INTRODUÇÃO

Tendo em vista que a alternância de uso dos pronomes possessivos de terceira pessoa, seu/dele, é muito recorrente no Português do Brasil (doravante PB), nos dispomos a analisar os fatores lingüísticos e/ou extra-lingüísticos que condicionam o uso de uma forma ou de outra. Vários estudos, como os de Câmara Jr. (1979), Oliveira e Silva (1984, 1991, 1998), Perini (1985), Menon (1994, 1996), Abraçado (2000), já mostraram que com a entrada dos pronomes pessoais você/vocês no paradigma pronominal do PB, por volta do século XVIII, ocorreu uma mudança nesse sistema e o possessivo seu (pronome predominantemente de terceira pessoa) tornou-se ambíguo, referindo-se também à segunda pessoa do singular e do plural, acompanhando a trajetória do pronome você(s). Neste trabalho, pretendemos analisar os vestígios do pronome seu na terceira pessoa e a forma concorrente dele, em dezesseis entrevistas da cidade de Florianópolis, pertencentes ao Banco de Dados do Projeto VARSUL (Variação Lingüística urbana da Região Sul do Brasil). Mais tarde serão analisados dados das cidades de Porto Alegre e Curitiba para que se possa fazer um mapeamento do comportamento lingüístico da fala sulista em relação aos estudos já feitos com os pronomes possessivos em outras regiões do Brasil.

 

1. PONTO DE PARTIDA

            Oliveira e Silva (1998) e Menon (2000) apresentam o processo de gramaticalização pelo qual passou o pronome você até que se especializasse como pronome pessoal de segunda pessoa do singular, concorrendo com o pronome pessoal tu em algumas regiões do Brasil. O você originou-se de Vossa Mercê, a princípio muito formal, que foi perdendo algumas sílabas (Vossa-mercê>vosmicê>vancê>você) até que, em algumas regiões do Brasil chegou ao lado do pronome tu. Menon (2000) afirma que não podemos dizer de forma genérica que o tu foi substituído pelo você, ou que existe variação no uso do pronome íntimo de segunda pessoa no PB porque não possuímos corpus sincrônico das várias épocas do português para traçar o percurso das formas. Também não se pode afirmar que os dois constituem uma variável no PB, pois se em alguns dialetos se comprova essa alternância, naqueles que só existe um uso não há variação.

      Ramos (1989), analisando o uso dos pronomes familiares na cidade de Florianópolis, verificou um sistema quaternário, pois os informantes utilizaram  tu, você, O senhor ou zero (sujeito omitido), com as seguintes percentagens: 20%, 31%, 9% e 40%, respectivamente. Abreu (1987) (apud Menon (2000)) analisando a fala de Curitiba verificou maior uso do pronome zero com 49%, seguido do você com 30,9% , O senhor com 20,1%  e nenhuma ocorrência do pronome tu. Guimarães (1979) analisou 120 redações de estudantes de Porto Alegre e constatou que, na escrita, o uso de tu e você apresenta percentuais quase idênticos. Loregian (1996) analisando o corpus do Projeto VARSUL das três capitais do Sul do País afirma que tu e você concorrem em Florianópolis e Porto Alegre, porém com distribuição diferenciada, e em Curitiba não existem ocorrências de uso do pronome tu. Com esta descrição do uso do pronome familiar de segunda pessoa, uma de nossas hipóteses é de que em Florianópolis o possessivo correspondente à segunda pessoa seja teu/seu que se relacionaria aos pronomes pessoais tu e você e para a terceira pessoa dele/seu.

Como exposto acima, em Curitiba o pronome pessoal utilizado pelos falantes é exclusivamente você, mas há ocorrências de teu e seu referindo-se à segunda pessoa, Menon (1996) afirma, por exemplo, que este uso depende da relação interpessoal, familiaridade, respeito e formalidade que há entre os falantes. E ainda, muitas vezes os as formas teu e dele são usadas para desambigüisar o enunciado, evitando assim, a forma ambígua seu.

