exemplos foram destacados a seguir:

 

Exemplo 1 - Aqui é possível notar que, apesar do impacto testemunhado pela aluna-professora, sua análise não avança para além de questões centradas no ensino e nunca na aprendizagem. Ela avalia, de forma simplista, o sucesso de sua prática pelo grau de amizade que criou com os alunos. Embora reconheça a existência de limitações e dificuldades em sua prática é incapaz de compreender as complexidades do ensino.

 

Exemplo 2 - Considering the fact that Unicamp does not offer any guidance to teaching aside from guidelines for testing, a teaching methodology would have, in this case, to be developed by teachers or material writers considering the principles and the underlying theoretical assumptions concerning reading. Although I agree with teacher A that many methods can be used for preparing students for this exam, I realize must emphasize that they all must be based on a view of reading as meaning construction.

 

2.2.7  Considerações finais/conclusão

Os termos “considerações finais” e “conclusão” são usado, às vezes, sem distinções teóricas. Contudo, alguns metodólogos defendem que o termo “conclusão” soe um tanto quantitativo, e que, portanto, deveria ser evitado em pesquisas qualitativas. O termo mais comumente utilizado nos papers é “considerações finais”, e em poucos casos, “algumas considerações”. Em inglês, o mais predominante ainda é o “conclusion” ou “conclusions”. Em alguns poucos casos, evita-se o uso do termo e as “considerações finais” são incluídas dentro dos resultados. Em virtude da facilidade de interação via e-mail entre os pesquisadores, é comum, hoje, incluir o endereço eletrônico do autor no final das considerações finais (antes das referências eletrônicas e/ou bibliográficas). A seguir extraímos alguns usos lingüístico-textuais nas “considerações finais/conclusões”:

 

Exemplo 1 - The purpose of this work has been to show how an analysis of Theme can help visualize some of the choices an author makes with increased experience. The analysis suggests that as the author gains confidence he tends to select more interactive Subjects where his presence is either overtly manifested in the text in the Participant Domain, or covertly manifested in the more subtle Hypothesised & objetectivized Domain.

 

Exemplo 2 - São várias as questões que nossos dados colocam, tanto para a fonologia quanto para a sintaxe. Aqui apontamos para algumas direções de pesquisas, que ficam para o futuro.

 

2.2.8 Referências

As referências seguem, em geral, as normas da ABNT. Apesar da tentativa de inclusão de referências eletrônicas, percebemos que a grande fonte de pesquisa em publicação científica acadêmica continuam sendo os livros impressos. Isso demonstra, talvez, ainda uma desconfiança dos pesquisadores quanto a originalidade dos textos disponíveis na internet. Essa, porém, não é a causa principal. Na verdade, os livros das principais áreas de pesquisa encontram-se ainda de forma impressa, os anunciados e-books ainda não são realidades concretas no bojo da pesquisa acadêmica. A experiência tem demonstrado haver ainda um certo preconceito quanto a publicação de um paper que se utilize somente de fontes da internet.

 

2.3 Os Tempos Verbais na Composição dos Papers

Os manuais de redação científica recomendam que os papers devam ser escritos  na primeira pessoa do plural ou na terceira pessoa, de modo impessoal. Contudo, uma analise do uso dos tempos verbais nos papers selecionados revela que nem sempre aquilo que serve de recomendação, nos manuais de redação científica, ou normatização, por parte de alguns professores, é efetivamente utilizado nos textos de reconhecimento acadêmico. Somente para efeito de exemplificação, destacamentos, abaixo duas tabelas, nas quais fazemos um levantamento da freqüências dos verbos utilizados nos papers analisados:

 

QUADRO DEMONSTRATIVO - Português

  Características

Introdução

Metodologia

Resultados

Discussão

Conclusão

Presente

95

57

127

135

132

Passado

12

60

99

96

44

Futuro

3

3

10

10

9

Fut. Do Pretérito

5

7

10

13

14

Voz Ativa

20

13

39

44

25

Voz Passiva

19

36

25

30

20

Citações

6

3

18

22

7

Comentários

21

17

23

23

27

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

QUADRO DEMONSTRATIVO - Inglês

Caraterísticas

Introdução

metodologia

Resultado

Discussão

Conclusão

Present

88

65

102

123

87

Past

15

61

80

100

36

Future

4

3

12

11

3

Conditional

6

10

15

13

10

Active Voice

19

15

48

50

12

Passive Voice

15

41

45

41

14

Citations

3

5

18

25

3

Commentaries

15

19

25

20

11

 

 

 

 


                                                                                                                                                        

 

No quadro dos papers em português, vemos o total de incidências dos tempos verbais em cada um dos principais tópicos do paper. O tempo presente é o mais utilizado da introdução até a conclusão. Seguido do passado, bastante evidentes no passado e na discussão dos resultados.  O uso de expressões verbais na voz passiva chega a equiparar-se ao da voz ativa. As expressões verbais no futuro são comuns na conclusão.

Por outro lado, no quadro demonstrativo dos papers em inglês, percebe-se nitidamente uma utilização maior da voz passiva em todos os aspectos do paper, superando a voz ativa. O presente é amplamente utilizado, principalmente o present perfect, forma verbal pouco utilizada na língua portuguesa. Nas discussões e resultados, mantêm-se o mesmo padrão da língua portuguesa. O uso do futuro na conclusão, contudo, apresentou um número reduzido em relação aos papers em língua portuguesa.

 

3. Considerações finais

Os encaminhamentos resultantes da pesquisa, além de contribuírem para o processo de escritura de papers em português e inglês, possibilitando a análise e reconhecimento de padrões lingüístico-textuais úteis na composição desse gênero de texto. Essa pesquisa não pretende, contudo, exaurir o estudo aqui proposto. Outras pesquisas serão necessárias a fim de identificar aspectos diversos tais como tipos de verbos e/ou estruturas textuais mais comuns em papers de determinadas áreas de investigação científica. O mérito da pesquisa repousa em fornecer um paradigma diferenciado para o tratamento do texto acadêmico. Ao invés da recorrência exclusiva aos manuais de redação científica, faz-se necessário a análise de textos autênticos, reconhecidos pela comunidade acadêmica. Desse modo, outras pesquisas poderão surgir que não se restrinjam apenas ao paper, mas que expandam esse tipo de análise às monografias, dissertações e teses de doutoramento. Esse tipo de estudo retira o foco na abstração e hipotetização sobre como, supostamente, deveria ser determinados textos acadêmicos, e põe ênfase sobre o material produzido de forma concreta e sócio-histórica.

 

4. REFERÊNCIAS

 

BHATIA, V. K. Analysing Genre: Language Use in Professional Settings. Harlow: Longman, 1993.

FLOWERDEW, J. ‘An educational or process approach to the teaching of professional genres’. ELT Journal 47/4: 305-316, 1993.

SWALES, J. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

SWALES, J. & FEAK, C. Academic Writing for Graduate Students. Michigan: UMP, 2001.