Câmara Jr. (1979), Perini (1985), Oliveira e Silva (1998) levantam a questão da ambigüidade de seu/sua e reconhecem que, na fala, as pessoas utilizam a forma dele/dela  para tornar claro o enunciado, ou seja, para desambigüisá-lo. Perini (1985) coloca que a língua “dá um jeito de evitar formas ambíguas e utiliza-se de você, de vocês e deles na língua padrão e na língua coloquial estas formas (de você(s) e deles) são as únicas formas aceitáveis para evitar a ambigüidade”.

Oliveira e Silva (1982) (apud Oliveira e Silva (1991)) afirma que a total definição do possuidor inibe quase totalmente a forma seu, enquanto que um possuidor geral fomenta o uso desta forma. Oliveira e Silva (1998) analisando dados de universitários, onde o emprego da forma dele é muito freqüente, diz que o uso do possessivo seu ficou restrito ao ambiente em que o possuidor é geral ou indeterminado.

Oliveira e Silva (1991), estudando corpora escritos onde é mais freqüente a forma seu do que em corpora orais, verificou que na variação entre seu e dele estariam envolvidos fatores que têm por propriedade minimizar a ambigüidade causada pelas várias aplicações de seu em português (2ª e 3ª pessoa do singular e plural). A autora, analisando corpus dos séculos XV, XVI e XVII, constatou que o fato de o possuidor ser humano favorecia muito o uso da forma seu. Já no século XVIII, segundo ela, houve alteração total desse comportamento e a forma dele passou a ser atribuída a humanos e a forma seu a objetos. A autora, analisando os traços de animacidade, definitude e especificidade, afirma que o possuidor inanimado favorece a forma seu, já o fato de ser humano ou animal inibe a forma seu, favorecendo a forma dele. Quando o possuidor é genérico, há a probabilidade de uso do possessivo seu. O referente explícito parece inibir a forma seu. Quanto ao grau de abstração, os mais abstratos favorecem a forma seu. Quanto ao aspecto formal do possuidor os formalmente indefinidos possuem alto grau de probabilidade de uso de seu. Nesses corpora, os falantes mais jovens usam pouco a forma seu, favorecendo a forma dele.

Abraçado (2000) salienta que, com a entrada do pronome você para 2 ª pessoa, o possessivo seu passou a ser utilizado para o receptor – você – em detrimento de ele, eles e vocês. E que, somente em relação a você, o seu não desperta nenhum tipo de ambigüidade. Então, segundo a autora, na língua coloquial o possessivo seu se especializou como forma possessiva de você. E os possessivos referentes a ele, eles e vocês estão sendo preenchidos por sintagmas possessivos da forma  de + N = pai dele/ pai deles/ pai de vocês. Segundo ela, as formas De + N contribuem para que seu seja possessivo exclusivo do pronome você.

            Partindo do arcabouço teórico-metodológico da Sociolingüística Variacionista (cf. modelo de Labov 1972), procuraremos descrever o fenômeno da variação no uso dos pronomes possessivos de terceira pessoa na fala de informantes da cidade de Florianópolis, que fazem parte do Banco de Dados do Projeto VARSUL. Através de um estudo empírico e quantitativo, vamos testar quais os condicionadores lingüísticos e extra-lingüísticos do pronome seu e da forma dele.

2 METODOLOGIA

2.1. Corpus

 

Nosso Corpus  constitui-se de 16 horas de gravação de entrevistas extraídas do Banco de  Dados do Projeto VARSUL (Variação Lingüística Urbana da Região Sul do Brasil), todas da cidade de Florianópolis, estratificadas de acordo com as variáveis sexo (feminino e masculino), idade (25-49 anos e + de 50 anos) e tempo de escolarização (até quatro anos e até doze anos), distribuídas de acordo com o quadro abaixo:

 

FLORIANÓPOLIS

 

Masculino

Feminino

 

Primário

Colegial

Primário

Colegial

 

2

2

2

2

De 25 a 49 anos

2

2

2

2

Mais de 50 anos

8 informantes

8 informantes

 

Total: 16 informantes

 

 

2.2 O ENVELOPE DE VARIAÇÃO

            A variação do uso dos pronomes possessivos de terceira pessoa seu/dele pode estar correlacionada às variáveis lingüísticas: SN genérico ou não-genérico; forma de realização do possuidor; animacidade do possuidor e animacidade do possuído e às variáveis sociais: sexo, idade e escolaridade do informante, que serão descritas a seguir.

 

2.2.1 GENERICIDADE DO POSSUIDOR

Nesta variável será controlado o traço de genericidade do possuidor. Serão considerados genéricos sintagmas que tratam de coisas ou pessoas em geral, e não-genéricos aqueles que têm um referente definido, como ilustram os exemplos a seguir:

 

(1) Então eu acho que é aceitável que todos tivessem o seu dinheiro aplicado. (SCFLP21L533)

 

(2) Eu acho que as Forças Armadas Federais, embora (hes) o objetivo delas não é esse, mas eu acho que nós pagamos as Forças. (SCFLP21L611)  

           

Nossa hipótese é de que possuidores genéricos favoreçam o uso do possessivo seu, enquanto que os possuidores não-genéricos favoreçam o uso da forma dele.

 

2.2.2 FORMA DE REALIZAÇÃO DO POSSUIDOR

Tomamos para discutir este grupo de fatores Oliveira e Silva (1991), (1998), cujos resultados mostram alta predominância da forma seu quando o possuidor é geral e alta predominância de dele quando é mais definido. Vamos testar os resultados da autora em nossos dados.       

 

a) com possuidor totalmente geral (todos, cada, alguém)

(3) Em casa, cada um segue a sua religião que quer, né? (SC FLP17L671)

 

b) indefinido não referencial (um cara, mulher)

(4) Hoje a gente vê as pessoas virem cansadas dentro do ônibus, às vezes do trabalho, uma mãe bota a criança do lado dela e vem toda vida. (SCFLP04L220)

 

c) definido não referencial (o cara, ser humano)

(5) O médico pra ganhar bem tem que ter uns vinte anos formado, ter recursos para montar sua própria clínica. (SCFLP 21L1261)

 

d) grupo definido referencial de tamanho ilimitado (os padres, as crianças)

(6) As mães podiam fiscalizar suas filhas, os meninos podiam conversar com elas, à vontade na janela. (SCFLP04L577)

 

e) grupo de tamanho limitado (meus netos, meus alunos)

(7) Deus me livre que o pai e a  mãe tivessem conversando , e a gente chegasse lá da rua num desespero qualquer, num grito ou qualquer coisa, pra interromper a conversa deles, né? (SCFLP07L859)

 

f) totalmente definido (nome próprio, pronome ele)

(8) Então o Julinho, eu nunca me lembro o sobrenome dele, o Julinho. (SCFLP23L346)

           

2.2.3 ANIMACIDADE DO POSSUIDOR

Nesta variável, controlamos a animacidade do possuidor; na próxima variável será controlada a animacidade do possuído. Sabemos que um SN pode ser marcado por traços  [+ animado] quando se refere a seres vivos, em sua maioria homens e animais, e marcado por traços [- animado] quando se refere às coisas em geral, como mostram os exemplos (9) e (10), abaixo:

 

(9) Aí ela conheceu o marido dela hoje, não quis mais voltar, casou. (SCFLP08L192)

]

(10) E esse plano, eu acho que  tem os seus serviços, também acho que melhorou um pouco. (SCFLP20L553)

 

Nossa hipótese para esta variável é de que sintagmas marcados pelo traço [-animado] favoreçam o uso do possessivo seu, e sintagmas marcados pelo traço [+animado] favoreçam o uso da forma dele.

 

2.2.4 ANIMACIDADE DO POSSUÍDO

            Nesta variável vamos controlar a animacidade do possuído, como em (11) e (12):

 

(11) E eu ia ser madrinha do neném dela. (SCFLP20L907)

(12) O Miramar teve seu apogeu ali, né? (SCFLP24L370)

 

2.2.5 VARIÁVEIS SOCIAIS

            As variáveis sociais, estudadas neste trabalho, são as seguintes: sexo, escolaridade e idade do falante. Nossa expectativa quanto às pressões externas é de que quanto maior o grau de escolarização maior o uso da forma seu como possessivo de 3ª pessoa. Acreditamos também que os falantes mais jovens utilizem mais a forma dele e que os mais idosos usem mais a forma seu.

 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. PRONOMES DE TERCEIRA PESSOA - SEU E DELE

 

Nas 16 horas de entrevistas utilizadas foram coletados 333 dados com as formas de realização dos possessivos de terceira pessoa seu/dele. Os dados de cada uma das rodadas foram categorizados e submetidos aos programas computacionais do sistema Logístico VARBRUL (Pintzuk, 1988), os quais forneceram pesos relativos e fatores relevantes, referentes às variáveis sociais e lingüísticas apresentadas anteriormente, para a variação do fenômeno em questão.

Analisando os resultados estatísticos, observamos que houve forte predomínio do uso do possessivo dele referindo-se à terceira pessoa. Dos 333  dados, foram encontradas 292 ocorrências com o pronome dele o que corresponde a 88% dos dados, e apenas 41 ocorrências realizadas com o possessivo seu, correspondente a 12% dos dados, como ilustra o gráfico 1, abaixo:


 

Esse resultado confirma as conclusões de Perini (1985), Oliveira e Silva (1998) e Abraçado (2000), segundo as quais a forma dele está se especializando como possessivo de terceira pessoa no PB.

Tomando o pronome possessivo seu para a aplicação da regra variável, os grupos de fatores considerados estatisticamente significativos pelo programa VARBRUL obedeceram à seguinte ordem de relevância: forma de realização do possuidor, genericidade do possuidor e animacidade do possuidor.  Ao contrário do que se esperava, as variáveis sociais não se mostraram relevantes para o fenômeno, por este motivo não serão tratadas nesta análise.

 

 

3.1.1 FORMA DE REALIZAÇÃO DO POSSUIDOR

                De acordo com o esperado, a tabela 1 mostra que 93% dos dados com o pronome seu preferem contextos com SNs totalmente gerais, e 71% dos dados com definido não referencial. Apenas 3% dos dados com possessivo seu ocorreram com SNs totalmente definidos.      

 

           Tabela 1: Possessivo SEU em relação à forma de realização do possuidor 

Forma de realização do possuidor

SEU

%

Peso relativo

Totalmente geral

13/14

93

.95

Definido não-referencial

15/21

71

.95

Grupo definido referencial de tamanho limitado [1]

2/4

33

.75

Indefinido não-referencial

1/5

17

.48

Totalmente definido

10/276

3

.40

Total

41/333

12

 

 

Os resultados apresentados nesta tabela confirmam que  SNs totalmente gerais agem como fortes condicionadores do possessivo seu, enquanto que SNs totalmente definidos funcionam como bloqueadores do uso deste pronome, favorecendo o uso do possessivo dele.

Na tabela 1, temos os pesos relativos referentes aos fatores desta variável. Os pesos apresentados funcionam em uma escala que vai de 0.0 a 1.0 sendo que valores que se aproximam de 0.0, em nossa análise, significam fatores favorecedores do possessivo dele, enquanto que valores que se direcionam para 1.0 são fatores favorecedores do possessivo seu. Entre estes dois pólos, existe uma área de neutralidade que compreende valores em torno de .50 e que mostram fatores pouco ou nada relevantes para a variação. Na tabela 1, temos os pesos relativos, relacionados aos fatores desta variável. Como se pode ver, o peso relativo de .40 para o totalmente definido denuncia um ambiente favorecedor ao possessivo dele. Esse peso relativo confirma a leitura permitida pelas porcentagens, onde temos apenas 3% de pronomes seu associados ao SN totalmente definido.

Por outro lado, os SNs totalmente gerais e definidos não-referenciais se mostraram como contextos favorecedores do possessivo seu, apresentando ambos peso relativo de .95. O SN indefinido não-referencial apresentou peso relativo de .75, mas só encontramos uma ocorrência para este grupo de fatores.

 

3.1.2 GENERICIDADE DO POSSUIDOR

Um outro grupo que se mostrou bastante significativo no condicionamento do uso do possessivo seu foi o que mediu a genericidade do SN. Conforme a tabela 2 mostra, o SN  Genérico comportou-se como forte condicionador do uso da forma seu com peso relativo de .98, o que já era previsto em nossas hipóteses.  Enquanto o SN não-genérico comportou-se como inibidor do pronome seu, apresentando um peso relativo de .42 e apenas 6% de uso. A tabela 2, abaixo, ilustra os resultados obtidos na análise:

 

                    Tabela 2: Possessivo SEU em relação à genericidade do SN

Genericidade

SEU

%

Peso

Não – Genérico

18/306

6

.42

Genérico

23/27

85

.98

Total

41/333

12

 

 

 

3.1.3  ANIMACIDADE DO POSSUIDOR

Os traços de animacidade do SN posicionaram-se como terceiro grupo por ordem de relevância para o uso do possessivo SEU de terceira pessoa. A tabela 3, abaixo, explicita os resultados desta variável:

 

             Tabela 3: Possessivo SEU em relação à animacidade do SN

Animacidade

SEU

%

Peso

[-animado]

9/16

56

.93

[+animado]

32/317

10

.47

Total

41/333

12

 

 

Confirmando os trabalhos de Oliveira e Silva (1991, 1998),  nossos resultados apontam que os possuidores [-animado] tendem a favorecer o uso do possessivo seu. A interação deste fator com os demais teve como resultado um peso relativo de .93, que lhe dá um caráter favorecedor do possessivo seu. Em oposição aos resultados de possuidores [-animado], os possuidores [+animados] apresentaram percentuais baixos, apenas 10%, juntamente com um peso relativo de .47, que demonstra o favorecimento de uso da forma dele. A oposição entre os dois tipos de possuidores (quanto à animacidade) revela a influência do fator para a variação, mostrando que o traço de animacidade ligado ao possuidor influencia na realização final do uso dos possessivos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, estudamos as formas variáveis seu/dele e seus condicionadores internos e externos à língua. O primeiro ponto observado é que os fatores ditos sociais não tiveram nenhuma influência no condicionamento do uso dos pronomes possessivos de terceira pessoa. Assim, fatores pré-selecionados, como sexo, idade e escolaridade, foram desconsiderados da análise final. A desconsideração de um fator como a escolaridade, nesta análise, por exemplo, mostra que o uso dos pronomes seu/dele afasta-se de percepções ligadas a prestígio ou estigma que geralmente aumentam com o aumento da escolaridade. O grupo de fatores sexo do falante também se mostrou irrelevante para a variação do uso dos possessivos de terceira pessoa, pois ambas as possibilidades seu/dele são utilizadas pelos dois sexos, o que pode significar estabilidade das variantes aqui estudadas.

            Em nosso resultado geral da análise, obtivemos, em um universo de 333 dados, 88% de uso da forma dele, contra apenas 12% da forma seu, o que confirma o fato de os falantes estarem se encaminhando para a polarização do uso da primeira forma, em detrimento da segunda. Quanto aos condicionadores, os resultados probabilísticos mostraram que sintagmas do tipo genérico e marcados com traços [-animado] são contextos que ainda propiciam vestígios do pronome seu, enquanto o uso do dele não se restringe a tipos de contextos, em específico, o que aponta para uma especialização da forma seu e um uso mais alargado da forma dele.

            Este trabalho faz parte de um Projeto maior de Arduin, que visa descrever a variação no uso dos pronomes possessivos de segunda e de terceira pessoa no português falado no Sul do Brasil, com o objetivo de contribuir para a descrição do português falado na região sul e suscitar questionamentos a respeito do ensino de língua nas escolas. Mesmo que a escola já tenha introduzido a forma dele como pronome de terceira pessoa, falha ao impor o mesmo paradigma pronominal usado no modelo de língua vigente nos séculos passados, sem discutir a reorganização do sistema pronominal que contribuiu para as mudanças descritas.

 

REFERÊNCIAS

 

ABRAÇADO, Jussara. O possessivo seu – diferentes tipos de ambigüidade e de posse. Gagroatá. Niterói, n. 9, p. 193-203, 2. Sem, 2000.  

LABOV, William.  Sociolinguistic Patterns. Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 1972.

LOREGIAN, Loremi. Concordância verbal com o pronome tu na fala do sul do Brasil. 1996. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.1996.

MATTOSO CÂMARA JR., Joaquim. História e estrutura da língua portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Padrão, 1979.

MENON, Odete Pereira da Silva. Reestruturação do sistema possessivo em português. Anais do VIII Seminário do Centro de Estudos lingüísticos e literários do Paraná. Umuarama, PR, UNIPAR/FAFID, P.334-338, 1994.

MENON, Odete Pereira da Silva. O sistema pronominal do português do Brasil. Revista Letras. Curitiba, v.44, p.91-106, 1995.

MENON, Odete Pereira da Silva. Clíticos e possessivos em Curitiba: implicações para o ensino. Anais do II Simpósio Nac. do GT de Sociolingüística da ANPOLL. Rio de Janeiro: UFRJ, p.101-116, 1996.

MENON, Odete Pereira da Silva. Pronome de Segunda pessoa no Sul do Brasil: tu/ você/ o senhor em Vinhas da Ira. Letras de Hoje, Porto Alegre, v.35, n.1, p. 121-163, mar, 2000.

PERINI, Mário Alberto. O surgimento do sistema possessivo do Português Coloquial: uma interpretação funcional. D.E.L.T.A. v.1, n.1 e 2, p.1-16, 1985.

PINTZUK, S. VARBRUL Programs, 1988. (mimeo)

RAMOS, Myriam Pereira Botelho. Formas de tratamento no falar de Florianópolis. Dissertação de mestrado. Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina, 1989.

OLIVEIRA E SILVA, Giselle Machline de. Um caso de definitude. Organon, Porto Alegre, 18 : 90-108, 1991.

OLIVEIRA E SILVA, Giselle Machline de. Variação no sistema possessivo da terceira pessoa. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 78/79 : 54-72, 1984.

OLIVEIRA E SILVA, Giselle Machline de. Estertores da forma seu na língua oral. In: OLIVEIRA E SILVA, Giselle Machline de.; SCHERRE, Maria Marta Pereira. (org). Padrões sociolingüísticos. 2.ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, p. 171-181, 1998.

OLIVEIRA E SILVA, Giselle Machline de. Estertores da forma seu na língua oral: resultados sociais. In: OLIVEIRA E SILVA, Giselle Machline de.; SCHERRE, Maria Marta Pereira. (org). Padrões sociolingüísticos. 2.ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, p. 297-307, 1998.


[1] os dados referentes ao  grupo definido referencial de tamanho ilimitado foi amalgamado ao grupo definido referencial de tamanho limitado devido ao número reduzido de ocorrências.